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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - Ribeiro Couto - BIBLIOTECA NM
Rui Ribeiro Couto (16-[43])

Clique na imagem para ir ao índice desta obraUma das principais obras de Rui Ribeiro Couto é o romance Cabocla, aqui transcrito em primeira edição digital, a partir do livro publicado em 1945 (terceira edição) pela Livraria Sá da costa Editora, de Lisboa, Portugal, com prefácio de João de Barros, sendo todos os exemplares autenticados com as rubricas do autor e editores. A obra faz parte do acervo de Rafael Moraes transferido à Secretaria Municipal de Cultura de Santos e cedida a Novo Milênio pelo secretário Raul Christiano para digitação/digitalização (ortografia atualizada nesta transcrição - páginas 209 a 210):

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Cabocla

Ribeiro Couto

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Nota à segunda edição

Foi com sincera surpresa que vi esgotar-se a primeira edição de Cabocla, logo após o seu aparecimento, em fins de 1931. A que devi esse favor do público? Talvez ao fervor pela terra nacional, de que pretende ser um espelho a simples história de Jerónimo.

Cabocla foi um desabafo da saudade e, talvez, da angústia. Escrita em Marselha, em outubro de 1930, não necessita de explicação. Os telegramas anunciavam a guerra civil. No fundo de mim, havia um Jerónimo que sofria. Oh, quantos tiros de canhão a perturbar a paz das montanhas natais!

Da invenção do romance nasceram equívocos. Por exemplo, seria um episódio pessoal? O perigo de escrever histórias! Sempre é tempo para dizer que não tive outro intuito senão o de contar uns estados de alma que experimentei no contato quotidiano da vida do interior, entre 1922 e 1928. Não fiz o retrato de ninguém; não transpus nenhuma "real realidade" para o plano da ficção. Desde os anos de adolescência que eu trazia dentro de mim, reflexo das primeiras viagens pela serra acima, essa "moça da estaçãozinha pobre". A criação literária tem os seus mistérios. Só em Marselha é que eu encontraria o clima de espírito indispensável à libertação do amoroso recalque. Esse clima foi, como está escrito acima, a saudade: saudade das formas, das cores e do cheiro do nosso sertão.

Estranho sentimento: de volta ao Brasil, em 1932, não me interessou rever o texto do romance, revisão que se me afigura necessária para uma nova publicação. Foi preciso que me encontrasse mais uma vez no exílio para obter a atmosfera favorável a esse trabalho.

A revisão agora feita não atingiu senão alguns trechos. Pequenos cortes, pequenos acréscimos. Nada que modificou na estrutura da narrativa.

Certos críticos acharam pueril o fim desta história, com os dois casamentos à maneira, diziam, dos filmes americanos. A isso responderei humildemente com o protesto de obediência às velhas vozes da sensibilidade. Se eles se lembram de um conto que se chama A casa do gato cinzento, saberão que já ali, há quase vinte anos, uma menina meiga escrevia a um rapaz: "Peço-lhe que me empreste um romance, às escondidas de vovó. Quero um romance que acabe bem". De resto, para que acabar mal o que tantas vezes na vida acaba tão bem?

Haia, verão de 1937.