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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/02/04 00:31:20
Edição 131 - Mai/2004

Santos se torna a Terra da Melhor Idade

Qualidade de vida é um dos principais atrativos

Carlos Pimentel Mendes (*)

Santos ostenta, entre outros títulos, o de cidade mais esportiva do mundo e o de cidade-dormitório, além de ser uma das cidades brasileiras com melhores índices de qualidade de vida. Fatores assim vêm definindo as condições para que aos poucos Santos vá se transformando também na  "Melhor (C)idade", ou "Cidade da Melhor Idade".

Numa época em que os idosos começam a descobrir que aposentadoria não significa fim de carreira, muito pelo contrário - e vão à universidade, e iniciam novas atividades, e aprendem computação, e começam a realizar turismo ecológico, por exemplo -, suas atenções se voltam para uma cidade quase toda plana (e portanto fácil de percorrer), com praias ajardinadas (ótimas para um final de tarde), muitas atividades esportivas (para manter a forma) e de lazer, bom clima, além de inúmeros serviços e confortos nem sempre existentes em outras cidades. 

É Santos, que em tempos recentes era chamada de cidade-dormitório, pois muita gente reside junto à praia e se desloca diariamente à capital paulista para trabalhar ou estudar. Gente que prefere fazer essas viagens diárias serra acima e serra abaixo a enfrentar o enfumaçado trânsito paulistano. Gente que, ao se aposentar, continua residindo na planície e indo à capital apenas quando precisa de algum serviço ou produto específico não encontrado na região. 

Dadas as explicações para esse comportamento, vejamos as causas e como ele se reflete sobre a própria cidade. Nas estatísticas, encontramos os primeiros indícios: a média de idosos em Santos (14,5% da população tem pelo menos 60 anos de idade) já é substancialmente superior à do resto de São Paulo (6%). Desses idosos de Santos, 80% têm renda superior a 1,5 salário mínimo.

República Bem Viver (E) e Espaço Meninas (abrigo de adolescentes grávidas com apoio de idosos)
Fotogramas: TV Cultura/SP - Programa Caminhos & Parcerias - Idosos

Causas – A princípio, parecia que, apenas por falta de melhores oportunidades locais de trabalho, os jovens deixavam a Cidade, que ficava assim entregue aos cidadãos já radicados e geralmente com mais idade. Causa ou efeito, isso fez com que, aos poucos, a cidade fosse se amoldando a esse cada vez mais numeroso grupo de munícipes: guias rebaixadas, gratuidade e facilidade de acesso nos transportes urbanos (lei 115 de 25/2/94, alterando legislação anterior), desenvolvimento de serviços voltados às faixas etárias mais elevadas. 

Com exemplos assim, em algum momento da década de 90, essa tendência começou a aflorar no surgimento de atividades específicas para a Terceira Idade, até mesmo uma universidade especial - a Universidade da Terceira Idade, iniciativa da Universidade Católica de Santos (Unisantos).

O antigo Asylo dos Invalidos se reciclou, mudou para um lugar melhor e agora completa seu centenário, com a nova denominação de Casa do Sol. Ali não há um "depósito de velhos", como ainda são encontrados em outras cidades, mas um grupo de pessoas com atividades apropriadas e monitoradas, com todo o acompanhamento necessário de geriatras e especialistas em enfermagem, nutrição, fisioterapia, lazer etc.

Foi em Santos que surgiu uma experiência pioneira: a República Bem Viver, criada em 1996 pela Secretaria de Ação Comunitária da prefeitura santista, em parceria com a Cohab. O projeto adaptou para a Terceira Idade o tradicional estilo de vida dos estudantes de poucos recursos, criando habitações comunitárias para pessoas com renda a partir de um salário mínimo e idade a partir dos 60 anos.

Na virada do século, novos projetos avançaram nessa direção, como o Vovô Sabe-Tudo: criado pela lei 1663 de 11/3/1998, tem por fim a valorização do idoso, permitindo que pessoas de baixa renda nessa faixa etária sejam contratadas pela Municipalidade para transmitir sua experiência aos adolescentes, atuando como contadores de histórias, artesãos e até como guias turísticos e motorneiros/cobradores de bonde).

E os projetos vão ficando mais ousados: o mais recente (iniciado em 2004) é o de inclusão digital para a Terceira Idade, que proporciona aulas de informática específicas para os mais idosos, além de acesso gratuito à Internet.

Na página Web de um programa de televisão, um exemplo do que vem acontecendo em Santos
Imagens: TV Cultura/SP - Programa Caminhos & Parcerias - Idosos

Efeitos –  Os especialistas em análise de consumo já advertiram há mais de uma década: com os avanços médicos e sanitários que permitem cada vez a mais pessoas uma vida mais longa e saudável, está se criando um grupo de consumidores já livres dos encargos de formação do patrimônio familiar e da criação dos filhos, e portanto com mais tempo e dinheiro livres para investirem em si mesmos. Pessoas com disposição para viajar, participar de atividades artísticas (ou ao menos assisti-las), complementar estudos... - enfim, fazer tudo o que não tiveram oportunidade de fazer nas primeiras décadas de sua vida.

São pessoas exigentes, que querem qualidade, atenção, variedade. Sabem escolher e sabem o que querem. Mas também precisam de serviços formatados para elas e suas necessidades - facilidades para locomoção e acesso, nível de esforços (visual, auditivo, de movimentação) adequado à sua idade, facilidades médicas e de emergência sempre à disposição.

Santos reúne diversas facilidades assim: tem clima geralmente ameno, a locomoção é facilitada por ser uma cidade de planície quase absoluta, já tem a tradição de ser uma cidade com abundante oferta de serviços. Nos últimos anos, um bonde circulando por um centro histórico revitalizado é um atrativo para todas as idades, mas principalmente para aqueles que, na melhor idade, querem recordar cenas de sua infância. 

Enquanto isso, outro grupo de idosos, que busca atividades físicas e de lazer, surpreende cada vez mais com sua vitalidade os organizadores de eventos originalmente destinados a pessoas mais novas: muitas vezes, num evento esportivo para jovens, pode-se descobrir que mais da metade dos participantes tem (muito) mais de 60 anos de idade. Para eles, a festa não é só no dia 28 de setembro (pela lei 1.857 de 6/4/2000, é o "Dia Municipal do Idoso"), mas todos os dias do ano.

(*) Carlos Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo Milênio.


Uma das páginas Web da Universidade da Terceira Idade

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