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HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ
Os catraieiros e suas (muitas) histórias (1)

Desde o início do século XX, quando Guarujá começou a ser urbanizado, vem crescendo o movimento de transporte de passageiros e mercadorias na ligação com a vizinha cidade de Santos, atravessando o Estuário do porto santista. Os homens que fazem esse serviço - os catraieiros - e suas histórias são o tema desta matéria dos jornalistas Joaquim Ordonez e Nilson Regalado, publicada em 15 de janeiro de 2005 no suplemento Guarujá do jornal santista A Tribuna:


O serviço de catraias teve importante papel na transformação econômica e social do Distrito
Foto: José Moraes, publicada com a matéria

TRANSPORTE
Catraias fazem parte da história de VC

Saga dos catraieiros começou na década de 30, no antigo Itapema

Fundada em 1952, a Associação dos Catraieiros desempenhou um papel fundamental na transformação econômica e social do Itapema, nome original do Distrito de Vicente de Carvalho. A saga dos catraieiros começou ainda na década de 30, quando a travessia do Canal do Estuário era feita por pequenos barcos a remo com capacidade para apenas quatro passageiros. Originalmente executado por migrantes nordestinos, o serviço atravessou gerações, se transformando num exemplo positivo de cooperativismo.

Dos tempos em que o embarque e desembarque era feito em uma pequena casa de madeira à beira do mangue, restaram apenas lembranças. A dedicação de homens que chegavam a fazer jornadas de trabalho de até 24 horas melhorou a condição de vida de toda a população de Vicente de Carvalho, estimada em 130 mil habitantes.

Hoje, os 58 associados contam com dois estaleiros e uma oficina mecânica. E o serviço sustenta 130 famílias: "Sempre tivemos união. Quando a embarcação de um de nós quebra ou precisa de manutenção a Associação compra o material e o catraieiro paga a despesa a prazo", salienta o presidente da entidade, Walter Ferreira da Nóbrega.

Atual presidente, Nóbrega trabalha nas catraias desde os oito anos de idade, quando trocou as brincadeiras na rua pelos trocados que ganhava lavando as embarcações. Mais velho, trabalhou como cobrador na catraia do pai, até que conseguiu comprar sua própria embarcação.

Anjos da guarda - Em quase 70 anos de atividade, apenas dois acidentes com vítimas foram registrados. Atentos, os catraieiros também atuaram como salva-vidas durante o incêndio do cargueiro Ais Giorgis, que afundou em janeiro de 1974, matando um tripulante.

O número de mortes só não foi maior porque os catraieiros que faziam o plantão noturno perceberam o incêndio e foram em direção ao navio na tentativa de resgatar tripulantes, estivadores e conferentes que se atiravam no mar para fugir das chamas.

"Ficamos rodeando o navio para ajudar no salvamento. Os bombeiros ainda não tinham esse barco que lança água à distância e os navios que estavam próximos foram se afastando. Foi sério e triste de ver", relembra Antonio Pedro da Silva, que trabalha com as catraias desde 1963 e prepara o filho para sucedê-lo na função.

Mais recente, o acidente com o pesqueiro Marcelo Bremen também ficou marcado na retina dos catraieiros. Depois de adernar no Canal do Estuário, o barco afundou com várias pessoas a bordo, mas a rápida ação das embarcações de transporte permitiu o salvamento de pelo menos quatro tripulantes.

 

Alagoano foi um inovador no serviço

 

Pioneiro e destemido, Teté deixou saudade

Quando se fala em catraia, os mais antigos na profissão não esquecem a figura lendária do seo Teté, apelido de José Tomaz dos Santos, um dos pioneiros do serviço de travessia entre Santos e Guarujá. Alagoano da cidade de Igreja Nova, bem jovem, assim como muitos conterrâneos, ele veio tentar a sorte no "Sul", expressão utilizada pelos nordestinos nos anos 50 para designar o Estado de São Paulo.

Por mais de 30 anos, seo Teté transportou de deputados a governadores, como Adhemar de Barros, que não deixava Guarujá sem conversar com o velho catraieiro. Do serviço com as "canoas", o alagoano semi-analfabeto retirou o sustento da família, formou três filhos: um advogado, um delegado e um produtor de teatro, televisão e cinema.

O transporte dos trabalhadores entre as duas margens do Canal do Estuário mudou definitivamente a economia e o cenário do Centro de Santos e do Itapema, nome original do Distrito de Vicente de Carvalho.

Inovador, seo Teté revolucionou o trabalho ao introduzir os motores a diesel com quatro cilindros. Nas mãos do mestre, as catraias cresceram e passaram a rebocar também as barcaças carregadas de bananas vindas das fazendas localizadas ao longo do Canal de Bertioga.

Em parceria com o sócio Dionísio Ferreira Conde, seo Teté chegou a ter cinco catraias. Até o ex-prefeito e ex-deputado federal Maurici Mariano comprou uma de suas embarcações.

Orgulhoso da profissão, enquanto viveu sempre devotou verdadeira adoração por suas catraias. Já doente, ficava deprimido se não conseguia chegar até a Bacia do Mercado para ver suas embarcações.

O velho catraieiro até tentou encontrar ocupação em outras áreas. Chegou a trabalhar na lavoura da banana, onde foi peão e feitor da Fazenda Mambu, em Itanhaém, mas o mar o havia seduzido definitivamente.

Valente como todos os migrantes que contribuíram para a riqueza de São Paulo, seo Teté fez sua última viagem no dia 29 de fevereiro de 2000, quando foi vencido pelo oitavo derrame cerebral.


Teté atou mais de 30 anos como catraieiro
Foto: José Moraes, publicada com a matéria

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