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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 10)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 6 de janeiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

"Flamboyants"

Lydia Federici

Santos não é terra de flor. De flor vegetal, flor de planta, flor de pétalas, que florzinha humana, acuda-nos Deus, dá aos montes por aqui. Neste chão, bem mesmo, quase à toa, sem cuidados, só folhagem é que vai prá frente. Para quebrar, porém, a monotonia repousante do verde, uma árvore adaptada ao salitre do ar e do solo faz exceção.

Os "flamboyants" constituem aquele exemplo. São incêndios silenciosos, tranquilos, imóveis, contra o azul do céu. São manchas coloridas que hipnotizam. São tapetes vermelhos ou amarelos – os de ouro são raros – que enfeitam o cinzento das ruas da cidade.

São gloriosos os "flamboyants" nesta época do ano. Mas que trabalheira que dão. As flores tombadas são perigosas, escorregadias. Quem plantou "flamboyant" plantou problema. Um problema incubado que estoura quando a árvore floresce. Nessa hora de beleza, para o problema despontado, surgem duas hipóteses. 1ª, a dona do "flamboyant" não liga prá sujeira. 2ª, liga. Se não liga, não há problema senão para os que escorregam e caem. Se liga, aparecem outras duas hipóteses; ou ela, a dona, tem empregada ou não tem.

Estas duas últimas hipóteses se dividem, ambas, em duas sub-hipóteses. Se ela não tem empregada: 1º, é dona de casa no duro e não se incomoda de pegar numa vassoura; e aí cansa-se mas não há problema. 2º, é dona de casa de mentira: varre com desalento ou com fúria, excomungando quem teve a ideia de plantar aquela porcaria. No caso da patroa ter empregadas, as duas sub-hipóteses são estas: 1ª, ou a Maria, a abençoada, é de paz e acomodada, e, nesse caso, não há problema. 2ª, ou a Benedita ou Flordinalva é malandra, atrevida, respondedeira e estourada. Resultado: 1ª hipótese, ela pede aumento de ordenado e, podendo ser, o problema desaparece. 2ª hipótese, pede, sumariamente, as contas e some. Isto, então, no fim, é que é problema. Mais que problema. É flagelo. Qualquer dona de casa que o diga.

Como estão gloriosos os "flamboyants". Que trabalheira que dão. Que cuidados exigem. Quantas dúvidas e problemas suscitam.

Seria tão simples, entretanto, resolver o problema: cortá-los. Mas quem tem coragem?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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