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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - A.Schmidt
O jornalista Affonso Schmidt, na Folha - 12

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Affonso Schmidt foi também colaborador do jornal paulistano Folha da Manhã, (que daria origem ao jornal Folha de São Paulo e ao grupo homônimo. Na edição de quarta-feira, 28 de dezembro de 1938, página 6, foi publicado este texto do escritor (acervo Folha - acesso em 9/4/2016 - ortografia atualizada nesta transcrição - falha cortando rodapé da página na digitalização original):

Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria

O elogio da Central do Brasil

(Copyright da Imprensa Brasileira Reunida Ltda. (I.B.R.) - Exclusividade  no Estado de S. Paulo para a "Folha da Manhã")

Afonso Schmidt

(autor de "Pirapora", "Os Impunes", "Curiango" e outros)

 

A Estrada de Ferro Central do Brasil, como uma das primeiras representantes desse gênero de transportes em nosso país, teve desde logo contra si hábitos e preconceitos, assanhados com os apitos nunca dantes ouvidos da "Baroneza". Surgiram episódios burlescos, anedotas e, já no fim do século (N. E.: século XIX), aquela famosa "Gargalhada" do palhaço Eduardo das Neves, uma gargalhada infernal que ainda hoje, quando Deus é servido, ouvimos através das estações de rádio. Quando o Brasil contava apenas uma revista popular, que era lida e comentada por todos que sabiam ler, a "verve" de Angelo Agostini interpretava assim as iniciais da estrada: Empresa Funerária Caveira de Burro.

Foi nesse ambiente de hostilidade que se formou a mentalidade de várias gerações. Nós todos trouxemos do berço e das primeiras leituras uma aguda indisposição contra a nossa maior estrada de ferro, que é também uma das maiores da América. Muita gente continua no mesmo estado de espírito, sem se dar ao trabalho de fazer estas perguntas:

A Central do Brasil será, de fato,uma ferrovia inferior às outras?

Por que motivo eu sou contra a Central do Brasil?

Se todos que dizem mal da grande via férrea se permitissem esse momento de reflexão e procurassem responder honestamente a tais perguntas, operar-se-ia, com toda certeza, um milagre: passar-se-ia a admirar a imensa es-

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 que, antigamente, constituíam um pratinho para as rodas de cafés. Talvez nunca tivessem existido. Os teimosos objetar-me-ão que há desastres na Central.

E eu responderei que isso é natural: deve mesmo existir até uma porcentagem estabelecida de "desastres" cabíveis por milhares de quilômetros, nas estradas de ferro. Ora, sendo a Central do Brasil uma das maiores e mais ativas ferrovias do planeta, tornar-se-ia até certo ponto "maravilhosa" se não apresentasse, no fim do ano, um determinado número de desastres; seria como uma cidade ideal, sem atropelamentos por automóveis.

O leitor já pensou na extensão do mapa servido pela Central do Brasil? Já pensou que, a qualquer momento do dia ou da noite, as suas linhas estão sendo percorridas por vinte ou trinta expressos, dentro de um angustioso horário? Já viu o movimento de trens de subúrbio na capital paulista, onde, em certas horas, são transportados milhares e milhares de trabalhadores de uma distância que chega a ser de 60 quilômetros para a capital, e da capital até Mogi das Cruzes? O leitor conhece a sua parte eletrificada no Distrito Federal? Já assistiu ao formidável movimento de trens de subúrbio, vencendo as distâncias em corrida enervante, sobre uma rede metálica que, em certos lugares, conta para mais de trinta linhas? Esses trens partem de cinco em cinco minutos, atulhados de passageiros, e se precipitam como ciclones so-

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