Da Reportagem

Depois de 29 anos, novamente uma linha de bonde começa a circular na Cidade. A emoção da primeira volta inaugural do bonde turístico, ontem, às 16 horas, tomou conta de centenas de pessoas que lotaram a Praça Mauá. Quando o veículo chegou à sua primeira estação, as lágrimas vieram aos olhos de muitos senhores e senhoras que viveram no auge da economia santista, quando o transporte elétrico era um símbolo da hegemonia da era cafeeira.

  O bonde turístico foi apresentado oficialmente ao público com um grupo de atores caracterizados com roupas da década de 30. O projeto de revitalização do Centro ganhou força esta semana com algumas inaugurações. Além do bonde, que circulará gratuitamente durante todo o dia de hoje, foi aberta ao público na última quinta-feira a cafeteria da Bolsa do Café.

  A festa de ontem trouxe para o Centro uma multidão que se espalhou pela Praça Mauá. Tamanho o interesse do público em estrear o bondinho, ele funcionou ininterruptamente até às 21 horas. Os passageiros fizeram o passeio completo que vai desde a Praça Mauá, Rua do Comércio, Largo Marquês de Monte Alegre (Santuário do Valongo), Rua Tuiuti, Praça Barão do Rio Branco até a Rua Cidade de Toledo, em frente ao prédio dos Correios.

  O historiador Waldemar Correa Stiel, especialista em história do transporte, veio à Cidade especialmente para a inauguração do bonde. Ele lamentou que o transporte elétrico tenha sido extinto na Cidade em 1971 enquanto em cidades européias os bondes sobreviveram à modernidade e continuam servindo à população. ‘‘Eu considero um milagre o bonde voltar a circular em Santos’’.

  O secretário-executivo da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ayrton Camargo e Silva, lembra que em Londres, na Inglaterra, os bondes estão voltando a circular como meio de transporte coletivo numa linha com 28 quilômetros. Em Lisboa, Portugal, e em Paris, na França, o transporte elétrico também ganhou força.

  Paradas — O Vovô Sabe Tudo, José Soares Fontes, antigo motorneiro da época dos bondes, estava muito emocionado. Ele é um dos três motorneiros e condutores que viajarão na linha turística contando histórias do tempo em que se podia andar por toda a Cidade em bondes como esse que foi restaurado. ‘‘Os passageiros eram nossos amigos. Nós sabíamos o horário de cada um deles’’.

  A inauguração de ontem foi conduzida pelo secretário de Esporte e Turismo, Luiz Dias Guimarães. Para ele, o bonde é o resgate da identidade dos santistas. ‘‘Ele representa o elo da nossa história. É um pedaço de Santos que ressurge’’.

  As paradas do bonde serão feitas em quatro estações: a Inglesinha (no Valongo), a Casa Rosa (Bolsa do Café), a Barão (Praça Barão do Rio Branco) e a Buck Jones (na Praça Mauá). Esta última é uma homenagem ao corretor de café Álvaro Vieira da Cunha, que na década de 70 lutou intensamente para evitar a extinção dos bondes santistas.

  Bênção — Ao lado da primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidariedade, Ylidia Mansur, o frei Rozântimo Antunes abençoou o bonde histórico. Ele aproveitou para dizer que o Centro não está sendo revalorizado apenas com a reforma de ruas e praças, referindo-se ao Santuário do Valongo que com o programa de revitalização está recebendo mais fiéis e turistas.

  Os presidentes das associações Comercial de Santos (ACS) e Centro Vivo, respectivamente, José Moreira da Silva e Eduardo Carvalhaes Filho, receberam simbolicamente uma cópia da chave do bonde que integrará o acervo histórico da ACS.

  Homenagem — O jornalista aposentado de A Tribuna, Áureo de Carvalho, considerado um dos maiores especialistas em transporte público da Cidade, foi homenageado ontem com a entrega de uma placa de prata pelo presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Márcio Lara. Carvalho foi um dos santistas que mais lutaram pelo retorno da linha turística em 1984 que circulou pela orla.

  Ele se disse emocionado com o resgate histórico. O jornalista lamentou apenas que o bonde não possa mais circular por toda Cidade em substituição ao transporte coletivo. ‘‘Agora temos o projeto do VLT (veículos leves sobre trilhos)’’, lembrou, numa referência ao projeto do Governo do Estado de implantar na Baixada Santista uma linha de integração regional formada por modernos veículos elétricos.

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