Clique aqui para voltar à página inicialESPECIAL: Revolução de 1932
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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/09/03 13:07:15

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A revolução em fotos (20)

Nestas páginas, são mostradas as fotos apresentadas pela primeira vez pela antiga revista O Mundo Ilustrado, do Rio de Janeiro, em edição especial comemorativa dos 22 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, publicada em 7 de julho de 1954, mantidas as legendas e os textos que acompanhavam essas imagens (a revista não citou os autores das fotos):

UM SÍMBOLO - Cabeça de neve, olhar cândido, fisionomia calma, o símbolo da mulher paulista continua a praticar o bem no seu recanto morno e acolhedor. Doutora Carlota Pereira de Queiroz! Quem não a conhece em São Paulo? Mulher vigorosa, física e moralmente. Apaixonada por seu torrão natal, não mede sacrifícios quando se trata de fazê-lo grande e respeitado. Teve o seu prêmio quando foi eleita deputada federal por São Paulo. Eis o seu depoimento:

"A mulher paulista integrou-se imediatamente no movimento revolucionário. Compreendeu o alcance e percebeu a finalidade da revolução. Colocou-se na retaguarda. Não houve atividade de que não tivesse participado. Damas da melhor sociedade, até ao preparo do material bélico emprestaram colaboração eficaz. Os serviços, desde os mais grosseiros, foram executados sem vacilações. Isto mostra que a mulher inspirou confiança aos mentores da revolução.

"Dentro de suas possibilidades, lutou sem esmorecimentos. Até nas trincheiras ela esteve. D. Stela Sguassiaba alistou-se como voluntária. Pegou no fuzil e combateu. É uma magnífica senhora de São João da Boa Vista.

"Coube-me a honra de dirigir o Departamento de Assistência aos Feridos. Iniciei, nessa oportunidade, o Serviço Social. As senhoras atuavam nos hospitais de sangue. O Departamento por mim dirigido fornecia o necessário aos soldados constitucionalistas. Também os mutilados eram devidamente amparados e recebiam conforto moral. Grandes dias vivemos! Quanta dedicação! O Brasil todo deve se orgulhar da revolução paulista.

"As demonstrações de amor à nossa causa eram constantes e comoventes. Certa feita, uma senhora de cor, pobremente trajada, compareceu ao Departamento e ofereceu-se para cooperar. Não tinha dinheiro para ajudar São Paulo, mas comprara um pacote de cigarros para os soldados. Era pobre, mas com sacrifício continuaria ajudando. Outra, também de origem modesta, pediu-me que a deixasse ajudar. Não sabia costurar, mas limparia o chão de bom grado.

"Meu jovem amigo, o Brasil precisa e deve conhecer bem a história da Revolução Paulista. É ela um grande manancial de ensinamentos para a juventude de hoje. As suas páginas gloriosas estão escritas com sangue, sangue de gente valorosa e patriota que se sacrificou por uma causa justa e nobre. Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo não morreram em vão. MMDC significa tanto para São Paulo e para os paulistas, que difícil se torna dizer quanto. Morreram os quatro no dia vinte e três de maio, na Praça da República. No local em que tombaram varados pelas balas assassinas da ditadura floresce, hoje, uma civilização magnífica, onde o amor ao Brasil se sobrepõe a tudo e a todos".

CARLOTA QUEIROZ, HEROÍNA DA REVOLUÇÃO - A contribuição da mulher paulista, no movimento constitucionalista de 1932, foi inestimável. Cheias de fé, entusiasmo cívico e força de vontade, as senhoras da sociedade paulista trabalharam sem esmorecimento em prol da causa sagrada. Abandonando as comodidades domésticas e vindo para as ruas sofrer com os bravos que pugnavam por um Brasil melhor, a mulher bandeirante escreveu páginas e páginas na gloriosa história da revolução.

A doutora Carlota Siqueira de Queiroz, dotada de invulgares predicados morais, verdadeiro símbolo da mulher paulista, teve atuação marcante durante os agitados dias em que viveu o grande estado da União. Trabalhando como um mouro dia e noite, a doutora Carlota tornou-se famosa e respeitada. A sua ação na retaguarda foi notável. Mercê da dedicação e elevado espírito de solidariedade humana, a heroína bandeirante deu início, no Brasil, de forma efetiva, àquilo que hoje chamamos de Assistência Social. Hoje, passados tantos anos, a doutora Carlota de Queiroz ainda é citada, em todo o Brasil, como um exemplo de abnegação, espírito combativo e solidariedade humana

O FAMOSO BATALHÃO ACADÊMICO - O dr. Francisco Emigdio Pereira Neto, tesoureiro da Faculdade de Direito de São Paulo, é uma das figuras mais populares e queridas da grande metrópole paulista. Homem bonachão, simples e amigo de todos, Emigdio, como é mais conhecido, mercê atuação marcante e correta na Faculdade, fez-se credor da estima e da consideração da estudantada, que vive a assediá-lo à procura de solução para os seus problemas de ordem particular. Emigdio também teve atuação de relevo na Revolução, razão pela qual reservamos um cantinho nesta reportagem para o seu depoimento.

"Tão logo estourou o movimento constitucionalista, formou-se, aqui na Faculdade o Batalhão 14 de Julho, isto na madrugada do dia nove. O seu primeiro nome foi 1º Batalhão Universitário Paulista e o nosso batismo de fogo se verificou no dia 14, nas proximidades de Itararé. Fizemos todo o setor Sul até o Rio das Almas. Combatemos até três dias após o armistício.

"O nosso batalhão, inicialmente, foi comandado pelo major Mário Rangel. Depois tivemos como chefe o major Cândido Bravo, hoje exercendo função de destaque na Força Pública. Tivemos sete mortos e grande número de feridos. Os estudantes paulistas foram bravos soldados e os seus feitos ainda são lembrados com exaltação por quem os conhece.

"São Paulo lutou por um ideal nobre e alevantado. Perdemos a batalha, mas não a causa. Queríamos a Constituição e a tivemos. Morreu muita gente, porém o Brasil conseguiu se libertar e isto nos bastou. O túmulo do soldado desconhecido, que erigimos no pátio da Faculdade, perpetuou o nosso reconhecimento pelo muito que fizeram por nós os heróis que tombaram no campo de luta.

"Orgulho-me de ter participado do movimento libertador. Nada tenho para legar a meus filhos, a não ser a glória de ter combatido, de armas na mão, em defesa dos princípios de liberdade e de decência, que são o apanágio do povo de minha terra.

"São Paulo, como parcela deste imenso Brasil, quis, apenas, em 32, que a ditadura odiosa que nos oprimia tivesse fim. Não pensamos em nos separar do resto da União. O que os agentes da ditadura afirmavam, naquela ocasião, era fruto do maquiavelismo que caracterizava os mentores da Nação. Estamos satisfeitos, hoje, porque a Democracia, boa ou má, prepondera em nosso meio. Somos livres e temos o direito sagrado de escolher, errada ou acertadamente, os nossos chefes".

Agradecimento - Antes de encerrarmos esta reportagem, queremos apresentar, de público, os nossos agradecimentos aos senhores Júlio de Mesquita Filho e Jorge Mancini, fundador e presidente da Associação dos Ex-Combatentes de São Paulo, pela colaboração inestimável que nos deram para a feitura do número especial de O Mundo Ilustrado. Não fora a boa vontade desses ilustres paulistas, não teríamos colhido o farto e sensacional material fotográfico que estampamos em nossas páginas.