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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
José Baptista Coelho (João Phoca) - 1

Sobre este jornalista e escritor, que também usou o pseudônimo de Victor Brazil, o antigo jornal Commercio de Santos publicou, na edição especial pelo centenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1922 (ortografia atualizada nesta transcrição):

Baptista Coelho

Baptista Coelho

Imagem publicada com a matéria

José Baptista Coelho (João Phoca) nasceu nesta cidade a 1º de janeiro de 1876 (N.E.: SIC: outros autores informam o ano 1877). Iniciou sua carreira de jornalista no antigo Diário de Santos, onde muito escreveu sob o pseudônimo de Victor Brazil, que depois conservou na Imprensa, de Ruy Barbosa.

No Rio de Janeiro, passou depois para a Cidade do Rio, de J. do Patrocínio, aí trabalhando como secretário até o fechamento da folha.

A popularidade do seu pseudônimo João Phoca nasceu das crônicas publicadas no Jornal do Brasil.

Fez várias viagens pelo interior do Brasil e uma à Europa, em companhia de artistas como Raul Pederneira, Luiz Peixoto, Abigail Maia, Luiz Moreira, Chaby e Ruy Collaço.

Sua bagagem literária é vultosa. Seus trabalhos principais foram os livros de contos Caiçaras e Praieiros, inspirados nos costumes da gente pobre das praias de Santos.

Traduziu várias peças francesas e produziu originais para os nossos teatros, tais como: Não venhas; O maxixe, de colaboração com Bastos Tigre; Dinheiro haja, de colaboração com Ataliba Reis; Fado e maxixe e O diabo que o carregue, de colaboração com André Brum; Babel, A terra gaúcha, Povoamento do solo, Sem vontade e Braz Bocó.

Deixou duas comédias inéditas, O 116 e Sinhazinha.


João Phoca foi um dos mais queridos humoristas brasileiros, a sua memória é carinhosamente guardada pelos intelectuais que o conheceram e estimaram na capital da República. Humorista, insinuante, era Baptista Coelho filho do famoso Chico Cuyabano, também terrível poeta.

João Phoca, tal o pseudônimo que adotou aquele, nasceu em Santos, porém muito moço transferiu-se para o Rio de Janeiro, de onde o seu nome, através da imprensa, se irradiou por todo o país, tornando-se logo vastamente conhecido.

Uma das músicas com participação de João Phoca foi assim registrada pelo blogue MPB Cifrantiga (acesso em 6/2/2012):

O vatapá (tango, 1907)

Paulino Sacramento, Bastos Tigre e João Foca

Em 1906 o maestro e chefe de orquestra do teatro musicado carioca Paulino Sacramento faz o tango O vatapá (ou um maxixe-receita?) para a revista O maxixe, de Dom Xiquote (Bastos Tigre) e João Phoca (Batista Coelho), encenado no Teatro Carlos Gomes no Rio de Janeiro.

O tango, dançado como maxixe na peça, obteve tal sucesso que chegou a ser gravado ainda na primeira década do século XX em disco Brazil (Gran Record Brazil, número 70.219, selo verde e amarelo, gravado só de um lado), cantado em dueto por Albertina Rosa e Orestes Matos, que acentuava a malícia da letra, explicando com isso a preferência da música no repertório das alegres pensionistas de Madame Pommery:

Ele e ela: Vatapá, comida rara
É assim, Iaiá, que se prepara
Vatapá, comida rara
É assim, Iaiá, que se prepara


Ela: Você limpa a panela bem limpa
Quando o peixe lá dentro já está,
Bota o leite de coco, o gengibre,
E a pimenta da Costa e o fubá


Ele e ela: Mexe direito pra não queimar
Mexe com jeito o vatapá...
(bis)

Ele e ela: O vatapá, etc.

Ela: O camarão torradinho se ajunta,
Ao depois da cabeça tirar...


Ele: Mas, então, a cabeça não entra?

Ela: Qual cabeça, seu moço, qual nada!
Mexe direito,
etc... (bis)

 

Ouça:
O Vatapá, em ritmo de maxixe, interpretada por Geraldo Magalhães e Medina de Souza, álbum 98453 da Gravadora Victor Record, gravado e lançado em 1908/1912, disco 78 rpm/lado único, no acervo de José Ramos Tinhorão. Arquivo MP3 com 3'27", 128 kbps, estéreo, 44 kHz, 3,16 MB.

Quando esteve em Portugal, João Phoca foi citado pelo jornal Resistência, do Partido Republicano de Coimbra, na edição de 26 de março de 1909, aqui transcrita na ortografia original:

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Reprodução parcial da primeira página do jornal, com a notícia

Clique >>aqui<< ou na imagem acima para obter o arquivo original no formato PDF (4,48 MB)

Baptista Coelho


Realizou hontem, como estava annunciada, no theatro-circo, a sua conferencia, João Phoca, o gracioso humorista brazileiro.

Apezar do péssimo tempo que fez todo o dia, a casa estava completamente
cheia, ás duas horas, e a conferencia começou á hora precisa.

João Phoca é um jornalista de espirito, brincando com as ideias e com as palavras, sempre com o mais delicado bom humor, sem uma escabrosidade e mau tom, evitando o perigo fácil no assumpto — As consequências do namoro, de cahir na laracha obscena e fácil tão querida ao espirito, ou antes á falta de espirito da nossa raça.

Lembrou-nos pela apparente despretenção, pela linguagem fácil, pelo aproposito e simplicidade do espirito, Julio Cesar Machado, nos seus melhores tempos, as chronicas fáceis e graciosas de Pinheiro Chagas.

Na sua exposição, na fórma dè tratar os assumptos, João Phoca denuncia-se como chronista de jornal, sublinhando com uma nota de espirito o acontecimento do dia, a anedocta de occasião.

Usa o callemburg, como os humoristas francezes; não perde occasião de os fazer, os mais esperados mesmo, que propositadamente demora até que parece ter-lhes passado a occasião, e que assim apparecem de surpreza, como os mais originaes e inesperados.

Mas tem o bom gosto de os dizer, sem sublinhar, por fórma a que quem o ouve mal tem tempo para sorrir ao velho truc de espirito, preso já por uma nova ideia que o conferente está expondo.

Sempre elegante e fino na exposição, serve-se do plebeísmo, da phrase vulgar para accentuar mais a distincção do seu espirito.

Lê sem artifícios de eloquencia, despretenciosamente, de mãos nos bolsos; mas possue-se do que está lendo e é o primeiro a rir do que lê.

Sabe interessar. O publico está preso por aquellas folhas de papel, que elle vae voltando mechanicamente, e ouve, durante uma hora, aquelle cathedratico do riso com interesse que, nem depois da Paschoa, tem pelos da gravidade e do saber.

Fallou João Phoca uma hora, sem interrupção, apenas apoiado pelos risos em surdina dos rapazes, abafando rapidamente o riso que explodira naturalmente para não perderem o resto da phrase.

Conferencias foi um bello titulo para aquellas observações de um homem de espirito, para quem a vida não anda envolta em intrincadas psicologias, e que a acha o campo natural de ridiculos que a tornariam mais alegre para quem despreocupadamente attentasse nelles.

João Phoca é um verdadeiro conferente pela habilidade com que sabe jogar com a attenção do publico, adormecê-la para augmentar a força de um dito de espirito, e aquietando rapidamente o alvoroço em que deve deixá-la a continuação delles.

As consequências do namoro foram o pretexto de uma bella hora de conversa com um homem de espirito delicado.

A seguir á conferencia, recitou a primeira estancia dos Lusíadas, como a temos visto assassinar por francezes, italianos, hespanhoes e allemâes com luzes de portuguez, e como a recitaria uma menina de escola primaria em dia de festa escolar.

João Phoca foi muito aplaudido e teve mais uma prova de sympathia que deixa a todos que tiveram occasiao de apreciar o seu trato captivante, a excelencia do seu espirito fino e delicado, sabendo dar elegancia e distinção litteraria ás coisas mais.communs.

O distincto humorista retira-se em breve de Portugal, na continuação da viagem de recreio que veio fazer á Europa.

Boa e alegre viagem!

O famoso humorista brasileiro Barão de Itararé, Apparicio Torelly, quando esteve em Bagé, no Rio Grande do Sul, publicou no jornal local Correio do Sul, onde era colaborador, nota assinada como Apporelly e datada de 12 de junho de 1920, em que cita João Phoca. O texto foi transcrito do blogue Bagé (1811-1911-2011): Rumo aos Duzentos Anos - Olhar Sulear, contemplando o mundo (acesso em 6/2/2012):

Bagé, Correio do Sul, 12 de junho de 1920

Traços e Troças

No prefácio “Pontas de Cigarros”, um livro de versos diversos, que há tempos publiquei e que, graças a Deus e ao respeitável público, está esgotado, tive uma afirmativa que, hoje é extemporânea. Disse nesse prólogo que não desejava imortalizar-me, porque eu já era imortal por natureza... Não podia morrer... Não tinha onde cair morto. Hoje, não poderia escrever a mesma coisa. Os tempos mudaram. Tempora Mutantur (frase estrangeira que vem do Latim).

João Phoca achava que até os provérbios se deviam modificar, conforme a época. Antigamente, por exemplo, se dizia: Quem tem telhado de vidro não atira pedras no vizinho. Agora, deve-se dizer: Quem tem telhado de vidro..., é fotógrafo... Da mesma forma, hoje, não posso dizer que não tenho nada. Sim! Porque afinal, a minha honra, a minha dignidade, o meu relógio, as minhas botinas, então, não valem nada?

Assim é que resolvi desde já, como é de praxe, fazer o meu testamento, com as minhas últimas vontades. Sinto que me treme o pulso. Não é que eu tenha medo da morte. Apesar de ser muito vivo, já tenho ido morto muitas vezes. Mas é que eu não gosto de ir a enterros e irei ao meu bastante contrariado.

São estas as minhas últimas disposições: “Quando eu morrer...( cá para nós: eu carrego comigo esse pesar de não ficar para semente) em primeiro lugar, não quero que me enterrem vivo. Deixo tudo... porque não me fica bem levar as minhas bugigangas para o céu. Aos meus colegas de imprensa, peço que, ao darem a notícia do infausto acontecimento, não empregarem aquela expressão popular virou o carretão. Por um dever de respeito, que, aliás, nos merecem todos os cadáveres, noticiem, por exemplo, assim: “Quando guiava um veículo de sua propriedade, aconteceu ser vítima dum terrível desastre o apreciável Sr.

Apporelly.

O falecimento de João Phoca foi registrado na edição de 17 de julho de 1916 da publicação lusa Ilustração Portugueza, edição 543, conforme imagens reproduzidas do blogue lisboeta homônimo, Ilustração Portuguesa (acesso em 6/2/2012):

Reprodução parcial da publicação

João Foca - Faleceu no Rio de Janeiro, aos estragos da tuberculose, o apreciável escritor e jornalista sr. Batista Coelho, mais conhecido nas letras pelo seu pseudônimo João Foca. Era um grande amigo de Portugal, onde viveu alguns anos, tendo realizado conferências e escrito peças que foram muito aplaudidas, colaborando também na Illustração Portugueza.

Reprodução parcial da publicação

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