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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - Ribeiro Couto - BIBLIOTECA NM
Rui Ribeiro Couto (16-[29])

Clique na imagem para ir ao índice desta obraUma das principais obras de Rui Ribeiro Couto é o romance Cabocla, aqui transcrito em primeira edição digital, a partir do livro publicado em 1945 (terceira edição) pela Livraria Sá da costa Editora, de Lisboa, Portugal, com prefácio de João de Barros, sendo todos os exemplares autenticados com as rubricas do autor e editores. A obra faz parte do acervo de Rafael Moraes transferido à Secretaria Municipal de Cultura de Santos e cedida a Novo Milênio pelo secretário Raul Christiano para digitação/digitalização (ortografia atualizada nesta transcrição - páginas 156 a 159):

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Cabocla

Ribeiro Couto

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XXVIII - Projetos

O Brown com certeza não gostou muito da notícia que recebeu em alto mar. A matriz removera-o para Buffalo, mas acabara por partir do Rio sem Pequetita Novais.

És mulher,

És mulher e nada mais!

Pequetita devia ter sido leal e lhe dizer antes do embarque: Walter, não posso mais casar com você; meu coração não pede. Preferiu deixar o novo tomar o "American Legion" e depois, por sem-fio, anunciar-lhe o rompimento.

Era evidente o trabalho de meu pai naquela conspiração. Encasquetara-se-lhe que eu havia de casar com Pequetita Novais e de partir para a Suíça com ela. comovera-o, principalmente, a surpresa de vê-la na estação, em Niterói, na noite do nosso regresso. Ela vivia telefonando todos os dias para o escritório de Vieira Pires & Cia. e assim viera a saber do trem exato em que a capitania do Espírito Santo nos devolvia, meu pai e eu, ao tumulto confortável da civilização, sem nenhuma orelha trincada pelos Aimorés.

Correra para mim, agitando os braços numa alegria que exagerava, para disfarçar a comoção - explicação de meu pai, que deu para psicólogo. E eu, valha a verdade, senti parzer em estreitar contra o peito aquela boa Pequetita Novais, tão sensível apesar das atitudes irônicas.

O dr. Edmundo Esteves fez meu pai passar para uma das nossas casas da Tijuca, que nós chamávamos pomposamente "a chácara", pelo vasto quintal plantado de arvoredo. Ali, durante um mês, enquanto esperávamos resposta à carta escrita para Davos Platz, ele me administrou um regime severo de repouso, superalimentação e otimismo.

Pequetita Novais tomava conta do meu tratamento. Vinha me ver todos os dias, saber como eu passara a noite, que temperatura tinha...

Meu pai me atacava de frente:

- Você casa com essa moça.

Sem poder dar todas as razões da minha negativa, limitei-me a dizer que queria muito bem a Pequetita, mas não pretendia me casar... pelo menos agora...

Ele franzia as sobrancelhas, agastado com aquela obstinação.

- Pois olhe, você gosta dela mais do que pensa e ela gosta ainda mais de você! Digo-lhe eu! E digo-lhe mais, com a minha experiência de vida: não conheço moça nenhuma que combine tanto com você. Até mesmo um pouco maluca ela é!

O dr. Edmundo Esteves, consultado, dera opiniões sibilinas; sim, no meu estado, sim, o casamento podia ser um bem... mas podia ser também um mal... tudo dependia de mim, da moça...

Meu pai, contando-me essa resposta cautelosa do médico, tinha nos olhos um brilho que significava:

- Por ela, eu respondo!

Pequetita lhe conquistara a confiança por completo. Nunca se viera um pai tão enfeitiçado pela futura nora.