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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Serpa Pinto

1915-1955 - antes Ebro, depois Princesa Olga

A Companhia Colonial de Navegação (CCN) foi, de todos os tempos mais recentes, a maior empresa de navegação portuguesa. Criada em 1922, como concorrente de outra empresa lusitana, a Companhia Nacional de Navegação (CNN), tinha a CCN a incumbência de fazer a ligação histórica entre a pátria-mãe Portugal e suas colônias então espalhadas pela África.

Naquele mesmo ano, a CCN abriu seu primeiro serviço entre Lisboa e Luanda (Angola) via São Vicente (Cabo Verde) e a Guiné Portuguesa. Mais tarde, a partir de 1930, seus navios prosseguiriam de Luanda, através das águas do Cabo da Boa Esperança, até os portos de Moçambique, também colônia, só que do lado do Oceano Índico.

Foi somente em 1940, com a Europa fervilhando em guerra, e com Portugal como país neutro nesse conflito, que a CCN decidiu abrir uma linha ligando Lisboa ao Brasil.

Naquele ano de 1940, milhares de pessoas procuravam se afastar do continente europeu, onde se espalhavam, cada vez mais, as tristes realidades de um conflito de longa duração e onde Lisboa havia se transformado numa espécie de "saída de emergência", face à qual se comprimiam todos aqueles que procuravam uma passagem marítima, mais ou menos segura, para outros continentes.

Dentro desse estado de coisas, a CCN decidiu aproveitar a demanda de passageiros para aparelhar um antigo transatlântico (o ex-alemão Ypiranga, de 1908), denominado Colonial, para uma primeira viagem entre Lisboa e Santos (via Madeira, São Vicente de Cabo Verde e Rio de Janeiro), transportando quase 2 mil passageiros ansiosos para partir para longe da guerra. Era junho de 1940.


O Serpa Pinto, nas cores da CCN, fez sua primeira viagem para a América do Sul em 1940

Novo navio luso - Essa viagem seria logo seguida por outra em agosto, desta vez realizada pelo Serpa Pinto, da mesma empresa. Entre 1940 e 1945, data do fim do conflito, este transatlântico faria outras dez viagens redondas entre Portugal e Brasil, e algumas outras entre Lisboa e Estados Unidos e Lisboa e África Ocidental.

A primeira viagem do Serpa Pinto sob bandeira portuguesa ocorreu em maio de 1940, com saída de Lisboa e destino a Moçambique, com oito escalas intermediárias, levando a bordo cerca de 260 passageiros.

Com a entrada da Itália na guerra, em junho de 1940, a concorrência havia totalmente desaparecido do Atlântico e a CCN, a CNN e a Ybarra (de Sevilha, Espanha) eram as únicas companhias europeias que ainda transportavam passageiros na Rota de Ouro e Prata.


O estuário de Santos, visto de Vicente de Carvalho, 
com o transatlântico português Serpa Pinto e o britânico Alcantara atracados

Período inglês - O Serpa Pinto havia iniciado sua vida útil com o nome de Ebro da célebre companhia inglesa Royal Mail Steam Packet. Lançado ao mar em setembro de 1914, o Ebro e seu irmão gêmeo Essequibo eram navios de média tonelagem, construídos para servir a linha entre a Inglaterra e as Ilhas Ocidentais Britânicas, no Caribe.

O primeiro realizou uma só viagem nessa rota, em abril de 1915, e, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em agosto de 1914, foi requisitado pelo Almirantado britânico para servir como cruzador-auxiliar-armado, função na qual foi empregado durante quatro anos, servindo diversos teatros operacionais.

O Ebro, tal como quatro outros navios da Royal Mail Lines - o Alcantara, o Andes, o Arlanza e o Almanzora -, foi comissionado como AMC (Cruzador Auxiliar Armado) no 10º Esquadrão de Cruzadores, também conhecido por Força de Cruzadores B, em abril de 1915. Foi armado com oito canhões de seis polegadas e minas antissubmarinos.

Este 10º Esquadrão tinha por missão principal manter as linhas de bloqueio naval no Mar do Norte e foi constituído durante sua existência na guerra por nada menos que 41 ex-navios de passageiros convertidos. A partir de meados de 1917, quando o sistema de comboios foi introduzido pelas nações aliadas, os navios integrantes da Força B foram utilizados como escoltas.

Logo após o término do conflito, retornou a seu proprietário, a Royal Mail, que decidiu, porém, vendê-lo em seguida para a Pacific Steam Navigation Company (PSNC). A mesma sorte aconteceu com o Essequibo, que durante a guerra havia servido como navio-hospital.

Via Panamá - Ambos foram então reformados e recondicionados para transporte de passageiros e colocados pela PSNC na rota Nova Iorque-Chile via portos intermediários e Canal do Panamá.

O Ebro transitou pela primeira vez no Canal do Panamá, em direção Sul, no dia 28 de outubro de 1919, já pintado com as cores da PSNC, ou seja, casco preto, superestrutura branca, chaminé amarela e mastros cor ocre. O Essequibo realizou sua primeira travessia nessa linha em julho do ano seguinte, transitando pela primeira vez no Canal do Panamá no dia 10 daquele mês.

O par permaneceu nessa rota durante dez anos. Em 1930, a depressão mundial que se seguiu ao crash de Wall Street obrigou a PSNC a retirar os dois navios de serviço, tendo o Ebro feito, em 14 de novembro de 1930, a sua última passagem pelo Canal do Panamá em direção a Nova Iorque.

Iugoslavo - Tanto o Ebro como o Essequibo foram então desativados durante cinco anos (no estuário do Rio Avon, na Inglaterra), até que em fevereiro de 1935 o Ebro foi adquirido pelo Lloyd Iugoslavo (Jugoslavenska Lloyd) e rebatizado com o nome de Princesa Olga.

Com esse novo nome e proprietário, o ex-Ebro foi usado na ligação marítima mediterrânea entre os portos de Dubrovnik (Iugoslávia) e Haifa (na época Palestina, depois Israel) em serviço misto, de carga e passageiros, tal como havia sido utilizado pela PSNC.

Pouco antes da invasão dos países balcânicos pelas tropas alemãs, em março de 1940 o Princesa Olga foi vendido à CCN, recebendo o nome de Serpa Pinto.


O cartão postal de João Augusto da Silveira mostra o Serpa Pinto em 1º plano,
o norueguês Sunda e o argentino Rio Jachal

Para o Brasil - Já vimos seu emprego durante o período 1940-1945. No imediato pós-guerra, o Serpa Pinto passou a fazer a carreira regular entre Lisboa e Santos, transportando grande número de emigrantes e escalando em Funchal, São Vicente e Rio de Janeiro.

Em agosto de 1948, ao voltar do Brasil para Portugal, suas velhas máquinas entraram em pane e o navio foi recolhido para reparos até janeiro do ano seguinte.

No início da década de 50, a CCN encomendou dois novos transatlânticos, os famosos Vera Cruz e Santa Maria, que entraram em serviço na Rota de Ouro e Prata respectivamente em 1951 e 1952. Em 1953, o Serpa Pinto foi mudado para fazer a linha entre Lisboa e Havana, realizando, entre agosto de 1953 e junho de 1954, 12 viagens redondas para a América Central com escalas em Vigo, Funchal, Tenerife, La Guaira e Curaçao. No dia 9 de julho de 1954, partiu na sua última viagem entre Lisboa e Santos, retornando a Portugal em 7 de agosto.

Em setembro de 1955, saiu a reboque pela última vez do porto de Lisboa, desta vez vazio e silencioso, com destino ao porto de Antuérpia (Bélgica), onde passaria pelo maçarico implacável dos demolidores de navios.

Durante os quinze anos que servira à CCN, o Serpa Pinto tornara-se um navio altamente popular, sobretudo na Rota de Ouro e Prata, onde transportou milhares e milhares de passageiros que afetuosamente o chamavam de "o navio da amizade".


"O navio Serpa Pinto foi um dos mais conhecidos da colônia portuguesa no Brasil, na rota entre Lisboa e Buenos Aires, com escalas no Rio de Janeiro e em Santos. Tinha 8.267 toneladas e 137,24 metros de comprimento. Foi construído em 1914 em Belfast, na Irlanda, como Ebro, para a armadora inglesa Royal Mail Steam Packet Company. Em 1915, em plena I Guerra Mundial, foi transformado em navio armado. Em 1919 foi convertido em navio de transporte de óleo combustível. Em 1919 e em 1922 pertenceu à frota da PSN, com o mesmo nome, até que em 1935 foi vendido para a Iugoslávia, passando a chamar-se Princesa Olga. Em 1940 foi negociado com a Companhia Colonial de Navegação, que passava a fazer viagens transatlânticas. Foi então rebatizado como Serpa Pinto, em homenagem ao explorador do continente africano Alexandre Alberto da Rocha de Serpa e Pinto, morto em 1900. De 1945 a 1953 fez algumas viagens entre Lisboa e Nova York e entre Lisboa e o Caribe, com escalas na Venezuela e em Cuba. Em 1954 retornou à rota Lisboa-Brasil, onde permaneceu por mais um ano. No dia 6 de setembro de 1955 deixou Lisboa, rebocado, para ser demolido em estaleiro da Bélgica".

Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso: 13/3/2006)

Serpa Pinto:

Outros nomes: Ebro, Princesa Olga
Bandeira: portuguesa
Armador: Companhia Colonial de Navegação
País construtor: Grã-Bretanha
Estaleiro construtor: Workman & Clark (porto: Belfast)
Ano da viagem inaugural: 1915
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 8.267
Comprimento: 137 m
Boca (largura): 17 m
Chaminé: 1
Mastros: 2
Hélices: 2
Velocidade média: 14 nós
Tripulantes: 320
Passageiros: 500
Classes: 1ª - 250
                3ª - 250

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 5/11/1992