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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - PAGU
Patrícia Galvão (7)

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Texto publicado no jornal DO Leitura, da capital paulista, edição 7(84) de maio de 1989, publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp):
 


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Pagu, o meu retrato de Dorian Gray

O autor destas memórias, como militante da esquerda, viveu intensamente os acontecimentos políticos da década de 30. Ao correr da narração, vão aparecendo Carlos Lacerda, Oswald de Andrade e tantos outros, inclusive os heróis anônimos. Mas, sobre todos, destaca-se Pagu, tema principal destas "variações sobre o mito", de quem o autor foi o último médico, cabendo dar-lhe o atestado de óbito

Eduardo Maffei (*)

Da última vez em que estive na fonte, bebendo idéias e erudição de Lívio Xavier, o mais honesto, desapaixonado e competente crítico literário que São Paulo possuiu, conversamos sobre a origem dos mitos. Citou-me O 18 Brumário de Luís Bonaparte de Marx onde o sábio que respeitávamos mostrava como, na antigüidade remota, para a criação de um mito demandava séculos de sedimentação da tradição oral, ao longo dos quais cada transmissor enxertava sua imaginação, de forma que o mito acabado diferia do inicial.

Esse prazo se encurtaria com a descoberta da imprensa e à medida que ela se aperfeiçoava, abrangendo num mesmo tempo massa enorme de leitores violados psiquicamente, os mitos se formaram mais depressa, embora sem a imantação do boca-a-boca. Cada vez a liberdade para tal era mais tolhida. E, com a penetração dos meios de comunicação de massa - rádio e televisão -, em que o ouvinte ou assistente passivamente não mais participava, brotaram como cogumelos de vida efêmera ao sabor do poder violado à liberdade de aceitação humana. Por outras palavras, o homem atual tem menos liberdade na criação do mito que o troglodita!

Concordamos que no momento em que vivíamos de agudo encontro de duas épocas diferentes, o novo e o velho, numa mesma época, o hoje, o mito estava-se manifestando num vale-tudo adubado de mentiras e fantasias como bandeira ideológica, sem as características históricas que lhe conferissem, por antigüidade, legitimidade.

E como exemplo de falsidade contei - uma das poucas coisas que ele não sabia - que no mundo jamais houvera 11 mil virgens, criadas pelo folclore católico, que se aproveitou de um erro de tradução, pois se tratava de uma só chamada Undecemila, que foi traduzida para 11 mil. E que pseudo-latinistas, por não encontrarem a palavra busilis nos léxicos, não se deram ao trabalho, supondo tratar-se de um latim mais arcaico que o próprio, em saber que na impressão de um texto o hífen entre o re final de uma linha e o bus fora omitido e este juntado na linha seguinte ao illis das duas palavras rebus illis! Lívio gargalhou em oitava surda, como era seu hábito.

As religiões, a católica sobretudo, são hábeis criadoras de mitos, utilizando para sua gênese todas idades, desde a mais primitiva de sinais, e tradição oral, procurando moldá-los tiranicamente ao nível do conhecimento geral desde o analfabeto ao sábio. E tudo isso veio agora à tona porque vou escrever sobre o mito Pagu.

Num dos primeiros anos 30, quem assessorava nosso grupo estudantil ligado ao Partido Comunista era Oswaldo Costa, um dos três mais hábeis jornalistas que conheci: ele, Galeão Coutinho e Pedro Mota Lima. Numa reunião clandestina da qual participavam duas jovens, elogiou-as pelo trabalho miúdo e anônimo, sem a teatralidade de exibição, ao contrário do que acontecia - e exemplificou - com, entre outras mulheres, Raquel de Queiroz e Pagu. Segundo me contaria o advogado Jovelino de Camargo, dirigente municipal do Partido Comunista em Santos, Pagu, participando extemporaneamente de uma greve de estivadores, tornara-se visada pela polícia.

Conheci Pagu creio que num dia em que fazia sua entrada teatral, comandada por Oswald de Andrade, seu mestre-sala, no cenário da Paulicéia ainda não desvairada, em abril de 1931, da platéia, de longe. Conhecia a brava militante anarco-feminista Maria Lacerda de Moura, mulher impressionante pela sinceridade modesta com que defendia ardentemente suas idéias num tempo em que faltou um artista plástico para representar a moral numa tela em que, de um lado, havia dois ovários; do outro, um par de testículos; e, entre eles, um cassetete policial impedindo que se encontrassem sem passar pelo cartório e pelo altar.

Quando divisei uma mulher, de cigarro na boca, mascarada pelo ruge e batom carregados, percebi que assistia ao insólito anti-convencional. Fazia parelha com um cara lembrando um suíno e que eram pólos de uma perturbação de protesto dos estudantes de Direito. Mais tarde, numa volta superior da espiral da vida, privaria com os dois. Oswaldo, mesmo nas posições que eu considerava justas, mostrava-se anticonvencional e brilhante. Com suas frases de efeito portava-se como um Dom Quixote investindo contra os moinhos de vento dos preconceitos. Constituíram um autêntico casal pour épater le bourgeois.

Durante a grande greve geral de 1917 pelas oito horas, que paralisou São Paulo, segundo me contou Di Cavalcanti, num ateliê - ou garçonnière? - que possuía na Rua Sebastião Pereira por volta de 1947, Oswald de Andrade, então catolicão reacionário, tentara na Faculdade de Direito, onde, aliás, foi o estudante, pelo desabrido, símbolo da década, agrupar colegas para, de madrugada, fazer surtidas pelo Brás e Mooca para desalojar grevistas de suas camas e obrigá-los a ir para o trabalho. Tal informação, aliás, foi ratificada no livro de memórias desse grande pintor, Viagem de Minha Vida.

Até então só vira, na infância, uma mulher que fumava na cidade, além das caipiras que pitavam no cachimbo de barro e cuspiam ao redor. Chamava-se Rufina, amásia de um fazendeiro com quem vivia sob o mesmo teto, vizinha de casa em Itu. Tornara-se o chá do diz-que-diz-que da tradicional sociedade ituana quando se apresentava pelas ruas com pintura facial carregada, sem se preocupar com ninguém, mas alvo da maledicência alheia.

Na Faculdade de Medicina meus colegas mostravam-se solidários com os acadêmicos de Direito, mas eu, como a ovelha branca naquele rebanho de ovelhas negras, defensores do cassetete policial simbolizando a moral, tomei partido ao lado de Pagu, pois já me tornava seu fã em oposição aos meus colegas que sempre se haviam, eles e suas famílias, se colocando ao lado do Partido Republicano Paulista e todos seus arbítrios que deram origem à revolução de outubro de 30.

Pouco depois desse rififi, fui recrutado para a esquerda por Joaquim Câmara Fereira, que morreria, como comandante da guerrilha urbana, sob o codinome Toledo, em substituição de Carlos Mariguela, que fora eliminado. Sabendo que Pagu era membro do partido, procurava vê-la. Perseguia-me como meu retrato de Dorian Gray, já que na juventude o seu papel no bafafá da praça da Sé contra os estudantes de Direito marcara-me.

Mas somente voltaria a vê-la em novembro de 1935. Por esse tempo, o Partido Comunista do Brasil, único então, recebera orientação do Komintern, do qual era uma seção, através do Birô Sul-Americano, para se proletarizar. Deve ter acontecido algo semelhante, na tradução, ao acontecido com as 11 mil virgens e o busílis: foi a má interpretação. Deveríamos vencer a ideologia pequeno-burguesa da qual nos achávamos eivados e aprofundar pela teoria e prática a ideologia do proletariado, o marxismo-leninismo. Tomada ao pé da letra, andar de sapatos rotos e sujos, roupas amarfanhadas, camisas encardidas de colarinhos e punhos puídos e viver entre operários tornou-se a moda da proletarização.

Certa noite fui pronunciar uma conferência contra a guerra, que já se prenunciava, no sindicato dos garçons e cozinheiros de Santos. Goethe observou que ninguém é radical na velhice, mas eu, jovem, era um ardente orador. Num salão apinhado de gente frenética, confundindo imaginação com realidade, dei vazão ao meu radicalismo. Exigira que fosse apresentado só como um estudante, pois, segundo orientação de Oswaldo Costa para o partido, deveríamos evitar ao máximo o nome legal. Consegui um admirador, tão entusiasmado quanto eu, líder operário, dirigente comunista dos trabalhadores no porto, o português Manoel de Moura, com quem partilharia a minha primeira prisão política no presídio da Liberdade, em setembro de 1933. Ensacador, carregava a sacaria na estiva.

Possuía invejável capacidade política. Dias depois do meu fogo oratório, Oswald de Andrade, sabedor desse conhecimento, pediu-me que o acompanhasse até o porto de Santos. Na cidade, procuramos Adolfo Roitmann e para lá nos dirigimos os três. Oswald desejava escrever algo sobre sua experiência na proletarização e queria de Moura a intermediação para sua vivência por algum tempo entre os portuários. Aliás, cá para nós, era teatro, porque era um sibarita.

Apresentado, decepcionou-se. Apesar de bastante lido, Manoel jamais ouvira falar em seu nome. Além do que os intelectuais eram olhados com desconfiança, quase desprezo. O advogado Lênin que aparecesse nas docas... Mas disse ao que ia. Expôs seu desejo e, sem largar as orelhas do saco, Moura ouviu atenta e pacientemente, ao fim do que contestou ironicamente: "Então o companheiro quer mesmo é fazer um turismo pelo proletariado?" Roitmann, um gozador, riu-se com a cara no chão de Oswald, adendo: "E você não esperava encontrar aqui no porto um filósofo com a força oswaldiana de ironia...". Enquanto isso, Moura fizera alavanca com seu corpo e, dando o balanço profissional no saco, meteu-o às costas depois de se despedir. Educado, só faltou nos dizer que não estava para brincadeiras...

Por esse tempo Pagu fora proletarizar-se, mudando para uma vida operária. Quando, na célula soubemos, cobrimo-la de elogios por aquela atitude verdadeiramente bolchevique, então, entre nós, o máximo em qualificação. Mais tarde me diria que fora ali tratada como intrusa pois, segundo sua expressão, as operárias também tinham preconceito de classe, verdadeiras pretendentes a pequeno-burguesas. Lembramos, em aditamento, que nos primeiros dias do governo soviético, a poliândrica como ela, Alexandra Kollontai, foi indicada para gerir o serviço telefônico da ainda Petrogrado. Enfrentou uma greve da quase totalidade das telefonistas que não desejavam obedecer ordens de... uma mulher!

Houve, fundado por Flávio de Carvalho, em fins de 1932, o Clube dos Artistas Modernos, de vida efêmera. Foi então o respiradouro da liberdade cultural paulistana. Semanalmente apresentava um conferencista: intelectual, artista ou operário. Seguiam-se os debates. Fui dentre eles o mais jovem, discorrendo sobre o amorfismo da psicologia do pequeno-burguês que muda de direção, conforme o pólo de atração, como a rosa-dos-ventos.

Assíduo, conheci Oswald de cuja claque participei, e comandou-a elogiosamente quando conferenciei. Creio que mais por estímulo e simpatia. Perguntava-lhe por Pagu e me dava respostas evasivas. Tomaria contacto com ela depois, através  das colaborações que enviava das cidades por onde passava em sua aventura de volta ao mundo. Líamos, quase como tarefa, em nossas reuniões de células. O que somava à minha necessidade em conhecê-la pessoalmente, por admiração ideológica, verdadeira paixão obsessiva inconsciente.

O grande impacto literário na esquerda foi dado por Judeus Sem Dinheiro, de Michel Gold, traduzido por Cid Franco, quando editado em 1932 pela Editorial "Pax", dos inesquecíveis Alexandre Wainsten e Galeão Coutinho. Foi uma faísca que labaredou os que, de nós, tinham pruridos literários. Eu mesmo escrevi, para O Bisturi, jornal acadêmico, um conto proletário! Jorge Amado escreveria Capitães de Areia e Pagu, Parque Industrial, ambos sem o sal de Gold, onde se sente a luta de classes na realidade dos problemas da pobreza. Ambos primariamente maniqueístas. Mas, por respeito à nossa nascente literatura proletária (!?), tivemos que os ler. Se disser que não gostei, minto. Eu me achava na idade panfletária... Depois, mais sensível, achei-os uma droga, inclusive meu conto, por serem forçadamente induzidos, excluindo o leitor como participante, coisa de contador de estórias.

Desde o lançamento da Aliança Nacional Libertadora, em 30 de março, participei ativamente de sua organização e propaganda. Em 25 de maio fora obrigado a me retirar da capital, mas retornava a ela, por dias, com freqüência, agarrado à sua vida e aos companheiros que haviam militado comigo. E o seu ninho era a redação de A Platéia, na Rua do Carmo, cujo secretário de redação - hoje se chama editor - era Clóvis Gusmão. Na boca da noite de um dia de novembro de 1935 encontrei ali a minha juventude que ela marcara, meu retrato de Dorian Gray, Pagu. Na redação onde se achavam, entre outros, Clóvis Gusmão e Tito Battini, numa cadeira, com um maço de cigarros Continental, fumando compulsivamente, achava-se uma companheira. Cumprimentei-a formalmente. Estranhando o cerimonioso, Clóvis Gusmão foi logo nos apresentando.

Foi como, se desde abril de 1931, ela liderando e eu, entre curiosos, que defenderia suas posições, não nos houvéssemos separado. Conversando, vieram à baila as últimas "proezas" de Oswald. Inopinadamente, perguntou-me se conhecia Pilar. Claro que sim. Tinha um corpo à espera de um novo Cnido que o esculturasse, mais linda que os sete pecados capitais, hispanicamente voluntariosa, além de sua grande qualidade, exímia pianista.

Dizia-se sobrinha de Francisco Ferrer Guardia, ferroviário anarquista que fundara, em 1901, em Barcelona, um instituto revolucionário, fuzilado após um levante naquela cidade, em 1909, fato que gerou protestos internacionais. Em São Paulo, no Belém, organizou-se, na Pérola Internacional, um grupo dramático com seu nome. Isabel, irmã de Pilar, que esteve comigo em 7 de outubro de 1934, na Praça da Sé, esparzindo uma parada integralista, alardeava o parentesco. Pilar foi uma das odaliscas do serralho de Oswald de Andrade, que sucedeu Pagu e antecedeu Julieta Bárbara, ignorada pelos cronistas biográficos de Oswald. Talvez porque, diferentemente das outras que eram passadas para frente quando se enfastiava, foi quem lhe deu o fora.

Sabendo que eu conhecia bem a história da ligação, quando passei a traçar o perfil de Pilar, Pagu interrompeu-me: "Pois essa mulher não vai ficar com minha cama turca! Vai me devolver..."

Orgulho-me de possuir memória de computador. Esse episódio ficou no banco do meu subconsciente. Possuía - e continuo possuindo - admiração por Pagu. Aquele ciúme mesquinho, motivado por um traste, revelou uma jaça de sua personalidade, que, naquele momento, deixava de ser revolucionária. Foi verdadeira navalhada na face da tela do meu retrato de Dorian Gray. Quando no seu amargo fim de vida o relembrei, estranhou-se. E eu, no momento, me penitenciei. Estava perdendo a vida e eu a lhe lembrar de uma cama perdida! Em seguida, vencido o episódio, prendi-me a seus lábios naqueles momentos, na A Platéia, quando descreveu sua viagem ao redor do globo.

Mostrou-se receosa com a descoberta de um raio pelos físicos japoneses, que matava animais pequenos à distância e, que se fosse aperfeiçoado, tornaria seu país invencível. Lembro-me de um fato exemplificando o drama chinês da fome: quando, viajando num barco, atirou um resto de mortadela à água, dois embarcadiços se precipitaram sobre ele.

Que na União Soviética, numa tarde de inverno rigoroso, com os pés enregelados pela neve, alguém bateu em sua costa, pôs-se à sua frente e declamou: "Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá/as aves que aqui gorjeiam/não gorjeiam como lá". Era Silo Meirelles, amigo de Prestes, um dos futuros comandantes da insurreição no Recife, em novembro de 35, que por lá se achava.

Retornara triunfalista com o que sentira na URSS. Falou-me como as crianças, o porvir da revolução, eram cuidadas no país de Lênin. Comentamos que há poucos meses, passando pela rua Direita, topei com Oswald em frente do cinema Alhambra. Entusiasmado com o filme soviético O Caminho da Vida, que ali se achava em cartaz, mostrando a recuperação da infância abandonada dos tempos do czarismo e da guerra civil, virtualmente empurrou-me para dentro do cinema, com a ressalva que deveria, depois, assistir ao reverso da medalha no Cine Rosário, no térreo do Martinelli, à rua São Bento, onde se exibia O Prefeito do Inferno que retratava a infância abandonada nos Estados Unidos, enveredando pelo caminho do crime.

Mais tarde, dando vazão ao seu anti-sovietismo, escreveria em 1950 que "o ideal ruiu, na Rússia, diante da infância miserável das sarjetas". Que em Paris, no dia 14 de julho, como parte da massa que desfilava pelo solo em que fora plantada a frondosa árvore da Revolução Francesa, entoou a Marselhesa, procurando dançar, para acompanhar os versos (Dansons la Carmagnole,/Vive le son, vive le son,/Dansons la Carmagnole,/Vive le son du canon), enquanto cantava La Carmagnole, La Jeune Garde e o esperanto dos trabalhadores, A Internacional.

Em 1982, quando o mito Pagu em processo, um enviado da Funarte, contista sofrível, informado que eu fora o médico que a assistira naqueles momentos a caminho da morte, procurou-me. Comecei por lhe contar a conversa acima que tivera com ela na redação de A Platéia. Logo demonstrou enfado e ao final abanou a cabeça negativamente. Ele desejava ouvir de mim o que pensava que sabia. Eu já lera no livro de Stuart Chase, A Tirania das Palavras: "Quando Galileu pôde mostrar, com seu novo telescópio, a lua com suas montanhas e Júpiter com seus satélites, o professor de Filosofia da Universidade de Pádua recusou-se a olhar: preferia acreditar nas suas idéias - isto é, no mito - antes que nos seus olhos".

E mais: "O doutor Redi, de Florença, demonstrou que a carne em putrefação não dava origem, por si própria, às larvas das moscas; colocando uma rede de gaze por cima dela, impedia que as moscas ali depositassem seus ovos, o que enfureceu os padres que o acusaram de estar limitando o poder do Todo-Poderoso".

Contando o acontecido, pareceu ao entrevistador que, como o doutor Redi, o doutor Maffei estava afrontando não o mito Todo-Poderoso mas o mito Pagu. Enfim, não estranhei. Spinoza queixava-se que, enquanto explicava fatos, seus oponentes explicavam palavras, ou Thomaz Mann em José e Seus Irmãos: "...discutir tais questões de uma forma aérea e vagamente piedosa, tomando as palavras como coisa real e a coisa real quase como simples palavras".


(*) Eduardo Maffei é médico e polígrafo, autor da tetralogia Maria da Greve e o Etopeu (A Greve), Editora Paz e Terra. Maria da Greve, Vidas sem Norte e A Morte do Sapateiro), os três pela Editora Brasiliense, e a Batalha da Praça da Sé (memória histórica pela Editora Philobiblion).

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