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HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ
Um avião constitucionalista no fundo do mar-2

Em 1932, o Kavuré-Y desapareceu nas águas da praia de Pitangueiras

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Material publicado no blogue Tudo Por São Paulo 1932, de Ricardo Della Rosa (acesso em 13/1/2013)?


Mario Machado Bittencourt
Foto publicada com a matéria

Quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Mario Machado Bittencourt - O Herói da Ilha da Moela no Guarujá

"...É que os escudos onde eles traziam gravados o dístico PRO BRASILIA FIANT EXIMIA, eram os próprios corações!" - Major-Brigadeiro-do-Ar Lysias Augusto Rodrigues

Iniciamos o mês de setembro, com uma história que na minha opinião é uma das mais fantásticas passagens da
Revolução Constitucionalista: a bravura e a determinação de um jovem carioca que aos vinte e três anos encontrou a morte nas águas do Guarujá em setembro de 1932, lutando por São Paulo.

Algumas das fotos que ilustram este post são inéditas e nunca apareceram em nenhuma publicação. São imagens que congelaram no tempo dias heroicos dos aviadores que combateram em 1932, em passagens que em nada deixam a dever às dos ases da 1ª e 2ª  Guerras Mundiais.

Porém, tão grande quanto estes heróis é o descaso com o nosso passado. Mostro também como é fácil dar as costas a um simples monumento em uma das mais badaladas praias do litoral paulista, aonde passam a cada verão milhares de pessoas que não fazem a menor ideia do que ocorreu logo ali na frente.

Não sou nem almejo ser escritor, porém espero estar a altura desta tarefa que é resumir em poucas linhas e com algumas imagens a história de Mario Machado Bittencourt.


Mario Machado Bittencourt
Foto publicada com a matéria

Nascido na cidade do Rio de Janeiro a 7 de Julho de 1909, filho do Dr. Raul Machado Bittencourt e de Dona Cleonice de Mattos Bittencourt, Mario Machado seguindo os passos de seu pai formou-se pela Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro em 1930 e com seu pai advogou durante pouquíssimo tempo.

Atendendo ao chamado da Lei e da Ordem em julho de 1932, Mario Machado tentou com outros constitucionalistas fazer no Rio de Janeiro com que a movimentação que ocorria em São Paulo ecoasse a ponto de iniciar naquela cidade o clamor revolucionário. Porém as forças de Getúlio Vargas logo usaram de truculência para calar as vozes que gritavam por mudanças.

Assim sendo, Mario Machado se reuniu com José Angelo Gomes Ribeiro (de quem foi companheiro durante os combates aéreos), coronel Basílio Taborda e Lysias Rodrigues e fugiram de barco em direção a Santos para no dia 17 daquele mês já assumirem postos de comando no Exército Constitucionalista.


Avião Waco CSO (Waco Verde), usado no reide constitucionalista em 1932. Na foto, com a proteção em volta do motor
Foto publicada com a matéria

1o Grupo de Aviação Constitucionalista - Os Gaviões de Penacho - Mario Machado, era o melhor observador das Forças Aéreas Paulistas. Civil, em pouco tempo obteve comissionamento no posto de 2o Tenente. Logo depois foi promovido, após combate com aviões adversários, a 1º tenente. Foi elogiado repetidamente em boletins do QG da Capital.

Operou juntamente com os Gaviões de Penacho em todos os setores da luta: Faxina, Buri, Itapetininga, Campinas, Lorena, Uberaba, Barão de Ataliba... Em Mogi-Mirim participou dos raids que destruíram cinco aviões governistas, além de diversos embates aéreos nos moldes da 1ª Guerra Mundial.


Pose no Campo de Marte, na capital paulista, com o grupo preparando-se para a decolagem
Foto publicada com a matéria

Na narrativa de Lysias Rodrigues, Mario Machado Bittencourt sempre é destacado pelo senso do dever e pelo extremo bom humor, sendo sem dúvida alguma um dos mais queridos do grupo.


Momento de descontração, em que Machado Bittencourt observa, com um sorriso, os amigos
Foto publicada com a matéria

Na manhã do dia 24 de setembro, um sábado (como não poderia deixar de ser, o dia da semana que sempre foi fatídico aos soldados paulistas) Mario Machado Bittencourt e José Angelo Gomes Ribeiro se apresentam no hangar Capitão Chantre no Campo de Marte para mais uma missão.


Mario Machado Bittencourt, preparando-se para o combate no Campo de Marte em São Paulo
Foto publicada com a matéria

Ao meio dia e quinze minutos, o major Ivo ordena a partida da esquadrilha.
Pilotando o avião modelo Curtiss O1-E Falcon, batizado de Kavuré-Y, Machado Bittencourt e Gomes Ribeiro partem em direção ao Porto de Santos, na penosa missão de bombardear a esquadra ali estacionada numa tentativa de romper o bloqueio que impossibilitava as nossas forças de obter armamentos e suprimentos de guerra.

Junto deles decolam Lysias Rodrigues e Abilio Pereira de Almeida no Kyri-Kyri e Motta Lima junto com Hugo Neves no Waco Verde. Fariam o primeiro bombardeio e aterrariam no Campo da Praia Grande onde se reabasteceriam com bombas para novas investidas.


Gomes Ribeiro e Machado Bittencout com um oficial da aviação paulista, em frente ao Kavuré-Y
Foto publicada com a matéria

Não se sabe ao certo qual foi o motivo (fogo antiaéreo ou um incêndio provocado por uma válvula), mas ao realizar o piqué para bombardear o Cruzador Rio Grande do Sul, o avião de Gomes Ribeiro e Bittencourt se transformou em uma enorme bola de fogo e se espatifou ao lado da Ilha da Moela, em frente ao Guarujá. Estavam mortos os dois aviadores constitucionalistas. O cruzador não foi atingido. Os corpos dos aviadores jamais foram encontrados e os destroços do avião fazem parte de um enorme mistério.


O Curtiss Falcon Kavuré-Y. Á direita, Machado Bittencourt (de costas), conversando com outros aviadores, em foto tirada na manhã do dia 24 de setembro
Foto publicada com a matéria

O governador Pedro de Toledo, que teve conhecimento do desastre de aviação em que pereceram José Angelo Gomes Ribeiro e o seu observador Machado Bittencourt, dirigiu ao general Klinger e ao comandante Ivo Borges os seguintes telegramas de condolências:

"
General Bertoldo Klinger chefe das Forças Constitucionalistas - Envio a v. exa., em meu nome e do governo do Estado de São Paulo, a expressão do mais profundo pesar pelo tragico desapparecimento dos gloriosos aviadores José Antonio Gomes Ribeiro e Mario Machado Bittencourt, exemplos admiraveis de devotamento á causa nacional da Constituição (a) Pedro de Toledo, governador do Estado".

"
Major Ivo Borges, commandante da Aviação Constitucionalista - Queria acceitar e transmittir aos seus denodados companheiros de aviação constitucionalista a expressão do mais sentimento de pesar pelo tragico desapparecimento de José Angelo Gomes Ribeiro e Mario Machado Bittencourt, gloriosos defensores da civilização brasileira a cuja grande causa prestaram o inexcedivel concurso das suas azas immortaes, em exemplos de fulgurante civismo. Em meu nome pessoal e do governo do Estado de S. Paulo lamento a irreparavel perda, que enriquece o thesouro dos nossos sacrificios como tambem augmenta a divida de gratidão da patria para com aquelles que tão heroicamente e defendem, no campo da honra.
Pedro de Toledo, Governador do Estado.
" (Folha da Manhã, segunda-feira, 26 de setembro de 1932).


Mario Machado Bittencourt e José Angelo Gomes Ribeiro
Foto publicada com a matéria

Mario Machado Bittencourt era neto do marechal Carlos Machado Bittencourt, que ficou famoso durante a Guerra de Canudos e perdeu a vida defendendo o presidente Prudente de Moraes de um atentado em em 5 de novembro de 1897.

Por decreto de 5 de abril de 1940, "Herói de Guerra e Mártir do Dever, que sublimou as Virtudes Militares de Bravura e Coragem", Carlos Machado Bittencourt foi consagrado como Patrono do Serviço de Intendência do Exército Brasileiro, em "honra a seu espírito de organização que contribuiu para a vitória do Exército na guerra de Canudos."


O marechal Carlos Machado Bittencourt e nota de jornal sobre avô e neto
Imagens publicadas com a matéria

A morte e a morte de Mario Machado Bittencourt - No ano de 1957, nas comemorações de 25 anos do aniversário da Revolução Constitucionalista a Sociedade de Veteranos de 1932 MMDC custeou e ergueu um monumento aos dois aviadores na Praia de Pitangueiras no Guarujá, ao lado do então Grande Hotel de La Plage (local do suicídio de Alberto Santos Dumont ocorrido dias antes da morte de Machado Bittencourt) com a Ilha da Moela ao fundo. Anualmente no dia 24 de setembro eram prestadas homenagens aos aviadores em belíssimas cerimônias que contavam com a participação de civis e militares, além de familiares dos dois aviadores.


Um integrante do Regimento de Cavalaria 9 de Julho em sentinela ao lado do monumento, em setembro de 1957
Fotos publicadas com a matéria

Infelizmente os nossos governantes e nosso povo tem memória curta.
O tempo e a ação de vândalos apagaram daquele local qualquer informação sobre o monumento. Resta hoje apenas uma estrutura de concreto mal pintada de branco. Me pergunto quantas pessoas sabem do que se trata essa estrutura? A resposta me parece óbvia e desoladora.


"Setembro de 2010. Essa é a memória que preservamos: Um enorme branco"
Fotos e legenda publicadas com a matéria

 


"Uma pequena montagem, mostrando na mesma imagem o ONTEM e o HOJE. Para esta imagem se tornar realidade no AMANHÃ, juntamente com alguns interessados em preservar este monumento estamos iniciando uma movimentação no sentido de sua recuperação. Contamos também com o apoio do coronel Ventura, da Sociedade Veteranos de 32 MMDC. Ainda estamos no plano das ideias, mas se você quiser ajudar basta entrar em contato pelo e-mail tudoporsp1932@gmail.com"
Foto e legenda publicadas com a matéria

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Clique na imagem para obter o arquivo PDF com o artigo Aviação Paulista na Revolução Constitucionalista de 1932 - Luta aérea nos céus do Brasil, de Expedito Carlos Stephani Bastos
Original no site ECSB Defesa (acesso: 13/1/2013)

O avião Waco Verde no museu da TAM:


O avião Waco CSO usado em 1932 é preservado no Museu da TAM em São Carlos/SP
Fotos: bloque Tudo por São Paulo 1932 (acesso em 13/1/2013)