Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/guaruja/gh019i.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/22/12 20:17:57
Clique aqui para voltar à página inicial de Guarujá
HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ - RIOS
Rio da Pouca Saúde

Leva para a página anterior

O Rio da Pouca Saúde é na verdade uma gamboa, que se comunica com a margem esquerda do Estuário do Porto de Santos, no bairro Porto (em Guarujá).:


Rio da Pouca Saúde, desde o estuário do porto santista (à esquerda na imagem) até o ponto mais interior da ilha de Santo Amaro
Imagem via satélite de Google Maps, em 2012 (acesso em 22/12/2012)


O curso d'água, em visão mais aproximada, desde o Estuário do porto, atravessando as avenidas Bento Pedro da Costa e Santos Dumont
Imagem via satélite de Google Maps, em 2012 (acesso em 22/12/2012)


O rio, entrevisto no meio da vegetação às margens da Avenida Santos Dumont
Imagem: Street View/Google Maps, em março de 2011 (acesso em 22/12/2012)

Registro da seção Aves no Porto do site PortoGente (acesso em 22/12/2012):


Aves observadas no Rio Pouca Saúde

Imagens publicadas com a matéria

Rio da Pouca Saúde

O que chamamos de rio, na verdade trata-se de uma gamboa. Esta designação, totalmente popular, é o nome dado a um braço de rio de mangue, que não tem nascente e está sempre sob influência da maré. Tanto que na maré baixa uma gamboa pode ficar completamente seca (ou mesmo o próprio rio).

O rio da Pouca Saúde, anteriormente denominado "gamboa do Juca", atinge uma região além da estrada da Conceiçãozinha, passando bem ao lado do Hospital Santo Amaro, em Guarujá (SP). Não se pode dizer que o rio nasce ali, pois uma gamboa não tem nascente. Mas é garantido que ele "morre" ao passar por ali pelas palafitas existentes ao longo de seu curso.

SURPRESAS NUM RIO ABANDONADO

Em visita ao chamado Rio da Pouca Saúde, constatamos o porquê deste nome. Palafitas debruçam-se sobre a franja do manguezal, lançando ali toda a sorte de esgoto e lixo doméstico. Por todo o rio, pode-se ver sacos de lixo boiando e uma fina película de óleo de embarcações recobre a superfície. Nossa visita deu-se num barco da Prefeitura de Guarujá [1], e nos acompanhavam dois funcionários da empresa Cargill.

Entrando no rio Pouca Saúde pelo canal de Santos

Uma pequena batuíra no meio dos sacos de plástico

Fotos publicadas com a matéria

Entramos no rio tendo a Citrosuco à nossa direita, e um pequeno banco de lodo à esquerda. Nele, pequenos caranguejos chama-maré (Uca sp.) moviam-se rapidamente e entravam em suas tocas com a aproximação do barco. Ao longo das margens, avistamos bandos de socós-caranguejeiros (Nyctanassa violacea), um notável habitante dos manguezais, predador de caranguejos. Alguns urubus (Coragyps atratus) empoleiravam-se nos galhos e caules-escora dos mangues-vermelhos (Rizophora mangle), de onde observavam o rio à procura de peixes mortos. Para eles, alimento ali não era problema.

Palafitas lançando esgoto e lixo doméstico no manguezal

Casal de quero-queros

Fotos publicadas com a matéria

Algumas garças-brancas-pequenas (Egretta thula) corriam nas margens lodosas, pescando pequenos peixes. Sua bicada é certeira, e raramente erra o alvo. Um longo pescoço de repente emergiu da água escura, e então vimos um biguá (Phalacrocorax brasilianus) que pescava mergulhando atrás de suas presas. É impressionante como o biguá consegue enxergar os peixes debaixo das águas turvas, principalmente num rio como esse.

De repente, um bando de agitados passarinhos azuis cruza o rio voando, indo pousar numa alta árvore de mangue-branco (Avicennia shaueriana). Eram os alegres figuinhas-do-mangue (Conirostrum bicolor), uma espécie extremamente adaptada à vida nas árvores do manguezal. Eles cantavam sem parar enquanto procuravam por insetos nas folhas do mangue.

Em poucos segundos, um casal de marrecas-toucinho (Anas bahamensis) sobrevoa a superfície do rio, passando ao lado do nosso barco, e logo desaparece na próxima curva. Ficamos muito surpresos por encontrar aves vivendo num rio que, como o próprio nome já diz, não é dos mais saudáveis. Mas nós ainda nem imaginávamos o que estava por vir...



Barco da Secretaria de Meio Ambiente de Guarujá para fiscalizar as áreas de preservação [1]

Foto publicada com a matéria

Diminuímos a velocidade do barco, pois o motor já estava quase encostando no leito. Aquele era um trecho raso, onde era preciso tomar muito cuidado para não encalhar. Desligamos o motor e deixamos que a maré enchente nos levasse até uma margem onde, ao invés de árvores de mangue, cresciam palafitas.

Nossa presença foi rapidamente anunciada por um casal de quero-quero (Vanellus chilensis) que procurava alimento no lodo. Mas foi só chegar mais perto e vimos que eles não eram os únicos que se alimentavam ali. Pequenos batuíras-de-bando (Charadrius semipalmatus) corriam velozmente, como se tivessem rodinhas nos pés.

Mais adiante, um grande bando de maçaricos-de-perna-amarela (Tringa flavipes) também se alimentava, caminhando na beira da água com suas longas pernas amarelas. Ambas são espécies migratórias, que “fogem” do Canadá quando chega o implacável inverno. Então, um bando de oito maçaricos-pintados (Acitis macularia) passa voando rente à água. Eis aí outra espécie vinda do Hemisfério Norte.

Ficamos mais que contentes ao ver que aves migratórias ainda utilizam nossos agonizantes manguezais como ponto de repouso e alimentação. Não há como não pensar na distância que estas aves percorrem para aproveitar o calor e a generosa abundância de alimento dos trópicos.

É uma pena que nós não possamos oferecer uma hospedagem melhor, sem poluição. Rios mais limpos e manguezais mais saudáveis atrairiam não só as aves de fora, mas também turistas interessados em observar e admirar a natureza.

[1] Agradecemos o Secretario do Meio Ambiente de Guarujá, Elcio Maceió, pela apoio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRETAS, E. & SIGRIST, T: Desenho Científico de Aves. Anais do V Congresso Brasileiro de Ornitologia, UNICAMP, Campinas, 1996.

FRISCH, J.D. & FRISCH C.D. Aves Brasileiras e plantas que as atraem. Dalgas Ecoltec, SP. 2005

HÖFLING, ELIZABETH-ALMEIDA DE CAMARGO, HÉLIO F: Aves no Campus – Edusp. São Paulo (3ª Edição), 1999.

MOORE, HOWARD R, A:. A complete checklist of te birds of the world. 2. ed. London, Academic Press. 622 p. 1991.

OLMOS, F & SILVA, R.S. Guará-Ambiente, Fauna e Flora dos Manguezais de Santos-Cubatão. Ed. Empresa das Artes, SP 2003

RUSCHI, AUGUSTO: Aves do Brasil – Editora Rios, São Paulo, 1981.

SCHAUENSEE, R.M: A Guide to the Birds of South America. ICBP, 498 p., 1982.

SICK, HELMUT: Ornitologia Brasileira. Ed. Nova Fronteira, 1997.

SOUZA, DEODATO: Todas as aves do Brasil. Editora DALL. 1998.


Clique na imagem para voltar ao quadro de aves BIGUÁ: Phalacocorax brasilianus
Ordem: PELICANIFORMES
Família: phalacrocoracidae
Comprimento: 33 cm

O Biguá é a maior das 29 espécies do seu grupo. É uma ave grande, de asas curtas, maxila superior curva e com os 4 dedos do pé ligados por uma membrana. Ele nada e mergulha atrás de presas aquáticas, mas depois do banho, precisa abrir as asas para secá-las. Não desenvolveu, como outras aves marinhas, o óleo protetor de penas. Em compensação, a ausência do óleo permite maior agilidade na hora do mergulho. Muitos biguás fazem ninho em penhascos ou árvores, utilizando gravetos, algas e outros vegetais coletados no local. Fazem turnos para a incubação de seus três a cinco ovos, durante um mês, até os filhotes saírem da casca.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves GARÇA-BRANCA-GRANDE: Ardea alba
Ordem: CICONIFORMES
Família: Ardeidae
Comprimento: 90 cm

A garça é uma ave pernalta que vive na borda dos rios, nos mangues e estuários. Para pescar, corre nas margens atrás de cardumes ou move rapidamente um dos pés sob a água para atrair suas presas. Durante a época de reprodução ambos os sexos vestem as plumas delicadas que se eriçam durante a dança nupcial. Reproduz-se em colônias chamadas ninhais, nos quais podem ser encontradas centenas de ninhos. O casal se reveza na incubação. Quando nascem os filhotes, fornece-lhes alimento regurgitado.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves GARÇA-BRANCA-PEQUENA: Egretta thula
Ordem: CICONIFORMES
Família: Ardeidae
Comprimento: 55 cm

Este espécie distingue-se da garça-branca-grande, não só pelo tamanho mas também por apresentar as pernas e o bico negros e os dedos dos pés amarelos. Nesta garça, durante o período de reprodução, as egretas aparecem em ambos os sexos no dorso, na cabeça e no peito. Alimenta-se de peixes e invertebrados capturados comumente dentro d’água. Numa plataforma de galhos secos sobre uma árvore, a fêmea põe de 3ª 7 ovos. Durante 25 a 26 dias, o casal se reveza na incubação. Quando nascem os filhotes, fornece-lhes alimento regurgitado.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves SOCÓ-CARANGUEJEIRO: Nyctanassa violácea
Ordem: CICONIFORMES
Família: Ardeidae
Comprimento: 43 cm.

Habitante do manguezal, o socó-caranguejeiro, como não poderia deixar de ser, é um especialista em caranguejos. Possui grandes olhos vermelhos para enxergar à noite, hora em que a maioria dos caranguejos está em atividade. Para caçá-los, caminha lentamente em meio ao manguezal, capturando-os de emboscada. Na época da reprodução, as pernas do socó-caranguejeiro ficam vermelhas e eles saem por aí exibindo suas belas cristas uns para os outros. É uma espécie vulnerável, pois depende dos caranguejos que também são muito procurados pelo homem.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves SOCÓ-DORMINHOCO: Nycticorax nycticorax
Ordem: CICONIFORMES
Família: Ardeidae
Comprimento: 60 cm

A sua posição preferida é a horizontal, estendendo o pescoço e a cabeça com frequência. Durante a pesca, fica parado equilibrando-se num galho e inclina-se para frente até encostar o bico na água. Nos momentos de excitação, eriça as penas do topete e agita as retrizes para cima e para baixo. O socó se alimenta de peixes, anfíbios, pequenos répteis e invertebrados capturados dentro d’água. Constroem uma plataforma de galhos numa árvore. Nesse ninho, a fêmea põe 3 ou 4 ovos. O período de incubação é de 21 a 23 dias.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves SOCOZINHO: Butorides striatus
Ordem: CICONIFORMES
Família: Ardeidae
Comprimento: 35 cm.

Este é um pássaro solitário que vive em qualquer área alagada. Quando voa, emite um grito parecido com um “tchau”, que chama a atenção para a sua presença. O socozinho é famoso por jogar pão ou folhas na água para atrair os peixinhos. Aí, é só esperar para encher o papo! Ao contrário das outras espécies da família não se agrupa em colônias durante a reprodução. O ninho, como uma plataforma, é construído com galhos secos e no alto de árvores.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves URUBU: Coragyps atratus
Ordem: CATHARTIFORMES
Família: Cathartidae
Comprimento: 60 cm

O urubu é o menor dos abutres americanos, todos eles aparentados com o condor dos Andes. Essa ave pode ser vista planando nos céus de todas as Américas. Como um espectador indolente, ele paira lentamente por sobre os cumes das árvores. É comedor de cadáver e se não pode encontrar um bicho morto, caça rãs, lagartos e pequenos roedores. Os filhotes nascem em ninhos construídos no chão ou em arbustos espinhosos. As penas da cabeça e do pescoço caem após seis semanas, pondo à mostra uma pele enrugada e azul-escura. Possuem uma excelente visão, podendo enxergar um animal do tamanho de um gato a uma distância de três quilômetros.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves IRERÊ: Dendrocygna viduata
Ordem: ANSERIFORMES
Família: Anatidae
Comprimento: 45 cm.

Um dos patos mais comuns do Brasil, vive até mesmo em áreas urbanas. Passam o dia agrupados nos locais onde se alimentam. À noite deslocam-se para a área onde dormem. Voam em grandes bandos, às vezes de milhares de aves, voando em forma de um grande "V". Enquanto fazem seu voo noturno, é comum ouvir seus gritos: irerê...irerê. Encontramos um grupo de nove irerês descansando numa margem lodosa do brejo do CING em julho de 2005, mas eles não foram mais vistos.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves MARRECA-TOUCINHO: Anas bahamensis
Ordem: ANSERIFORMES
Família: Anatidae
Comprimento: 45 cm.

Esta bela espécie vive em ambientes alagados, estuários e manguezais. Suas penas são dispostas de uma forma muito compactada, evitando a penetração de água. Em determinada época do ano, quando troca de plumagem, a marreca-toucinho fica impossibilitada de voar. Não se sabe de onde vem seu nome popular. Talvez seja porque o gosto de sua carne lembra toucinho. A característica peculiar do bico é o seu formato achatado, parecendo uma espátula. Há um bando de dezenas de marrecas-toucinho que utilizam o brejo do CING nos meses de inverno.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves CARRAPATEIRO: Milvago chimachima
Ordem: FALCONIFORMES
Família: Falconídae
Comprimento: 40 cm.

É uma espécie muito comum, que vive em áreas abertas de quase todo o Brasil. Possui o hábito de pousar sobre o gado doméstico para se alimentar de carrapatos, o que dá origem ao seu nome popular. Seu grito é um 'kiliá', parecido com o do gavião-carijó (Rupornis magnirostris), porém mais rouco, emitido constantemente em vôo. Costuma patrulhar as estradas e praias atrás de animais mortos.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves BATUIRA-DO-BANDO: Charadrius semipalmatus
Ordem: CHARADRIIFORMES
Família: Charadriidae
Comprimento: 15cm.

Esta espécie pode ser encontrada em bandos nos manguezais e bancos de lodo, onde se alimenta dos micro-crustáceos que encontra na lama. Pode-se observar alguns bandos principalmente nos manguezais às margens do Rio Santo Amaro e no brejo do CING, onde sua cor faz com que se confundam com o lodo. A batuíra-de-bando permanece na região até meados de agosto, quando voam para o Ártico para se reproduzir, retornando no começo de setembro. Apesar disso, alguns exemplares permanecem na região o ano todo.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves BATUIRUÇU: Pluvialis dominica
Ordem: CHARADRIIFORMES
Família: Charadriidae
Comprimento: 15 cm.

Esta espécie aparece em nossa região entre setembro e dezembro, quando vem do Ártico. Não é muito abundante, mas alguns exemplares podem ser avistados no brejo do CING. Como é comum em muitas aves marinhas e aquáticas, possui uma plumagem no inverno e outra totalmente diferente no verão. Vive à beira d’água e é bastante confiado, permitindo uma certa aproximação do homem. Faz o ninho nas distantes costas árticas, onde põe normalmente de três a quatro ovos. É também chamado de batuíra-do-campo.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves QUERO-QUERO: Vanellus chilensis
Ordem: CHARADRIIFORMES
Família: Charadriidae
Comprimento: 35 cm.

É uma espécie muito conhecida, podendo ser encontrada em qualquer área descampada, mesmo dentro das cidades. Sua voz é muito característica, lembrando "quero-quero", o que originou o nome comum da espécie. Vive em casais, mas eventualmente pode formar grandes bandos. O ninho é uma cavidade rasa no solo que o casal defende com bravura, atacando com voos rasantes quem quer que se aproxima, como cães ou até mesmo o homem. Seus voos rasantes assustam mesmo. Além disso, possui em cada asa um esporão laranja usado como arma de defesa.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves MAÇARICO-DE-PERNAS-AMARELAS: Tringa flavipes
Ordem: CHARADRIIFORMES
Família: Scolopacidae
Comprimento: 33 cm

Esta espécie se reproduz entre maio e agosto no ecossistema chamado taiga, no norte do Canadá e Alasca. Assim que os filhotes tornam-se independentes, os maçaricos começam a migrar para o sul, fugindo do longo inverno boreal. Esses gringos chegam em nossa região entre agosto e setembro, quando podem-se encontrar bandos que chegam a ter até cem indivíduos. Esses bandos permanecem nos manguezais da Baixada Santista, enchendo a barriga e descansando da longa viagem – daí a importância de se preservar estes ecossistemas. No brejo do CING encontramos maçaricos-de-perna-amarela mesmo durante a época de reprodução.
Clique na imagem para voltar ao quadro de aves MARTIM-PESCADOR: Ceryle torquata
Ordem: Coraciiformes
Família: Alcedinidae
Comprimento: 40 cm

O martim-pescador se alimenta de peixes, capturados dentro d’água. Observa suas presas desde um alto poleiro. Na ausência de um poleiro de observação, o martim-pescador pode pairar no ar peneirando, como fazem alguns gaviões. Constroem o ninho em barranco, escavando-o com auxílio dos pés, um túnel horizontal, mede de 1 a 2 metros de comprimento onde são postos cerca de 4 ovos. Os membros do casal incubam os ovos; eles se revezam nesta tarefa a cada 24 horas.

Leva para a página seguinte da série