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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/21/01 14:02:46

Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

NOSSO IDIOMA
Empresários quebram monopólio da língua

Moda é misturar no discurso termos em inglês incompreensíveis à população

Costabile Nicoletta (*)

Os empresários brasileiros decidiram quebrar o monopólio da língua portuguesa. Em seus pronunciamentos públicos, sobretudo à imprensa, costumam mesclar a seus escorregões no vernáculo um turbilhão de termos em inglês muitas vezes incompreensíveis à população, nela incluídos jornalistas incumbidos de transcrever tais declarações para uma linguagem acessível. A expressão em voga no momento é stop and go (pára e depois continua), usada para definir o vaivém das medidas econômicas do governo, ora incentivando o aquecimento das vendas, ora tentando conter o consumo. O stop and go tem uma variante, o up and down (sobe e desce), usada com mais parcimônia.

Outra pérola importada da língua inglesa - e muito comum sobretudo entre executivos do mercado financeiro - é expertise (habilidade), empregada para identificar áreas de especialização de determinados bancos. É o que se poderia classificar de termo up to date (atual) no  setor, que de tempos em tempos precisa desse tipo de up grade (atualização), com a devida vênia dos profissionais de informática.

Quando querem protestar contra a valorização da moeda brasileira diante da norte-americana, os empresários costumam recorrer ao gap (intervalo), para mostrar que o câmbio está desatualizado em relação a seus custos.

Ao constituir uma sociedade com outra empresa, o recurso lingüístico que melhor exprime a parceria é a joint venture. Ao fazer suas ilações acerca do desempenho do setor em que atuam, lançam mão de um poderoso indicador chamado feeling (faro, tato), pois o mercado não dispõe de estatísticas seguras quanto a determinados números. O mesmo vale para o market share (participação de mercado) ou para a definição do mix (conjunto de itens) de produção.

Se o market share cresce significativamente, é possível que os planos de uma nova fábrica possam sair definitivamente da gaveta. Agora, o start up (início de operações) da fábrica dependerá dos rumos do Plano Real, do cash flow (fluxo de caixa) e do break-even point (ponto de equilíbrio) da nova operação - tudo devidamente registrado num folder (folheto) e desde que haja funding (financiamento) suficiente e um competente follow-up (acompanhamento) das etapas.

Mas, se a empresa não vai bem das pernas, é normal que seu turnover (rotatividade da mão-de-obra) seja grande. Talvez essa companhia necessite de um downsizing (diminuição de tamanho). Se for bem sucedida nessa empreitada, pode servir de case (exemplo) para outras. Se não, será candidata ao management buy out (os executivos assumirem o controle da  empresa). É difícil, porém, que isso aconteça com as chamadas top (topo) de linha. Mas o termo que resume melhor a xenomania desses empresários brasileiros é o global sourcing (fornecimento global), com o qual pretendem derrubar todas as barreiras dos seus business (negócios).

The end.

(*) Costabile Nicoletta é editor de Economia do jornal O Estado de S.Paulo. Artigo publicado no Caderno de Economia de 25/6/1995, página B-13.