Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/rossini/sachsen.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/05/07 21:07:32
Clique na imagem para voltar à página inicial de 'Rota de Ouro e Prata'

ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Sachsen

1922-1943 - depois La Plata

A embarcação navegou durante 21 anos

O término da Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1918, apresentou um balanço paradoxal do conflito marítimo.

De um lado, as atividades bélicas dos submarinos alemães e austríacos haviam provocado o afundamento de 5.708 navios, todas as nacionalidades confundidas, representando cerca de 11 milhões de toneladas de arqueação bruta (tab).

As marinhas mercantes que mais sofreram perdas foram:

1) a britânica, cujas perdas alcançaram 8 milhões de tab (cerca de 2.100 navios);

2) a norueguesa, com 1 milhão de tab;

3) a francesa, com 800 mil tab;

4) a norte-americana, com 500 mil tab;

5) outras nações aliadas, 700 mil tab.

Perdas alemãs - Por outro lado, a Alemanha empregara cerca de 400 submarinos durante a guerra e, deste número, 180 foram perdidos por causas bélicas e 220 chegaram intactos até a data do Armistício, em novembro de 1918.

Sempre se referindo ao Império Alemão, é necessário frisar que sua marinha mercante possuía, antes do início das hostilidades, em agosto de 1914, a segunda maior frota mundial, só sendo superada pela da Grã-Bretanha em tonelagem e em número de navios.

Dois anos mais tarde, em 1916, esses números permaneciam elevados, pois situavam-se em cerca de 600 navios, representando 4 milhões de toneladas de arqueação bruta.

Uma das maiores do mundo - O paradoxo maior consistiu no fato de que, em 1919, antes da repartição de seus ativos marítimos entre as nações vencedoras da grande guerra, a frota mercante alemã representava ainda uma das maiores do mundo, com mais de 500 vapores acima de 1.000 tab.

Com a aplicação das cláusulas de compensação, previstas no Tratado de Versalhes, a partir de julho de 1919, foram apreendidos e vendidos a numerosos armadores cerca de 400 navios oceânicos, ex-alemães.

Destes, 40 eram grandes transatlânticos de passageiros, incluindo os famosos Bismarck e Imperador, que foram vendidos à Grã-Bretanha.

França, Estados Unidos, Itália, Japão e Brasil também se beneficiaram da partilha. Em meados de 1920, a outrora potente marinha mercante germânica havia praticamente desaparecido para sempre e seus antigos navios batiam, desde então, as mais diferentes bandeiras.

O navio, aqui visto em fotografia da coleção do autor, tinha 143 metros de comprimento por 18 de largura e capacidade para 20 passageiros

Foto publicada com a matéria

Hapag - Antes do início da guerra, em 1914, a Hamburg-Amerikanische Paketfakrt Ag (Hapag) possuía uma vasta frota de 175 navios oceânicos de grande ou médio porte, operando em 74 linhas, com escalas em 350 portos do mundo. Além desses, existiam cerca de 250 embarcações diversas, como rebocadores, navios auxiliares e outras.

Terminada a partilha e a venda da frota mercante alemã, em julho de 1920, à Hapag só restava o transatlântico Victoria Luise e ainda assim em péssimo estado.

Naquele mesmo ano, iniciou-se, para a outrora poderosa armadora e a seus novos diretores, a árdua tarefa de reconstrução.

Entre os primeiros passos, foi assinado acordo de tráfego e colaboração com a United American Lines e foram adquiridos os ativos (poucos) da Deutschea Levante Linie, outra armadora alemã.

Não sobrou nenhum - Dos seus navios anteriores à guerra utilizados na Rota de Ouro e Prata não havia sobrado nenhum: 11 haviam sido seqüestrados em 1917 por diferentes governos das Américas e, destes, quatro pelo governo brasileiro: o Salamanca (rebatizado Cabedello), o Hohenstaufen (Cuyaba), o Blüchler (Leopoldina) e o Valesia (Palmares e depois Belmonte).

A partir do início de 1921, a Hapag pode projetar um programa de construção de novas unidades, apesar das enormes dificuldades de todo tipo (escassez de matérias, difícil reorganização dos estaleiros navais alemães, meios financeiros limitados e outras).

Sob as ordens da armadora, o Estaleiro Bremer Vulkan, da localidade de Vegesack, construiu, bem ou mal, uma série de seis vapores de tonelagem elevada (entre 8 mil tab e 9 mil tab), que foram sendo entregues em seqüência a partir do início de 1922.

 

Na Operação Leader, 30 aviões bombardeiros decolaram do porta-aviões

 

O sexteto - Surgiram, assim, pela ordem de lançamento ao mar, o Bayern, o Wurttemberg, o Baden, o Sachsen, o Hessen e o Preussen, dos quais o primeiro possuía a maior tonelagem.

Com pouquíssimas diferenças entre si, esses seis navios podiam ser considerados irmãos gêmeos. Suas principais características técnicas eram:

- Navios mistos (de cargas e passageiros), do tipo three-islands, quatro mastros, chaminé única, alta e centralizada no castelo da superestrutura principal.

- Construídos em aço, com dois decks (conveses), com quatro grandes porões para carga seca (16.500 metros cúbicos) e um para carga refrigerada (1.100 metros cúbicos).

- Único hélice coligado a maquinário de propulsão a vapor de expansão tríplice de três cilindros, desenvolvendo 56 NHP velocidade máxima de 13 nós (24 quilômetros horários).

- Acomodações espartanas para cerca de 700 emigrantes em terceira classe e 20 passageiros em primeira classe (excluindo-se o Sachsen, que só possuía a primeira classe). Tripulação de cerca de 50 marinheiros.

Fadados a desaparecer - Desenhados no imediato período pós-bélico da Primeira Guerra Mundial, este sexteto de navios, com uma única exceção (o Bayern), estava destinado a desaparecer no decurso da Segunda Guerra Mundial.

Todos navegaram na Rota de Ouro e Prata, servindo, seja os portos da costa Leste do Brasil, seja os portos platinos, sobretudo durante a década de 20.

Suas viagens inaugurais, pela ordem citada, aconteceram em setembro de 1934 (na rota do Atlântico Norte), outubro do mesmo ano (idem), maio de 1922 (Atlântico Sul), setembro do mesmo ano (idem), fevereiro de 1923 (Atlântico Norte) e dezembro de 1992 (idem). (N.E.: SIC - 1922?).

Destinos finais - Sempre pela ordem, tiveram os seguintes destinos finais:

Bayern - Desmontado em 1959 após carreira de 48 anos, durante a qual mudou duas vezes de nome e bandeira: Sontay (bandeira francesa, para a armadora Messageries Maritimes) e Sunlock (panamenha).

Wurttemberg - Afundado em 1940 por contratorpedeiros britânicos em Narvik (Noruega), quando era empregado como baleeiro, com o nome de Jan Wellen.

Baden - Afundado pela própria tripulação, ao ser interceptado, em dezembro de 1940, pelo cruzador britânico Berwick.

Sachsen - Encalhado, após bombardeamento aéreo em outubro de 1943, nas proximidades do porto de Bodö (Noruega). Restos recuperados no fim do conflito para demolição e ferro-velho.

Hessen - Afundado após torpedeamento ocorrido em fevereiro de 1943, por obra do submarino russo K-3. Os destroços, recuperados após o término da guerra, foram usados como depósito para a exploração de uma carga de gases venenosos, destinada à destruição.

Preussen - Afundado em julho de 1941 próximo à Ilha de Pantelleria (Mediterrâneo Central) após bombardeio aéreo aliado.

 

Em 1920, a outrora potente frota alemã desaparecera

 

Mais interessante - A carreira do Sachsen foi, sem dúvida, a mais interessante dos seis navios, embora não tivesse sido a mais longa.

Após sua viagem inaugural para o Brasil e o Rio da Prata em setembro de 1922, o Sachsen permaneceu na rota sul-americana por bem 17 anos ininterruptos, 13 sob as cores da Hapag e quatro sob as da Hamburg-Süd, armadora que inicialmente o afretou por um ano e que em seguida o adquiriu, rebatizando-o La Plata em 1937.

Em setembro de 1939, o La Plata encontrava-se no Canal da Mancha, em viagem para o Atlântico Sul, quando foi recebida a notícia da declaração de guerra. O navio foi então conduzido até o porto espanhol de Vigo, onde permaneceu internado até fins de junho do ano seguinte.

Retorno - As vitórias alemãs nas campanhas terrestres da primavera e verão de 1940 permitiram às autoridades navais do III Reich planejar o retorno às águas territoriais de um grande número de navios mercantes refugiados em portos continentais ou insulados da Espanha.

Assim, ao La Plata foi dada autorização para tentar alcançar a costa alemã, via as águas gélidas do Estreito da Dinamarca (entre as ilhas Faroe e a Islândia).

Após longo périplo de navegação, o La Plata finalmente alcançou a costa norueguesa, então em mãos germânicas, no início de dezembro daquele ano.

 

O sexteto de navios estava destinado a acabar

 

De guerra - O La Plata foi subseqüentemente requisitado pela Kriegsmarine (Marinha de Guerra da Alemanha) para servir como navio auxiliar e transporte de tropas e foi nesta qualidade que chegou ao fim, na costa norueguesa.

Como parte da Operação Leader, 30 aviões bombardeiros dos tipos Dauntless e Avenger (este último, munido de torpedos) decolaram em 4 de outubro de 1943, do porta-aviões norte-americano Ranger, protegidos por 12 aviões de caça para atacar dois comboios e vários navios que se encontravam ao largo de Bodö.

Como conseqüência desse ataque, seis vapores foram afundados e outros seis seriamente danificados, a ponto de serem forçados a encalhar na costa para evitar o naufrágio.

Dentre estes últimos, encontrava-se o La Plata, ex-Sachsen, o qual nunca mais voltou a navegar, seus restos sendo subseqüentemente recuperados como ferro-velho.

Sachsen:

Outros nomes: La Plata
Bandeira: alemã
Armador: Hapag
País construtor: Alemanha
Estaleiro construtor: Bremer Vulkan

Porto de construção: Vegesack
Ano da viagem inaugural: 1922
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 8.109 t
Comprimento: 143 m
Boca (largura): 18 m
Velocidade média: 12 nós (22,2 km/h)
Passageiros: 20
Classes: 1ª - 20

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 17/11/1996