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SANTOS DE ANTIGAMENTE
Casa Amarela (Faculdade de Direito), em 1959
Sua cor definiu o apelido, e os grandes debates jurídicos ali travados entre expoentes do Direito no Brasil garantiram a sua fama, até ser demolida nos anos finais do século XX para a ampliação da Faculdade Católica de Direito de Santos, cujo prédio havia sido construído no terreno ao lado, na Avenida Conselheiro Nébias. A foto é de 1959, e foi publicada na revista especial comemorativa dos 80 anos de criação da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio (SHEC), editada naquele ano:

A Casa Amarela foi enfocada pelo escritor Nelson Salasar Marques em dois capítulos do primeiro volume de sua obra Imagens de um Mundo Submerso (Editora Universitária Leopoldianum, Santos/SP, 1995):

"Foi a bordo do bonde 4 que eu tive pela primeira vez uma visão consciente da Faculdade de Direito de Santos. Era uma cálida noite de verão, lembro-me bem desse detalhe, e todas as luzes estavam acesas. Gente entrando aos magotes, um alvoroço danado. Aquela visão me perturbou e eu desci do bonde no próximo ponto e voltei. Era um sobradão imponente e à entrada víamos uma série de colunas amarelas de forma arredondada que lhe dava um aspecto de arcada... um corredor levava a uma enorme sala onde se esticava, de ponta a ponta, enorme mesa de caviúna. Havia uma escadinha interna de madeira trabalhada que levava ao auditório.

Subi. Lá dentro falava Agripino Griecco. Agripino era figura impressionante em seus mais de setenta anos de idade, com toda aquela erudição e o seu ar de deboche e bom humor. O auditório da faculdade veio abaixo em risos naquela noite, com as suas tiradas de espírito. seria ali por volta de 57 ou 58. Saí dali deslumbrado. Eu havia penetrado, por puro acidente, naquele ambiente acadêmico febricitante de idéias e debates.

(...) Voltei muitas noites àquele auditório e, na trajetória de minha vida, a Casa Amarela, como era conhecida a Faculdade Católica de Direito de Santos, foi ponto de referência, torre alta na planura vasta da existência. Por ali passaram, na década de 50 e meados de 60, as grandes figuras do pensamento brasileiro: juristas, filósofos, escritores e políticos, mas políticos de nível intelectual elevadíssimo.

Ali, por entre atemorizado e emocionado, eu vi desfilar os super-homens da inteligência brasileira do meu tempo. Agripino Griecco, Peregrino Junior - então presidente da Academia Brasileira de Letras - Pedro Calmon, os udenistas Carlos Lacerda, Alberto Deodato, Adauto Lúcio de Cardoso, Aliomar Baleeiro, Corbusier, economista famoso das esquerdas brasileiras e presidente do ISEB e gente de cujo nome não mais me lembro, mas suas vozes ficaram dentro de mim com ressonâncias profundas. E muitos de nós entrávamos com ardor nos debates e eu conversava com todos eles depois das palestras.

(...) Logo, era normal que naqueles primeiros contatos acadêmicos eu procurasse me acercar dos jovens de talento e de conteúdo. Ainda me recordo de alguns e seus nomes flutuam em meu espírito e acorrem prontamente ao chamado que lhes faço. Luís Corvo, Clotilde Paul, Benedito Luz e Silva, o França, Alfredo Nagib, voz de barítono, um dos nomes mais famosos da radiofonia brasileira e apresentador, do Grande Jornal Falado Tupy, das Emissoras Associadas de São Paulo, Delza Curvelo, Izabela do Amaral Gama. Era estimulante conversar com aquela gente toda, em sua maioria brilhando hoje em São Paulo no campo da jurisprudência.

(...) tenho lembranças memoráveis desses encontros. Muitos deles se davam no ponto do bonde 4, àquela época a única condução dos professores. Eles estavam lá, de pé, esperando pelo bonde e nós nos achegávamos, em pequenos grupos, dois ou três, e íamos apalpando o terreno, com alguma timidez, a princípio. Muitas vezes as conversas viravam debates e nos engolfava a todos e os professores chegavam a perder o bonde, tão engajados estavam no ardor da conversa. Desses debates a céu aberto, os participantes mais comuns eram Nicanor Ortiz, Archimedes Bava, Antonio Feliciano, Amazonas Duarte e Amaral Gama. (...)"

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