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HISTÓRIAS E LENDAS DE PRAIA GRANDE
Uma história antes da História (2)

Fósseis de baleia têm cerca de 700 anos
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Descobertos em 1981, os ossos de baleia com sete séculos de existência foram motivo de protestos em 2006 por seu abandono, nas instalações de um terminal turístico também abandonado, como registrou o jornal santista A Tribuna em 2 de julho de 2006, nas edições impressa e eletrônica:
 
Domingo, 2 de Julho de 2006, 07:04
Terminal pode virar parque ou Sesc

Pedro Cunha
Da Sucursal

Tratado como um elefante branco desde a inauguração, em 29 de dezembro de 1992, o Terminal Turístico do Balneário Paquetá, em Praia Grande, poderá finalmente ganhar uma utilidade. Com uma área de 42 mil metros quadrados (equivalente a quatro campos de futebol), na Avenida Castelo Branco, portanto de frente para o mar, o imóvel pode abrigar um parque aquático ou uma unidade do Sesc. Os dois projetos estão em análise na Prefeitura, embora o prefeito Alberto Mourão prefira não detalhar as duas propostas.

O abandono do terminal voltou à tona na sessão da Câmara da última quarta-feira, última antes do recesso parlamentar e que também serviu de despedida para o ex-prefeito Dorivaldo Loria Júnior, o Dozinho, que vinha ocupando a cadeira do vereador Marco Antônio de Sousa, o Marquinho (PTB), como suplente.

Lamentando a falta de uso e conservação do equipamento desde sua inauguração, Dozinho afirmou que o responsável por este título de elefante branco é o atual prefeito, Alberto Mourão, que assumiu a Administração Municipal em 1993 e não soube "adestrar bem esse elefante". Segundo Dozinho, "entregamos o local pronto para funcionamento imediato. Além de não aproveitarem a estrutura, permitiram que o terminal fosse invadido e saqueado, chegando a ser utilizado como depósito de sucata".

Emocionado com a despedida, Dozinho não permaneceu a tempo de ouvir o apoio à cobrança por parte de outros parlamentares. Heitor Orlando Sanchez Toschi, o Totô (PSDB), concordou com a necessidade urgente de se dar um fim ao lugar, tendo em vista que "a indústria que mais gera empregos hoje é a do turismo".

Outro parlamentar que abordou com ênfase a questão foi Katsu Yonamine (PSDB), que recordou um projeto desenvolvido pela Prefeitura para implantação de um parque aquático, e "se isso não foi feito é porque não houve interesse da iniciativa privada".

Baixa renda - Na sessão, Dozinho apresentou um documento mostrando o estado de abandono do terminal. O ex-prefeito citou trechos do livro Lazer e Cultura Popular, editado na França, em 1973, onde Joffre Dumazedier destaca que as férias tendem a se transformar em um fenômeno de massa.

Também destacou o livro Teoria Y Técnica del Turismo, publicado em Madri, na Espanha, em 1967, no qual Luiz Fernandez Fuster afirma que "o muito gasto de uns poucos do turismo de luxo se vê reduzido a nada diante das cifras fabulosas do turismo originado pelo pouco gasto dos muitos da classe média".

Somado a isso, ele recordou que estudos realizados pela extinta Superintendência de Desenvolvimento do Litoral Paulista (Sudelpa) indicavam, na época da inauguração, que, dos excursionistas que procuravam Praia Grande, os solteiros eram a maioria (68,29%), com renda própria (91%), predominantemente de origem urbana (57,27% da Capital).

Desse total, 60,01% moravam em casas próprias. "Mas, em vez de se organizar a recepção para esses visitantes de um dia, o que seria viabilizado pelo terminal turístico, preferiu-se proibir sua vinda", lamentou o ex-prefeito.

Ele lembrou que o terminal foi entregue com cinco mil metros quadrados de área construída, compreendendo um mini-shopping com 16 lojas, balneário com todas as condições de higiene, livraria, restaurante, lanchonete, ambulatório médico, posto policial, estacionamento e banheiros com chuveiro.

Domingo, 2 de Julho de 2006, 07:05
Local abriga entulho e ossada de baleia

Da Sucursal

Atrás de um balcão que serviria para recepcionar o visitante de um dia, uma montoeira de peças empoeiradas chama a atenção. Os elementos nada mais são do que partes de uma ossada de baleia. Apesar da estrutura de concreto ainda aparentar boa condição, atualmente serve apenas como depósito de quinquilharias como lixeiras novas e caçambas enferrujadas.

É impossível caminhar pelo terminal sem lamentar a falta de uso do local. Mesmo com a ação de vândalos, que levaram todos os batentes de madeira e metal, os amplos banheiros, com dezenas de boxes e longos bebedouros, ainda impressionam.

Em uma pequena sala, que guardava um transformador de energia, há um amontoado de banners e faixas de plástico. As salas que seriam utilizadas para turistas se trocarem, alimentarem-se ou guardarem bagagem, agora jazem sob uma penumbra.

A caixa d'água funciona como criadouro de insetos. Em volta, peças de concreto de uma empreiteira que alugou o espaço se espalham em meio ao mato.

O mesmo jornal A Tribuna voltou ao tema na edição de 9 de julho de 2006:


Ossos de baleia azul que ainda restam estão amontoados no Terminal Turístico do Paquetá; alguns já foram pichados por vândalos
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria

Domingo, 9 de Julho de 2006, 08:03
PALEONTOLOGIA
Ossada de 700 anos se desintegra em galpão

Desenterrados em 81, fósseis de baleia estão abandonados atrás de um balcão

Pedro Cunha
Da Sucursal

Um registro único da história paleontológica de Praia Grande, dia após dia, se desintegra literalmente atrás de um balcão do imóvel construído para abrigar o Terminal Turístico do Balneário Paquetá. Tão abandonada quanto a edificação, uma ossada de baleia azul, de aproximadamente 700 anos — do período Holoceno —, desenterrada na década de 1980 em meio a um grande alvoroço criado por leigos e especialistas, deverá se perder definitivamente em pouco tempo, pela falta de cuidados que deveria ter recebido.

Esquecidos no terminal por um longo período, os ossos históricos voltaram a ser notícia em meio a uma reportagem de A Tribuna sobre a falta de aproveitamento do Terminal Turístico, publicada no último domingo.

Ao ler a matéria, o professor de História Waldir Rueda ficou indignado com o descaso, uma vez que acompanhou a trajetória do material desde que as primeiras peças foram desenterradas, em abril de 1981, por operários de uma empreiteira contratada pela Sabesp para proceder a implantação de um emissário de esgotos na área do antigo Restaurante Lagosta.

Eram dois ossos paleozóicos, em processo de fossilização, que mediam um metro de comprimento cada e pesavam, juntos, cerca de 150 quilos. Um mês depois, seis vértebras do mesmo animal foram descobertas na altura da Rua Marechal Maurício José Cardoso e, em junho do mesmo ano, um enorme osso, pesando cerca de 357 quilos, foi encontrado durante as escavações, sob a Avenida Paris, na praia do Boqueirão.

Com ajuda de um guindaste, a peça, assim como aquelas desenterradas antes, foram doadas à Associação Centro de Estudos Amazônicos (Aceam), criada e presidida pela pesquisadora Graziella Diaz Sterque.

"Depois, em 1989, também foi desenterrada uma ossada de baleia azul em São Vicente, que levamos para Praia Grande, para ficar guardada junto às outras", lembra Rueda, que, na época, presidia a Sociedade de Amparo aos Animais da Cidade.

"A impressão que se tem é que, para as autoridades, preservar o que é histórico não vale a pena. Essas peças contam parte da formação geológica do nosso litoral", critica o professor.

Ele recorda que, ao sair da Cidade, em 1992, pensou que os ossos seriam alojados adequadamente em algum arquivo da Prefeitura, para um futuro museu natural. "Por isso, fiquei surpreso com a notícia de que o material está largado no terminal, também abandonado".

  

Descoberta ocorreu durante escavações de esgoto

  

Desinteresse - Filha da pesquisadora Graziella Sterque - falecida em 5 de janeiro de 2003 -, a professora Carmen Diaz Sterque conta que a mãe fez tudo que foi possível para preservar os ossos, mas acabou parando no desinteresse de instituições que poderiam conservá-los adequadamente.

"Ela chegou até a entregar fragmentos da ossada para um paleontólogo da Universidade de São Paulo (USP), que fez estudos com carbono 14 (C-14)".

O pesquisador era Sérgio Mezzalira, geólogo, paleontólogo e autor de diversos trabalhos como Os fósseis do Estado de São Paulo. Ele também dirigia o Instituto Geológico, da Secretaria de Agricultura do Estado, que hoje guarda, no Museu Geológico Valdemar Lefèvre (Mugeo), na zona oeste da Capital, costela, vértebras torácicas, parte da bacia e da barbatana que compunham a ossada desenterrada em Praia Grande e que, conforme anunciado pela instituição, teria aproximadamente 700 anos, fazendo parte do período Holoceno.

Porém, segundo Carmen, a maior parte dos ossos ficou na casa de Graziella, que, embora espaçosa, não comportava o material. "Por isso, tudo foi levado para a Associação de Amparo aos Animais", justifica a professora.

Ela lembra que a mãe entrou em contato com a USP e outras instituições, em busca de um local adequado para deixar as peças. Como não houve interesse de qualquer parte e, na Cidade, não existia um lugar com as condições necessárias para preservar a ossada, o material acabou sendo transferido para o terminal, com a extinção da associação, que ficava na Rua Guanabara.

"O próprio paleontólogo disse que seria necessário depositar os ossos em um ambiente climatizado, ou o valor histórico seria perdido. Sem isso, as peças começaram a se desintegrar já na casa da minha mãe, em um processo que agora está bem mais avançado", avalia Carmen.

Saiba mais:
A Baleenoptera musculus ou Baleia Azul é um animal homeotérmico (sangue quente), dotado de glândulas mamárias e pode atingir 35 metros de comprimento, pesar 150 toneladas e viver até 40 anos. Seu peso equivale a 1.600 homens, 150 bois ou 25 elefantes.
Domingo, 9 de Julho de 2006, 08:04
Ossos não fazem parte do acervo municipal

Embora as críticas ao abandono dos ossos de baleia azul recaiam sobre a Prefeitura, o fato é que o material nunca fez parte do acervo municipal e, mesmo agora que a Cidade se prepara para ter seu primeiro museu - que, inclusive, levará o nome de Graziella Diaz Sterque -, as peças deverão permanecer fora do espaço criado para preservação da memória de Praia Grande.

Responsável pelo setor de Patrimônio Histórico e pelo Centro de Documentação e Memória da Prefeitura, a professora Mônica Solange Rodrigues e Silva explica que a ossada deveria ser encaminhada a um museu natural, preparado para receber este tipo de material, que exige uma série de cuidados especiais.

"Nosso museu será voltado à história social, contendo documentos, fotos, iconografias e objetos que registram fatos ocorridos na Cidade", explica Mônica. Embora, enquanto historiadora e munícipe, também sofra ao saber que os ossos estão se perdendo no terminal, ela reforça que o material precisaria ser alojado em um espaço com infra-estrutura para preservação e pesquisa.

"Por isso, a Prefeitura não tem o que fazer", lamenta Mônica, salientando que, ao assumir o cargo em 2001, fez um inventário completo do acervo do Município e não encontrou qualquer registro das ossadas. "Não sei como o material foi parar no terminal, mas garanto que as peças não foram doadas ao Município".

Disputa - Enquanto os ossos de baleia azul desenterrados em Praia Grande jazem empoeirados e pichados em um imóvel sem uso, um material similar, descoberto em São Vicente, é disputado judicialmente.

Conforme matéria publicada em A Tribuna no último dia 14 de junho, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Vicente instaurou procedimento para apurar as responsabilidades e eventuais irregularidades no caso da transferência de um crânio da baleia azul - encontrada em setembro de 1989, no Itararé - do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente (IHGSV) para o Centro Náutico.

A permanência do fóssil na Cidade é alvo de uma ação popular que foi impetrada pelo advogado Lourenço Secco Júnior, após ele tomar conhecimento da possibilidade de o material ser doado para o Instituto de Pesca de Santos. Em dezembro passado, o juiz da 2ª Vara Cível, Leandro de Paula Martins Constant, concedeu liminar determinando que os ossos devem ficar no Município.