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HISTÓRIAS E LENDAS DE PRAIA GRANDE
As histórias do seu Evaristo
José Evaristo da Silva, na capa no suplemento especial de A Tribuna de 24/4/1983

José Evaristo da Silva, na capa no suplemento especial de 'A Tribuna' de 24/4/1983Comemorando seu 90º aniversário de publicação, o jornal A Tribuna de Santos publicou - em 24 de abril de 1983 - um caderno especial com uma grande entrevista com José Evaristo da Silva, residente em São Vicente, que nesse dia completava 93 anos de idade "e pode se gabar de ser uma das poucas pessoas a existir há mais tempo do que este jornal. Personagem que se tornou uma testemunha viva de acontecimentos históricos, dramáticos ou simplesmente pitorescos", como citou o matutino na capa desse caderno especial, que abrangeu também histórias de outras cidades da região.

Sobre Praia Grande, José Evaristo lembra que era um local quase deserto: "Não tinha quase nada antes da inauguração da ponte (N.E.: a Ponte Pênsil, de 1914). Tinha uma estradinha por onde eles traziam lenha de mangue para vender em São Vicente e Santos. Pouca gente morava por ali". Mais, na matéria dessa edição especial de 24 de abril de 1983:

"Praia Grande praticamente não existia. Não tinha quase nada antes da inauguração da Ponte Pênsil. Tinha uma estradinha por onde eles traziam lenha de mangue"

"Afaste-se da Fortaleza do Itaipu que virei bombardeá-la às 11,30 horas do dia 5".

Aviso aos corações temerosos: não se trata de uma nova revolução. Estamos começando a contar a história de uma praia tão grande que virou Cidade.

Um dia um major, de nome Carambert Pereira da Costa, que servia na Fortaleza do Itaipu, planejou o ataque à unidade, conforme relato feito por Graziela Dias Sterque em seu "Informativo Cultural", mensalmente editado em Praia Grande. Era o período da Revolução Paulista de 1932, que defendia ardentemente a Constituição. A luta era contra Getúlio Vargas, o mesmo Getúlio que esta semana foi alvo de diversas homenagens pela passagem do centenário de seu nascimento.

O aviso de ataque do major Carombert era para sua esposa, que morava na Fortaleza. E veio o bombardeio, com 48 bombas destruindo parcialmente as dependências tomadas pela 1ª Bateria.

A Fortaleza do Itaipu, assim como a Ponte Pênsil, sempre esteve ligada à história de Praia Grande, uma Cidade cuja atração principal são seus quase 27 quilômetros de faixa de areia de praia.

Estradinha - "Praia Grande praticamente não existia. Não tinha quase nada antes da inauguração da ponte. Tinha uma estradinha por onde eles traziam lenha de mangue para vender em São Vicente e Santos. Pouca gente morava por ali".

José Evaristo sempre viveu na Baixada e na verdade não exagerou quando disse que Praia Grande praticamente não existia. Além das praias só existia mesmo muita vegetação, a ponto de inúmeras pessoas saírem de Santos ou São Vicente para buscar lenha, utilizando pequenas carroças puxadas por burricos.

O arquiteto Eliseu de Andrade Júnior, que também conhece muito da história de Praia Grande, lembrou que as terras interiores, como se chamavam os terrenos junto aos morros, eram utilizadas para a agricultura, principalmente no cultivo da banana. "Foi a fase áurea da banana, cujo maior consumidor era a Argentina. A faixa de areia de praia era para o tráfego, muito insegura".

Praia Grande naquela época tinha características de final de região e a maior prova disso foi o sistema de saneamento idealizado pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito para a Ilha de São Vicente. O despejo final era junto ao final do Morro Itaipu, utilizando um emissário que vinha pela Ponte Pênsil e depois pela Avenida Marechal Mallet. Há cerca de dois anos esse sistema foi desativado, mas curiosamente no final de 1982 voltou a ser acionado, desta vez para receber os dejetos da área central de Praia Grande.

O efetivo surgimento do que hoje é Praia Grande começou em 1902, quando foi determinado o início da construção da Fortaleza do Itaipu. Logo depois, em 1912, começou a construção da Estrada de Ferro Santos-Juquiá, depois Estrada de Ferro Sorocabana e hoje absorvida pela Fepasa.

A época levou inclusive o então presidente do Estado de São Paulo até Praia Grande, para presidir a solenidade de inauguração da estrada variante de acesso ao Forte, atualmente Avenida Marechal Mallet. A orla da praia, porém, apesar das estradas de ferro e de rodagem e do Forte, permanecia intacta.

Segundo o arquiteto Eliseu, o maior entrave ao desenvolvimento era a falta de água. A rigor, a primeira efetiva utilização da orla ocorreu em 1936, quando um grupo de santistas fundou o Aeroclube de Santos, até hoje em pleno funcionamento.

Com a construção da Via Anchieta, porém, deu-se a abertura do mercado turístico, já que a expansão da indústria automobilística possibilitou o êxodo semanal do Planalto à região, valorizando as terras da orla da praia em toda a Baixada Santista.

Nessa altura, já se observava que Praia Grande era visualizada como estância balneária de recreio, principalmente pelo fato que em toda a área não havia população fixa. Eliseu de Andrade Júnior destacou que os grandes empresários da época logo perceberam a vocação da Cidade, partindo para os grandes empreendimentos.

O primeiro deles surgiu em Cidade Ocian, visando principalmente atender ao interesse dos turistas que procuravam casas para veraneio nos fins de semana. Esse processo termina com a instalação oficial do Município de Praia Grande, depois de muita polêmica com São Vicente. Começam, então, outras lutas, dentre elas a que prevê a construção de uma nova ponte sobre o Mar Pequeno. Era, como diziam as autoridades, a emancipação geográfica, a solução para que Praia Grande realmente pudesse desenvolver sua vocação turística.

Há grande preocupação no Município com a possibilidade de ser modificada 
a lei que impede a construção de altos edifícios na orla da praia
Foto publicada com a matéria, cor adicionada por Novo Milênio

Grande parte da vegetação lembrada por seu Evaristo hoje não existe mais. Em seu lugar surgiram prédios, casas etc. A vocação para estância balneária de recreio foi respeitada? Qual a realidade de Praia Grande?

Pelo menos oficialmente as características foram respeitadas: "Estância Balneária de Praia Grande". A cada fim de semana centenas de turistas, do interior de São Paulo e até de outros estados, visitam a Cidade, à procura de momentos de lazer que façam, mesmo que temporariamente, esquecer o ritmo alucinante de trabalho. Há caso inclusive de pessoas, do interior do Paraná, que nunca viram o mar e quando chegam a Praia Grande correm pela faixa de areia como crianças inocentes.

Em dezembro de 1981, quase 20 anos após a primeira reivindicação, A Tribuna documentava a inauguração do primeiro tabuleiro da nova ponte sobre o Mar Pequeno. Houve de tudo naquela festividade de caráter político, com vistas às eleições gerais do ano seguinte. Na opinião de inúmeras pessoas, com a nova ponte nada mais deteria o progresso de Praia Grande. Os mais otimistas falaram até na futura "Capital da Baixada Santista no prazo de cinco anos".

Problemas - Depois da implantação do empreendimento "Cidade Ocian", as construções foram surgindo nos mais variados pontos, concentrando-se prédios no Bairro do Boqueirão e as casas entre o Campo de Aviação e o Distrito de Solemar, na divisa com Mongaguá.

Na opinião do arquiteto Eliseu de Andrade Júnior, foi exatamente a partir das construções que começaram a aparecer os problemas, evidenciando a necessidade de se dotar o Município da infra-estrutura necessária a suportar a avalancha turística. "O maior problema é a drenagem, para escoamento das águas pluviais, já que as terras, como nos demais municípios da Baixada, são baixas".

Santos e São Vicente não suportam mais receber o número de turistas que nos fins de semana procura o Litoral para descanso. Praia Grande não conta com o mínimo de infra-estrutura necessária ao atendimento à população fixa, razão pela qual há necessidade de um grande planejamento para evitar que o caos se estabeleça por completo.

Depois da construção da ponte só se fala da "explosão" que ocorrerá nos próximos anos. Eliseu de Andrade Júnior alertou que o maior perigo é justamente o desenvolvimento a qualquer custo: "Já pensou quando todas as áreas estiverem ocupadas? Sem estrutura certamente haverá um desastre, principalmente se não forem resolvidos os principais problemas de drenagem".

Esgoto - Praia Grande, atualmente, não tem qualquer problema sério referente a abastecimento de água, mas quanto ao esgoto a situação causa preocupações, principalmente porque as perspectivas são de que a explosão imobiliária ocorrerá a curto prazo.

A proliferação de prédios e residências na orla colocará em risco justamente a maior atração da Cidade: seus 27 quilômetros de praias. Até agora, com muito sacrifício, foi implantada rede de esgoto apenas na área entre o Canto do Forte e o Campo de Aviação, numa extensão de aproximadamente três quilômetros. O sistema já está parcialmente em atividade, mas assim mesmo, naquele trecho, continua o despejo de dejetos "in natura".

O comprometimento da balneabilidade das praias coloca em risco a vocação turística da Cidade, razão pela qual, conforme o arquiteto, precisam ser adotadas providências urgentes. "A expansão acelerada pela ansiedade do público do Planalto tornou-se rápida e superficial, passando por cima de diretrizes de planejamento que jazem esquecidas sob o peso dos interesses imediatistas".

Para Eliseu de Andrade Júnior, a população flutuante ainda não se encontra sensibilizada pelos problemas do Município, preocupando-se apenas com o lazer durante o fim de semana.

Lado pobre - A área geográfica de Praia Grande é dividida quase que ao meio pela Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, ligação entre a Baixada Santista e o Litoral Sul e Vale do Ribeira. Do lado direito da Rodovia está a outra realidade do Município: o lado pobre.

Em diversos pontos observam-se favelas ou residências construídas sem o mínimo de condições para uma vida com um pouco de dignidade. À direita da estrada os problemas são inúmeros, havendo até pequenos núcleos que não contam inclusive com água encanada.

Eliseu de Andrade lembrou que nos últimos anos centenas de pessoas, a maioria de Cubatão, transferiram-se para Praia Grande, provavelmente para fugir aos problemas decorrentes da poluição. Em razão disso começaram a surgir os grandes núcleos habitacionais, exigindo dos órgãos públicos, municipais e estaduais, atuação semelhante à que é imprescindível na orla da praia. Afinal, pelo menos em tese, todos são iguais.

A necessidade de se planejar o crescimento para os próximos dez anos é a única solução para que Praia Grande mantenha sua vocação turística e também para que sua população possa desfrutar da área que até pouco tempo, como disse seu Evaristo, praticamente era só mato.

Washington Luiz (o quinto à esquerda, sentado), numa solenidade em 1924 no forte
Foto publicada com a matéria, cor adicionada por Novo Milênio

"O planejamento integrado se impõe. A defesa do meio-ambiente é compromisso assumido". A afirmação é do arquiteto Eliseu de Andrade Júnior, curiosamente o atual diretor de Obras da Prefeitura de Praia Grande. Numa referência indireta à vitória do PMDB neste município, o arquiteto falou que está se iniciando um novo ciclo de trabalho, desta vez com a participação de todos os interessados. "A administração se abre para a comunidade e a convoca para participar efetivamente, mesmo porque deverão ser respeitadas as tradições vigentes e também a experiência comunitária".

Por coincidência, o principal assunto hoje na Cidade é o decreto número 750, que, além de preservar os morros, limitou a quatro pavimentos o gabarito máximo dos prédios na orla da praia. Na semana passada houve efetivamente a primeira participação de um setor do Município: o empresarial. Incorporadores, o prefeito Wilson Guedes e o diretor de Obras reuniram-se num restaurante para debater justamente a nova legislação sobre as construções. Sabe-se conforme os comentários, que a grande reivindicação é a alteração do artigo que veda as grandes construções na orla da praia, que não conta sequer com 70 por cento da infra-estrutura de que necessita. Como conciliar os interesses empresariais, que para muitos representam o progresso, com a vocação turística da Cidade?

Pressão danosa - Segundo Eliseu de Andrade Júnior, esse realmente é o problema: "A grande pesquisa que atualmente se efetiva é conciliar a expansão urbana dentro das reais vocações da região. Toda e qualquer pressão nesta fase será, de fato, danosamente irreversível".

Para o arquiteto há necessidade de se desenvolver uma consciência no sentido de que a faixa à beira-mar seja reservada para os melhores interesses comerciais: "Isso possibilitará que a orla se apresente como um grande boulevard; a força comercial instalada ao longo das praias possibilitará o equipamento necessário ao desenvolvimento do turismo, garantindo a vocação da Cidade".

Eliseu de Andrade Júnior revelou em seguida que já estão em desenvolvimento os estudos referentes à elaboração do plano diretor físico, de modo a preparar o futuro da Cidade. "Praia Grande foi escolhida pelo povo do Planalto como área de descompressão leve e também de recreação. O Município inseriu-se no contexto da Grande São Paulo, é hoje uma região de utilidade estadual".

Para o arquiteto, os prédios na orla da praia têm que ter características comerciais, abrigando no térreo, e até nos primeiros andares, bares, lanchonetes, restaurantes e lojas. Eliseu defendeu também uma idéia antiga: a implantação de self-containers, conjunto de apartamentos sob administração empresarial.

Esse sistema, além de propiciar recursos tanto na fase de construção como na de utilização, por intermédio do Imposto Sobre Serviços (ISS), evita a privatização da área defronte ao mar.

A importância do Estado - A manutenção da vocação turística de Praia Grande exigirá a realização de obras com custos elevados, principalmente no setor de saneamento. Além da execução da segunda e terceira etapas do sistema de esgoto, há necessidade de implantação de vários canais de drenagem, semelhantes aos existentes em Santos. Para o arquiteto, a construção dos canais é a única solução para evitar que no futuro Praia Grande enfrente sérios problemas de drenagem, em razão de sua área muito baixa, a nível do mar.

O fato de Praia Grande ser considerada uma área de utilização estadual por certo servirá como argumento para que o prefeito Wilson Guedes convença o governador Franco Montoro a investir na Cidade.

Paralelamente, a administração municipal pretende criar novas fontes de recursos para ter condições de atender ao visitante e também para melhorar a situação dos moradores à direita da Rodovia Padre Manuel da Nóbrega.

A idéia do prefeito Wilson Guedes é incentivar a instalação de indústrias não poluentes, numa área defronte da Cubatão-Pedro Taques, nas proximidades da divisa com São Vicente. A industrialização, além de gerar recursos, proporcionaria um desenvolvimento mais rápido da área à direita da estrada, o que melhorará as condições de vida da população carente.

No começo do século XX, a lenha retirada de Praia Grande era transportada em carroças
Foto publicada com a matéria, cor adicionada por Novo Milênio

 

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