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Notícias do bonde:

JORNAL DA ORLA, 15 E 16/AGO/2008 (páginas 1, 8 e 9)


Imagem: reprodução parcial da primeira página do Jornal da Orla de 15 e 16/8/2008

Cotidiano

Um museu ambulante no centro de Santos

Texto: Mirian Ribeiro

Fotos: Leandro Amaral, Juliana Barros, Anderson Bianchi e Cândido Gonzalez

Dentro de um mês a cidade ganhará um novo presente: mais um bonde será integrado à pequena frota que faz o circuito histórico e em uma data que homenageia o atrativo mais procurado no centro de Santos: 23 de setembro, o Dia do Bonde. Trata-se do segundo bonde português, originário da cidade do Porto, que há seis meses passa por restauro nas oficinas da CET de Santos. Os trabalhos estão quase concluídos e já é possível admirar a obra de arte em que se transformou o antigo veículo, que chegou a Santos quase na carcaça.

Ele se juntará aos outros três que servem à linha turística: dois escoceses dos tempos da City - um aberto e o outro fechado, de 1909 e 1911 -, e um português, além de um reboque. A idéia é aos poucos ir consolidando o Museu Vivo do Bonde, com modelos de diferentes países.

Nas oficinas da CET há mais um português (praticamente na carcaça) e um de origem americana, o Gilda, que no passado pertenceu à CMTC de São Paulo. São aguardados outros dois italianos, doados pela cidade de Turim - são veículos das décadas de 30 e 40, sendo que um deles é um bonde-restaurante - e um bonde, de origem ainda desconhecida, oferecido pela cidade paulista de Votorantim.


Foto publicada com a matéria

"Hoje mantemos um veículo por vez na linha, para cumprir um trajeto de 1,7 km em 15 minutos. Quando a expansão for completada, vão circular três bondes ao mesmo tempo. A linha de 5 km será percorrida em uma hora, com paradas em pontos históricos como o Monte Serrat, a Catedral, o Coliseu, o Valongo. O passageiro desce, faz a visita e toma outro bonde", conta Rogério Crantschaninov, presidente da CET de Santos.

Segundo ele, está nos planos a expansão da garagem do bonde ao lado da Guarda Municipal, no Valongo, para receber os novos veículos e servir como ponto fixo do museu.


Foto publicada com a matéria

Rogério atribui ao bonde, que voltou a circular em Santos no ano 2000, grande parte do sucesso da revitalização do Centro Histórico como atração turística. "Virou ícone do Centro Histórico, as pessoas se emocionam. Antes, apesar da riqueza histórica e arquitetônica da região central, o turismo ficava mais restrito à orla. Agora, o visitante tem a possibilidade de, a bordo do bonde, chegar bem próximo das atrações e ouvir as explicações dos monitores".

Para aumentar o realismo, idosos que trabalharam como motorneiros ou condutores organizam o embarque dos passageiros e contam histórias e curiosidades da época em que o veículo era o principal meio de transporte santista. O serviço foi paralisado em fevereiro de 1971.


Segundo bonde português, da cidade do Porto. Foto: divulgação/CET, publicada com a matéria

Trabalho de mestres nas oficinas de restauro

Está em Santos a única equipe da América do Sul especializada em construir bondes. São mecânicos, eletricistas, carpinteiros, pintores, que deixaram suas funções normais na empresa para se transformarem em verdadeiros mestres em seus ofícios. Para restaurar veículos tão antigos é preciso, inicialmente, um minucioso trabalho de pesquisa, orientando-se pelos indícios encontrados na pouca literatura a respeito. Eles também se valem de cópias de peças e até informações verbais de pessoas que testemunharam a época dos bondes.

"Procura-se manter a originalidade. Se não der para recuperar, é analisada a  possibilidade de adaptação, mas há peças que precisam ser fabricadas", explica o presidente da CET. O custo do trabalho depende de cada veículo. "No caso dos três bondes portugueses houve um processo de canibalização. Fomos tirando de um para colocar no outro. No último, que ainda não foi mexido, teremos que fazer novas peças".


Foto publicada com a matéria

No segundo bonde português resta concluir os serviços elétricos e mecânicos. A dificuldade maior, segundo o técnico em eletrotécnica Luiz Armando de Souza Araújo, 37 anos, foi com o sistema de alimentação de energia. "Tivemos que converter a tensão alternada para contínua e achar a resistência ideal, já que a concessionária fornece 900 volts e o motor de tração funciona a 600 volts". Luiz teve que recorrer a muitas consultas, pois os bondes chegaram sem nenhuma instrução, "além do que, quando eu nasci, nem bonde tinha mais".

O marceneiro Antonio Carlos do Prado Rocha, 51, e o encarregado de manutenção José Luis Alvarenga, 47, não podem dizer o mesmo. Eles chegaram a andar de bonde quando crianças e se dizem gratificados por pertencerem à equipe de restauração. "Para mim isso não é um trabalho, de tão prazeroso. Cada bonde é um desafio, sempre uma novidade", diz Antonio Carlos.

A estrutura do bonde português, em madeira nobre, foi inteira substituída e algumas peças cromadas foram fabricadas especialmente para o veículo com base no modelo original. Já as janelas, assoalho, forro e acabamentos em geral foram todos confeccionados pelos 'artistas da madeira' na carpintaria da empresa.

Quando terminarem a obra, novos desafios os aguardam: o restauro do terceiro bonde português e do americano Gilda, com estrutura de placas galvanizadas, portas sanfonadas e bancos revestidos de palha branca que se movem, pois os veículo se movimentam dos dois lados. Dentro, ainda se mantém intacta a placa de alerta ao condutor: "Motorneiro cuidadoso não conversa em serviço".


Foto: Leandro Amaral, publicada com a matéria

Dia do bonde

A data será comemorada este ano pela primeira vez e marca o dia em que o bonde voltou a circular na cidade, no ano 2000. Foi o bonde que inspirou, em concurso nacional, a criação escolhida oficialmente como 'Marca Institucional de Turismo em Santos', representada por um bonde estilizado, e que divulga a cidade em todos os materiais turísticos no Brasil e no exterior.

No novo traçado de 5 km, a linha turística  passará a contar com 40 pontos de interesse turístico, histórico e cultural, como a Estação do Valongo, a Casa de Frontaria  Azulejada, o Outeiro de Santa Catarina, o Teatro Coliseu e o Pantheon dos Andradas. Haverá paradas para embarque e desembarque nos principais pontos.

Hoje o passeio pode ser feito de terça-feira a domingo, também nos feriados e pontos facultativos, das 11h às 17h. Todo trajeto é acompanhado por um guia bilíngüe O bilhete custa R$ 1,00, sendo gratuito para menores de cinco anos e maiores de 60. O ponto de embarque é na praça Mauá, em frente ao Paço Municipal.


Foto: Leandro Amaral, publicada com a matéria

Achados históricos

Em apenas três meses de trabalho de instalação dos novos trilhos já foram descobertos três sítios arqueológicos As escavações revelaram a primeira cadeia de Santos e um pelourinho, da época da fundação da vila, em 1546; a segunda sede da Igreja Nossa Senhora da Misericórdia, de 1652; e o Cemitério da Igreja do Rosário dos Homens Pretos, de 1800.

Foram encontradas mais de 2 mil peças que ajudam a recompor a arquitetura e os costumes de então, como louças, azulejos, alvenarias e até uma ferradura. Os trabalhos são acompanhados pelo arqueólogo Manoel Gonzalez, integrante do Cerpa (Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas), e pelo historiador Waldir Ruedas.


Foto: Cândido Gonzalez, publicada com a matéria