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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/30/02 09:45:18
Edição 111 - AGO/2002 

Especial: Água

Resposta da Sabesp gera novas questões

Empresa não respondeu justamente a questão principal: o reservatório

Carlos Pimentel Mendes (*)

A resposta da Sabesp suscita mais dúvidas do que certezas. Por exemplo, soma as produções de todos os sistemas que compõem sua Unidade de Negócio da Baixada Santista, deixando para o entendimento nas entrelinhas o detalhe de que não é plena a integração dos sistemas, já que Guarujá e Bertioga têm sistemas isolados, por questões geográficas. Assim, a soma das produções significa menos do que parece, pois não se deve esperar que eventual sobra de água em Bertioga seja transferida para o abastecimento de Santos.

A Sabesp comenta bastante as obras de captação no Sistema Sul, que permitirão dobrar a produção de água para Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe. Cabe perguntar qual a capacidade de intercâmbio entre as redes Sul e Centro, para que a água produzida em Itanhaém beneficie, se necessário, os consumidores da ilha de São Vicente, mesmo que seja pelo efeito inverso da redução da necessidade de se transferir água do Sistema Centro para o Sistema Sul.

De qualquer forma, restou sem resposta justamente a questão central feita à empresa: o que está sendo feito para complementar a capacidade do túnel-reservatório sob os morros Santa Terezinha/Voturuá - planejada para equilibrar oferta e demanda apenas até 2006?

Quanto aos investimentos, leitura atenta mostra que estão sendo ou serão feitos na captação de água e seu tratamento, e na coleta/sistema de esgotos, e/ou no tratamento ambiental. Nenhuma linha sobre ampliação da capacidade de reservação.
Isso quer dizer que, a partir de 2006, a garantia de oito horas de abastecimento (calculadas pelo dia de maior consumo) começará a baixar. Na prática, se um acidente na Serra do Mar obrigar à interrupção das atividades da ETA em Cubatão, será cada vez menor o período em que os reservatórios conseguirão manter normal  o abastecimento da rede de distribuição domiciliar.

Informações da época de sua construção indicavam que o custo para a construção de um reservatório de água comum ficava em US$ 160 a 200 por metro cúbico. Ou seja, para um reservatório comum de 110 mil metros cúbicos, seria preciso investir uns US$ 22 milhões. O reservatório-túnel, escavado no morro, custou metade desse valor, por ser mínima a necessidade de desapropriações e a própria rocha facilitar a obra. A Sabesp não fala sequer em obras planejadas para um novo reservatório, que será mais difícil de construir, com a falta de locais disponíveis.

O jogo de números que acena com investimentos até de um banco japonês esconde nas entrelinhas que são investimentos em recuperação ambiental na questão dos esgotos, ampliações na captação nos subsistemas Norte e Sul e na estação de tratamento em Cubatão. Não é dito nada sobre justamente o que foi perguntado: a ampliação da capacidade de reservação de água para a ilha de São Vicente.

A imprecisão dos números fornecidos impede melhor análise sobre os parâmetros com que a Sabesp trabalha atualmente, especialmente em termos de planejamento. Nota-se razoavelmente bem nas torneiras que a Sabesp vem atendendo a demanda atual de água na Baixada Santista, mas, com o aumento da população fixa e flutuante (turistas) nos próximos anos, até quando esse nível de qualidade pode ser mantido?

Para ficar claro o problema, imagine um prédio com suas caixas d'água. Aumenta cada vez mais o número de moradores, no alto verão (época de maior consumo) o prédio recebe ainda todos os parentes desses moradores. Aumenta um pouco o fornecimento de água, mas não a capacidade dos reservatórios desse prédio. Fica claro que, se ocorrer um corte no fornecimento de água a esse prédio, por qualquer motivo, as caixas d'água de reserva serão esvaziadas mais rapidamente, já que é bem maior o número de consumidores. Pois é, a caixa d'água da Baixada Santista já precisa de uma boa ampliação. Se ela não estiver concluída a tempo, será necessário que cada apartamento desse prédio-exemplo os moradores deixem alguns galões de água como reserva...

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio.

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