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HISTÓRIAS E LENDAS DE PRAIA GRANDE - C.CRIANÇA
Cidade da Criança envelheceu (2)

Ainda no auge, em 1980, ampliava as suas instalações
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A história da Cidade da Criança foi relatada num dos capítulos da história de Praia Grande, publicada pela Associação Centro de Estudos Amazônicos de Praia Grande (Aceam), em seu boletim Informativo Cultural, edição 30 (junho de 1980):
 
Cidade da Criança

Se um dia alguém estudar com critério a história das pequenas e grandes comunidades que ocupam o espaço da Baixada Santista, verá com surpresa - ou talvez até com desprezo, dependendo das circunstâncias e data -, que em certos grupos o potencial humano é da mais alta qualidade


Vista parcial aérea do conjunto educacional da Cidade da Criança, cerca de1980
Foto publicada com a matéria

Solemar foi o berço da civilização de Praia Grande, pois o primeiro grito de independência partiu daquele recanto tranqüilo do município. Júlio Secco de Carvalho, homem empreendedor e de larga visão comercial, adquiriu grandes áreas de terras em Solemar com a finalidade de fornecer lenha de suas matas para a Estrada de Ferro Sorocabana, trabalho a que se dedicou durante vários anos. Um dia, esgotaram-se as reservas de madeira, e Júlio Secco de Carvalho teve a idéia de lotear a área, transformando-a numa vila próspera e atuante. Primeiro cuidou de construir moderna estação ferroviária, depois tratou de interessar os políticos da época em torno do local.

A uns forneceu terrenos gratuitamente, a outros vendeu lotes a preço módico, tudo com a finalidade e conseguir para Solemar mais e mais melhoramentos. Júlio Secco de Carvalho, pioneiro de Solemar, abriu ruas, construiu a igreja, lutou para conseguir o cartório, transformou a vila de Solemar em distrito, e foi - ao lado de Nestor Ferreira da Rocha - os primeiros homens em Praia Grande a falar de Emancipação. Faleceu sem ver concretizada sua luta de tantos anos, mas o seu nome permanece vivo na lembrança de todos que querem bem a Praia Grande, sendo pronunciado sempre com respeito e carinho. Hoje, uma das ruas de Solemar leva seu nome.

Outro cidadão português, proprietário de grande extensão de terras no bairro, sr. Adriano Dias dos Santos - casado com Adelaide Patrocínio dos Santos (grande dama que colaborou na construção da Santa Casa, doando o terreno, assim como na construção do Lar dos Velhinhos de Vila Mirim) -, ainda em vida fez a doação da grande gleba de terra em que hoje está instalada a Cidade da Criança.

O início - Segundo dona Adelaide Patrocínio dos Santos, a idéia da fundação da Cidade da Criança partiu de seu esposo Adriano Dias dos Santos, do sr. Wadih Pedro e do apoio do dr. Hélio Del Porto.

Fundada em 2 de abril de 1946, e mantida pela Associação Protetora de Menores de Santos, somente a 11 de fevereiro de 1969 teve sua personalidade jurídica definida, pois só em segunda convocação o presidente da diretoria, o sr. Wadih Pedro, conseguiu quorum para a votação dos estatutos.

Na ocasião, foi escolhido pelo presidente o dr. Hélio Del Porto, para presidir os trabalhos, e, para secretariar a reunião, o sr. Antonio Gonçalves Júnior. Essa reunião foi realizada na sede do Clube Sírio Libanês, na Avenida Ana Costa, 544 (N.E.: em Santos).

No dia 25 de março de 1969, no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas da Comarca de Santos, a instituição teve seus estatutos registrados pelo escrivão juramentado Biluardo Derenzio.

O terreno onde está localizada e instalada a Cidade da Criança ocupa uma área delimitada pelo Rio Itinga e Vila Hortência, ao longo do km 85,5 da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, onde mede 440 metros de frente, alcançando o espigão da Serra do Mar, no seu divisor.

Essa propriedade pertencia ao sr. Adriano Dias dos Santos, que em vida fez a doação da mesma, por entender que a obra merecia apoio e colaboração de todos.

As finalidades reais da obra, segundo o Capítulo I de seu estatuto, são - itens:

a) Manter a Cidade da Criança, criada pela associação, para abrigar e educar, administrando-lhes ensino primário e profissional a menores desassistidos, cujo ingresso ficará subordinado às normas estabelecidas no Regimento Interno.

b) Colaborar com as autoridades constituídas, na assistência e proteção ao menor desamparado.

Hoje a Cidade da Criança também recebe subvenção da Prefeitura da Estância Balneária de Praia Grande e do Governo do Estado, pois foi considerada órgão de utilidade pública.

São 20 blocos construídos, assim distribuídos pelos serviços:

1 - Pavilhão da Administração, 2 salas, arquivo, biblioteca, sala de música, gabinete odontológico, enfermaria, sala de recuperação, almoxarifado e 2 sanitários;

2 - Igreja Católica (padroeira, Santa Luzia);

3 - Pavilhão Comercial, padaria, barbearia, bazar, sala de merenda, depósito de material, 2 grandes frigoríficos;

4 - Fábrica de calçados (cujo pavilhão foi doado pelo Rotary Club de São Vicente);

5 - Tipografia, artes gráficas;

6 - Carpintaria e mercearia;

7 - Usina hidroelétrica;

8 - Colchoaria e estofamento;

9 - Residência e funcionários;

10 - Estábulos (pocilgas);

11 - Lavanderia:

12 - Dormitórios (5);

13 - Refeitório e cozinha;

14 - Salas de aula;

15 - Estádio, arquibancada e vestuário;

16 - Oficina mecânica;

17 - Depósito;

18 - Ginásio de esportes;

19 - Escola Profissionalizante "Adelaide Patrocínio dos Santos";

20 - Auditório "Adriano Dias dos Santos", inaugurados dia 28/6/1980.

Os menores permanecem na Cidade da Criança até serem convocados para o Serviço Militar, e todos já saem com colocação garantida, devido à capacidade profissional adquirida.

Mas Cidade da Criança não é só mantida por subvenções, doações ou mensalidades dos sócios e diretores: grande parte de sua renda vem dos serviços que presta, como impressos, colchões, sapatos, móveis etc.

Todos os menores trabalham e recebem seus salários, mas existem as horas de lazer, como banho na piscina natural, jogos diversos (entre eles o futebol), cinema, projeções de slides, palestras educativas, comemoração de eventos, excursões e missa aos domingos na Capela de Santa Luzia.

Entretanto, o mais importante dessa obra é que não posui guarda. Não havendo registro de fugas, vivem, os menores, em ambiente de camaradagem, onde a disciplina e limpeza são fatores importantes da Cidade da Criança, além de contar com a abnegação do sr. Wadih Pedro e dos demais diretores e funcionários, durante anos encontrou no sargento José de Souza um valioso colaborador, que fora designado pelo então comandante da Fortaleza de Itaipu, coronel Teles Pires Dantas, para prestar serviços naquela entidade. Mesmo estando na reserva remunerada, o sargento José de Souza se dedicava inteiramente à Cidade da Criança.

Cidade da Criança, hoje - Recentemente (N.E.: em 1980) foram inauguradas as dependências do auditório "Adriano Dias dos Santos" e Escola Profissionalizante "Adelaide Patrocínio dos Santos".

Presentes à solenidade a sra. Adelaide Patrocínio dos Santos, ao lado do sr. Wadih Pedro, deputado federal Athiê Jorge Coury (representando o governador do Estado), sra. Layde Rodrigues Reis Loria, sr. José Calfat, sr. Gustavo Bozzani (representando o Rotary Club de Praia Grande), professora Graziella Diaz Sterque (pres. da Casa do Poeta Brasileiro). Sem discursos ou menções, foram descerradas as placas comemorativas. Antes, porém, foram hasteadas as bandeiras e cantado o Hino Nacional pelos alunos da Cidade da Criança.

Cerca de 6 milhões foram gastos na construção dos dois prédios, o auditório e a Escola Profissionalizante, custos que foram pagos por D. Adelaide Patrocínio dos Santos, bem como a despesa com a compra do terreno. Tanto a escola como o auditório ocupam uma área de 1.570 metros quadrados.

A Escola "Adelaide Patrocínio dos Santos" possui oito salas de aula, salas para a diretoria e secretaria, sanitários e moderna cozinha, onde é preparada a merenda escolar.

O moderno auditório "Adriano Dias dos Santos", que foi inaugurado com a exibição de um movimentado conjunto musical, possui 320 lugares, com poltronas confortáveis, palco com pano de boca, sanitários e dependências para artistas.

Após as inaugurações, todos os presentes participaram de um churrasco no Ginásio de Esportes. Na oportunidade, o sr. Wadih Pedro agradeceu a colaboração que Adriano Dias dos Santos sempre dispensou à Cidade da Criança, e à sua viúva sra. Adelaide Patrocínio dos Santos, que com sua bondade e abnegação nunca deixou de auxiliar nem deixou faltar nada às 398 crianças assistidas pela Cidade da Criança.

Em entrevista concedida a este Informativo, a sra. Adelaide Patrocínio dos Santos, que é pessoa modesta, simples e de pouco falar, não escondeu sua emoção ao ver mais uma obra concretizada. Instada a falar sobre a benemerência que pratica, dona Adelaide, com toda simplicidade, disse: "Cada pessoa vem ao mundo com uma missão definida por Deus; creio que vim predestinada para ajudar"... e completando disse que "ajudar é bom, quando existe uma pessoa honesta e com grande força de vontade para continuar uma obra tão importante, como Wadih Pedro".

O sr. Wadih Pedro é o presidente da Cidade da Criança, desde sua fundação. Nunca permitiu que fossem construídos portões, nem muros, e com este sistema disciplinar a Cidade da Criança nunca registrou fugas nem motins. Muito se poderia falar de Wadih Pedro, mas a Cidade da Criança é o retrato do seu grande amor pela humanidade e um amontoado de palavras em seu louvor pouco acrescentaria à personalidade daquele homem que, com visão de santo, escolheu o bem como profissão.

Contando com uma boa equipe de funcionários e colaboradores, destacamos o trabalho do sr. Álvares Teixeira, atual administrador, e do jovem José Luiz Quirino, que tendo sido criado na Cidade da Criança, foi servir o Exército, trabalhou nas Docas, mas chegou à conclusão de que seu trabalho seria mais útil no mesmo local onde aprendeu a ser bom. Hoje, Quirino é a figura mais solicitada e popular na Cidade da Criança. Solícito, sabe o que todos fazem e onde estão. Para ele, não existe horário de trabalho ou dificuldade que não possa ser solucionada.

Com 137 alunos internos e 100 que freqüentam a Escola Profissionalizante, a Cidade da Criança mantém ainda cursos de corte e costura, artesanato e uma loja na Rua do Comércio, 17, em Santos, onde vende calçados e produtos industrializados nas oficinas.

Cultura - A Biblioteca, com cerca de 2.000 volumes, parte dos quais doados pelo Projeto Rondon, está atualmente sem funcionamento por falta de pessoal habilitado.

Lazer - Todos os sábados é exibido um longa-metragem aos internos. Normalmente, os alunos freqüentam a Praia de Solemar, além dos banhos na piscina natural, do rio Itinga, que atravessa o terreno da Cidade da Criança.

Esportes - Seus alunos praticam várias modalidades de esportes e têm participado de provas e torneios internos e externos.


Na Cidade da Criança, uma aula prática, de um dos cursos profissionalizantes
Foto publicada com a matéria

O Bairro de Solemar, onde está situada a Cidade da Criança, comemora a 14 de julho o seu dia, graças a uma propositura apresentada pelo dr. Jenner de Andrade e Silva, quando vereador (é atualmente secretário da Fazenda Municipal).

A Sociedade Amigos de Solemar, através de sua diretoria, como faz todos os anos, programou várias solenidades.

Além da Cidade da Criança, destacamos a Sociedade Amigos de Solemar, Sociedade Esportiva Solemar, a Capela de São João Batista (padroeiro do bairro) com missa todos os domingos, Escola de I Grau (com cursos do Mobral), Destacamento da Polícia Militar, Catório do Registro Civil e Agência dos Correios e o moderno Hotel Solemar. Servido por estação ferroviária, ônibus da Viação Breda e Praia Grande, o bairro está integrado no sistema viário através da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega.

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