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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/08/2015 23:41:30

Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

abr.ac

Com esta abreviatura, abr.ac, ele ao mesmo tempo enviava um abraço e assinava as suas mensagens. No momento em que sua vida foi abreviada, é também com este signo que fica aqui registrado um saudoso abraço do Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa (MNDLP), que ele ajudou a criar e implantar, para combater durante tantos anos o excesso de estrangeirismos incorporados atabalhoadamente e sem qualquer reflexão ao idioma português, empobrecendo nossa línguas em vez de enriquecê-la como quando as palavras são aculturadas e adaptadas à nossa forma de falar e escrever.

A causa do Idioma Pátrio foi apenas uma das muitas lutas deste companheiro que agora se despede (a defesa da Petrobrás e dos colegas petroleiros era outra, e ambas as lutas se juntaram quando a estatal do petróleo resolveu tirar o acento da sigla para agradar aos estrangeiros). Um companheiro que aprendemos a admirar pelo bom humor constante e pelo modo afável e simples com que tratava a todos, do porteiro ao presidente - provavelmente melhor ao porteiro que ao presidente.

Assim era o Antonio Carlos Bodini Dias, o Bodini que tinha histórias (muitas) para contar, até com esse nome, que na verdade não é o de seu nascimento.

Carlos Pimentel Mendes

MNDLP - 8 de janeiro de 2015

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Luiz Norberto Damiani <luizdamiani5@gmail.com>
Data: 8 de janeiro de 2015 17:00
Assunto: Fwd: ADEUS, BODINI.
Para: Vanda <vmsantos.maria@gmail.com>, João Barbalho <barbalho@pluralquimica.com>

 
Anexo texto do Henrique, que trabalhou  com o Antonio durante muitos anos
Abraços
---------- Mensagem encaminhada ----------
De: hstorto <hstorto@uol.com.br>
Data: 8 de janeiro de 2015 16:52
Assunto: ADEUS, BODINI.
Para: 

Conheci o Bodini quando ele era simplesmente Antônio Carlos Dias, o Bodini foi acrescentado ao seu nome, na época da ditadura militar, por um bizarro motivo: livrá-lo da aporrinhação do Sidnei, já falecido, que trabalhava sob as ordens de um general da famosa “DIVIN” (Divisão de Informações da Petrobrás). O Sidnei aparecia anualmente no Escritório da recém criada Petrobrás Distribuidora com uma relação enorme de delitos cometidos por um certo Antonio Carlos Dias. Ora, Sidnei, dizia o Antonio Carlos, esse cara não sou eu. Eu sei, respondia o Sidnei, mas o “general” quer que você prove e a única maneira é apresentar certidões cíveis e criminais para demonstrar que esse Antonio Carlos Dias não é você. Até que um dia, já de saco cheio, ele resolveu acrescentar o sobrenome da mãe em sua certidão de nascimento. Assim “renasceu” o Antonio Carlos Bodini Dias que se livrou para sempre do Sidnei. A partir daí, e até como uma forma de gozação, todos os colegas passaram a chamá-lo de “Bodini”.

Ingressei na Petróleo Brasileiro S/A – Petrobrás – Frota Nacional de Petroleiros em 1/06/1960, em Santos, depois fui transferido para o Decom-Serdis-SP (embrião da Petrobrás Distribuidora) em 1966. Mais tarde, em 1972, ingressei na recém criada Petrobrás Distribuidora que passou a fazer o serviço de distribuição de derivados de petróleo até então exercido pelo Decom/Serdis. Pouco antes, talvez em 1970, conheci o Antônio Carlos que ainda não era o “Bodini”. Ajudamos a montar o Escritório de Apoio da futura BR em Santos e convivemos até a minha aposentadoria em 1988. Ele, alguns anos mais novo do que eu, aposentou-se mais tarde, mas nunca deixamos de nos comunicar e trocar “idéias”. Sim, trocávamos muitas idéias, pois tínhamos muito em comum: ambos éramos comunistas e ateus. Lembro-me de um jornalzinho clandestino que circulava na época “Voz Operária” que o Bodini me trazia, com muito cuidado, camuflado dentro de um exemplar do “Jornal da Tarde”. Lia-o ávidamente e depois, correndo seríssimo risco naqueles dias tenebrosos da ditadura, levava-o à noite para a faculdade (na época eu cursava a Faculdade Católica de Direito de  Santos) para circular entre alguns colegas de “esquerda”.

Pois bem, o comunismo acabou e a triste realidade do “stalinismo” foi escancarada ao mundo. A desilusão, tristeza e um sentimento de vazio se apossou de todos os que sonhavam com uma sociedade mais justa e igualitária. Restou-nos o sonho e o ideal de que um dia a “utopia” se tornasse realidade. Ledo engano... o comunismo é uma falácia, só uns poucos dinossauros, por conveniência, ainda defendem a ideologia. O principal deles mora em Cuba e está agonizando no trono.
O Bodini foi uma das pessoas mais íntegras, éticas e solidárias que conheci na vida. Era incapaz de ver uma injustiça sem se indignar; um ser singular difícil de descrever nos dias atuais, vai nos deixar um sentimento de vazio muito grande. Morre o homem, fica a lembrança.

Adeus, Bodini, sei que jamais irei encontrá-lo em outra vida pois, a partir de agora, serás como Deus: INEXISTENTE.... para sempre !!!!

Henricon (como ele gostava de me chamar)
                                                  .-.-.-.-.-.-.-.-.-.
Como homenagem, transcrevo, abaixo, palavras que Richard Dawkins (que ainda vive) escreveu para seu próprio enterro:

Nós vamos morrer, e isso nos torna afortunados. A maioria das pessoas nunca vai morrer, porque nunca vai nascer. As pessoas potenciais que poderiam estar no meu lugar, mas que jamais verão a luz do dia, são mais numerosas que os grãos de areia da Arábia. Certamente esses fantasmas não nascidos incluem poetas maiores que Keats, cientistas maiores que Newton. Sabemos disso porque o conjunto das pessoas possíveis permitidas pelo nosso DNA excede em muito o conjunto de pessoas reais. Apesar dessas probabilidades assombrosas, somos eu e você, com toda a nossa banalidade, que aqui estamos....

Nós, uns poucos privilegiados que ganharam na loteria do nascimento, contrariando todas as probabilidades, como nos atrevemos a choramingar por causa do retorno inevitável àquele estado anterior, do qual a maioria jamais nem saiu?

Henrique Storto