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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 323)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 26 de janeiro de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

A Santos aniversariante

Lydia Federici

Bom dia, Santos. Feliz, feliz aniversário.

Escuta-me por três minutos, querida. Não mais que três. Antes, porém, deixa-me recostar a cabeça na maciez de tua areia fresca. Não. É cedo ainda. Apenas amanheceu. O sol não me fará mal nenhum. Estou bem assim. Ouves-me? Ou preciso falar mais alto para cobrir o murmúrio do mar que acorda? Ouve-me, então.

É um segredo que quero contar-te. Talvez já o saibas. Deves ter percebido o corre-corre de teus filhos. Sim. Preparavam os presentes que querem dar-te no dia de hoje. São enfeites e mais enfeites para a sua beleza. O jardim de pedra na entrada da cidade. A Praça Palmares colorida. A fonte luminosa sobre o velho Lago do Sapo.

A utilidade dessas belezas? Pois, há de toda e qualquer forma de beleza. A de alegrar os olhos. De elevar o espírito. Não és vaidosa? Pudera! Com a graça com que nasceste. Mas qual a mulher bonita que dispensa o retoque final de um pouco mais de cor nos lábios? Aceita esses embelezamentos, querida. Não te preocupes, pelo menos no dia da tua festa, com esses presentes de vaidade filial. Coisas úteis e necessárias também serão inauguradas no dia do teu aniversário. O ambulatório preventivo do câncer da Santa Casa. A usina de asfalto. O telefone público no morro do José Menino. Estas mais contente agora? Com esses novos serviços que reverterão em benefício de tua gente? Ótimo, então.

Mas por que hás de preocupar-te com a tua gente? Gostarias de saber que outros problemas nossos deveriam ter sido resolvidos? Ora. Não te aborreças. Sabes que somos pacientes. Aprendemos a sorrir. A confiar. A esperar. Contigo sim. A calma de tua natureza impregnou-se-nos na alma. A força constante de teu mar, sempre manso, acabou por influenciar-nos. Sabemos que a vida é como maré. Repetição de esperanças e de desilusões. De tanto ver o sol nascer atrás dos morros do Guarujá, compreendemos que há sempre um amanhã. Vivemos o dia de hoje. Mas confiamos no de amanhã. Esse amanhã trará a solução apra nossos problemas. Se não para os nossos, para os de nossos filhos. Portanto, cidade querida, não te preocupes com o que nos falta.

Não. Não te preocupes com o que nos falta. Chega-nos bem a beleza dos teus dias de sol. Das tuas noites ainda tranquilas. Alegra-te pois. Isso nos basta. Tanto nos basta que continuamos a aqui viver. Cada vez mais enamorados. Sentindo, a cada dia que passa, aumentar o carinho que, principalmente num dia como o de hoje, acalora o nosso peito.

Falei tanto e afinal, na verdade, só o que queria dizer-te era isso. Que gostamos muito de ti. Pelo que fostes. Pelo que és. Orgulhamo-nos do teu modo de ser. Do que velhos filhos teus nos deixaram.

Pronto, querida. Veste o teu mais bonito vestido de sol. Vai receber, com alegria, a homenagem de todos os santistas. um belo, grande, maravilhoso dia de festa, é o que te desejamos.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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