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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Mariano Laet Gomes

Um resumo biográfico, com alguns de seus poemas, foi publicado no terceiro volume da obra conjunta História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins dos Santos/Fernando Martins Lichti (Santos, 1996):

SÍNTESE ANTOLÓGICA DOS POETAS DE SANTOS
Mariano Laet Gomes

Nascido em Santos, a 18 de outubro de 1900. Pertenceu à Academia Santista de Letras. Foi vereador à Câmara Municipal de Santos.

Bibliografia: "Primeiros Sonhos" (versos, 1921); "Suavium" (versos, 1925) e "Rondéis" (versos).

A Santos

Enguaguaçu! Lembrando a tua história,
a alegria mais viva, a honra mais cara
é a que sinto ao pensar que tive a glória
de nascer sob o sol do Jabaquara.

Revivendo-te os fastos de memória,
este quadro aos meus olhos se depara:
- Anchieta, sombra esguia e merencória,
escrevendo na areia, fina e clara...

Ante outra cena súbito me inflamo:
- Bandos negros rolando a serrania,
em busca dos quilombos da piedade...

Amo-te! Em ti nasceu o que mais amo:
ao luar das tuas praias, a Poesia;
ao sol da Jabaquara, a liberdade!

 

Texto publicado na revista santista Flama, em abril de 1944 (ano XXIII, nº 4):


Foto publicada com a matéria

Palavras sobre Mariano Gomes

Quero recordar-me de alguma das suas poesias desse livro doce e macio como uma fruta saborosa que a gente conserva na boca, muito tempo, saboreando: "Suavium", mas, de todas elas, a de que me lembro é aquela sobre "Beethoven".

Foi numa festa solene, comemoração ou não sei quê, num salão não sei mais onde. Mariano declamava a sua própria poesia, e, repentinamente, como numa invocação, pareceu-me que a figura de Beethoven viera vindo dum canto da sala, descendo do teto ou subindo do chão; crescendo, ganhando forma na materialização. Veio até perto de mim, com os seus grandes olhos fundos, a tristeza do seu sorriso, e enfiando, depois, os dedos hirtos pelos cabelos, começou a desmaterializar-se, espiritualizando-se. A sua imagem esfumou-se. A sala inteira, creio, "viu" e "sentiu" a suave presença.

Mas, o poeta acabara a declamação, e, tudo, também, se acabara.

E eu nunca mais tive uma impressão tão forte do grande sofredor, do maior dos Artistas da Música, assim como naquela noite.

Albertino Moreira

Mariano Gomes é dos mais lindos parnasianos que conheço. Pertence, ainda, ao número dos poetas de sensibilidade, que sabem escrever versos em ouro de 24.

Rui Blaz

Dos poetas nascidos na cidade de Santos, vivos, Mariano Gomes é o mais suave e sublime.

Durwal Ferreira
Esperança

Se quem espera sempre alcança
Hei de alcançar o que desejo,
Que não é fácil, bem o vejo,
Mas dá-me forças a esperança.

Um gênio oculto, benfazejo,
De proteger-me não se cansa,
Se quem espera sempre alcança,
Hei de alcançar o que desejo.

Ninguém suponha que é vingança,
Ou fausto, ou glórias, o que almejo:
Não, quero apenas o seu beijo...
E hei de alcançá-lo, sem tardança,
Pois quem espera sempre alcança.

FIM

Quando a morte me vier buscar, um dia,
Não te afastes de mim, fica a meu lado;
E olha-me, como sempre me hás olhado,
Terna, dulcificando-me a agonia.

Num só minuto, então, nosso passado
Ressurgirá, com toda a poesia,
Todo o sol, toda a paz, toda a alegria,
Que o tornaram um dúlcido noivado.

E eu, com os olhos nos teus, beijando-te a alma,
Minha palma a tremer em tua palma,
Morrerei, docemente, num sorriso...

E, inda que, em prêmio ao que sofri no mundo,
Me entronize o Senhor no céu profundo,
Sem ti, padecerei no paraíso!

 

Um poema de Mariano Gomes foi publicado na seção Literatura do Almanaque de Santos para 1959 (Santos/SP, 1ª edição, 1959 - exemplar no acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio - SHEC), na página 80:

Supremo Voto

Todas as noites meu exame faço

De consciência, em que relembro e estudo,

Uma por uma, em solilóquio mudo,

As horas de triunfo e de fracasso.

 

A sós, então, passa-me aos olhos tudo

Que o meu cérebro ideou, que fez meu braço,

Que minh'alma sentiu, no curto espaço

De um dia, em que me iludo e desiludo.

 

E vejo o mal que fiz, e ardo, e estremeço

De remorso, e arrependo-me, contrito...

E o bem, que ansiei fazer, eu reconheço,

 

Mas, ai de mim! fi-lo tão pouco e mal...

- Senhor! pois me não forras do delito,

Guarda-me sempre esta ânsia de Ideal!

 


Imagem: reprodução parcial da página 80 do Almanaque de Santos para 1959