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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - HISTÓRIA - BIBLIOTECA NM
A História Econômica de Cubatão (12)

Com o título: "Entre estatais e transnacionais: o Pólo Industrial de Cubatão", esta tese de doutorado foi defendida em janeiro de 2003 no Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) pelo professor-doutor Joaquim Miguel Couto, de Cubatão, que autorizou sua transcrição em Novo Milênio. O tema continua:

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ENTRE ESTATAIS E TRANSNACIONAIS: O PÓLO INDUSTRIAL DE CUBATÃO

Prof. Joaquim Miguel Couto

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Capítulo III

A primeira siderúrgica marítima brasileira e o complexo de fertilizantes de Piaçagüera (os anos 60 e 70)

3.2 - Sal, água e energia elétrica: a indústria do cloro

Enquanto a Cosipa estava começando a construir sua usina em Piaçagüera, uma nova indústria resolve se implantar em Cubatão: a Carbocloro S/A - Indústrias Químicas. Os primeiros passos da empresa devem-se a uma só pessoa: José Ignácio de Mesquita Sampaio. Desde 1939 envolvido com a indústria química, fundou, em 1949, a Química Industrial Medicinalis S/A. Esta empresa adquiriu um terreno numa cidade que a todos chamava a atenção naqueles anos cinqüenta: Cubatão, mais precisamente à margem esquerda do Rio Perequê, bem próximo à Alba.

A escolha da localização era em função do produto que a fábrica iria produzir: cloro e soda cáustica, cujas principais matérias-primas, além do sal comum, era a energia elétrica e água em abundância; sem nenhum vínculo com a Refinaria Presidente Bernardes. A empresa lista ainda, como atrativos, a malha ferroviária e rodoviária e a proximidade com São Paulo e Porto de Santos (para receber o sal e exportar sua produção) [39].

No final dos anos 50, a Medicinalis abriu o seu capital e alterou sua razão social, passando a chamar-se SIPES do Brasil S/A - Indústria de Produtos Eletroquímicos e Sintéticos. Em 10 de maio de 1960, a SIPES é dissolvida em favor de uma nova empresa, a Carbocloro Indústria Química Ltda. [40].

Enquanto executava a terraplenagem de seu terreno em Cubatão, a Carbocloro solicitou um empréstimo de US$ 4 milhões ao BID para comprar os equipamentos necessários (a maioria a serem adquiridos na Itália). Como o empréstimo foi recusado, Vitório de Nora interveio junto ao banco norte-americano Manufacturers Trust, que concedeu o empréstimo a Carbocloro. Em 1962, em plena construção da indústria, a política cambial do país foi alterada, dificultando o pagamento do empréstimo em dólar. Pressionada a aceitar a abertura do capital da empresa, a Medicinalis abandonou a sociedade [41].

Em 1963, já como sociedade anônima, técnicos estrangeiros fizeram a montagem dos equipamentos, iniciando, também, o recrutamento dos futuros empregados. Em 12 de abril de 1964, a Carbocloro entrou em operação, com investimentos totalizados de US$ 6 milhões.

A inauguração oficial da indústria aconteceu em 14 de maio de 1965, com a presença do Ministro da Indústria e do Comércio, Daniel Faraco, do Ministro da Fazenda, Otávio Gouvea de Bulhões, e do Ministro do Planejamento, Roberto Campos. Nessa ocasião, a Carbocloro já produzia 50 toneladas/dia de soda cáustica, além de cloro e gás hidrogênio; contava com 72 funcionários na produção e 37 na área administrativa em Cubatão e São Paulo.

O principal produto da empresa, o cloro, tinha como destino primordial o saneamento básico, a exemplo dos países desenvolvidos. Em 1966, a Carbocloro já havia duplicado sua produção diária, e sua dívida contraída com a Manufacturers Trust foi totalmente paga [42].

Em fins de 1972, a empresa alcançou a produção de 300 toneladas/dia de soda cáustica, mesmo assim insuficiente para o mercado interno, sendo obrigada a importar soda líquida. No final dos anos 70, a Carbocloro decidiu aumentar sua capacidade de produção para 600 toneladas/dia de soda cáustica, visando atender toda a demanda nacional. Concluída a expansão em janeiro de 1981, a empresa esbarrou com a recessão do início dos anos 80, que obrigou a indústria a operar com grande capacidade ociosa, dificultando o pagamento de suas dívidas de US$ 100 milhões.

Em 1982, para vencer a crise, a empresa fez um planejamento estratégico: buscou novos mercados e diminuiu as despesas operacionais, sem contudo demitir nenhum funcionário. O faturamento cresceu, otimizou-se a produção, e o consumo de energia elétrica (principal insumo da empresa) foi reduzido em 27%. Dois anos depois, a empresa operava com 100% de sua capacidade e tinha liquidado a sua dívida externa [43].

Em abril de 1988, a Carbocloro tinha 630 funcionários, 500 na fábrica e 130 no Escritório Central de São Paulo, onde estão localizadas as atividades administrativas e financeiras. No Balanço Anual, de 1988, da Gazeta Mercantil, a Carbocloro aparecia como a 15ª empresa do setor químico do Brasil [44].

Atualmente, a empresa é responsável por 49% do mercado nacional de cloro líquido, 17% do mercado de soda cáustica, e 40% dos mercados de ácido clorídrico e hipoclorito de sódio [45].

Os produtos da Carbocloro são matérias-primas para importantes segmentos do parque industrial brasileiro, produtores de sabões, detergentes, papel e celulose, siderurgia e mineração, alumínio, PVC, remédios, plásticos, comestíveis, tecidos, além do saneamento básico, por meio do tratamento das águas com cloro (Carbocloro, 2002) [46].

Segundo o presidente da Carbocloro, Arthur César Whitaker de Carvalho, o ano de 2000 foi o melhor já registrado na história da empresa, com faturamento de US$ 314 milhões. Para atingir esse resultado, a indústria realizou um conjunto de medidas favoráveis. Uma delas foi a consolidação de uma reforma administrativa, a partir da qual a Carbocloro passou a trabalhar por processos.

Além da diminuição no número de funcionários, houve também redução nos níveis hierárquicos da empresa, que passaram de seis para quatro (Pizarro, 2001: 28). Em setembro de 2002, a Carbocloro tinha 342 empregados diretos e 330 contratados por empreiteiras. O racionamento de energia de 2001, por sua vez, reduziu a produção de 95% para 82% de sua capacidade produtiva.

Encontra-se em fase de desenho uma nova fábrica de cloro/soda, faltando apenas definições quanto as proporções da unidade e sua localização. Segundo o presidente da empresa, o município de Cubatão aparece como o candidato natural para receber a nova unidade, cujo investimento é estimado em cerca de US$ 100 milhões [47].


NOTAS:

[39] Segundo Goldenstein (1972:165), sua localização foi em função do Porto de Santos (recebimento de matéria-prima), da proximidade do mercado (pois seus produtos precisam de caminhões-tanques especiais para serem transportados a pequenas e médias distâncias), da disponibilidade de energia, e de vantagens tarifárias para o transporte de sal do Nordeste até o Sudeste.

[40] As quotas da nova empresa eram assim divididas: Química Industrial Medicinalis S/A, com 40%; Diamond Alkali Internacional Co., com 20% (grupo norte-americano da indústria de produtos eletroquímicos à base de sódio, cromo e cloro); Brasil Warrant Cia. de Comércio e Participação (que integrava o Grupo Moreira Salles) com 20%; IBIS Internacional Industrial Inv. Inc., também com 20% (sociedade anônima panamenha dedicada a investimentos em outras empresas). A presidência da nova empresa coube a José Ignácio de Mesquita Sampaio: "O moderno projeto traria para o Brasil a mais avançada tecnologia de industrialização de cloro e soda, então desenvolvida na Itália pela De Nore" (Carbocloro, 1989:03).

[41] A sociedade anônima foi integrada pela Diamond Alkali International Co., Brasil Warrant Cia. de Comércio e Participação e o Grupo De Nora, cabendo 1/3 da companhia a cada sócio. Assumiu a presidência, Jorge Paes de Carvalho (do Grupo Moreira Salles).

[42] No ano de 1969, o Grupo Moreira Salles aumentou a sua participação na sociedade, ficando os outros 50% com a Diamond Alkali International Co., já então redenominada Diamond Shamrock Co. Em 1986, a Diamond Shamrock Co. vendeu sua participação para a Occidental Chemical Corporation (Oxychem), que é o braço químico da Occidental Petroleum Corporation. Desde essa época, portanto, a Carbocloro S/A Indústrias Químicas é uma joint-venture da Unipar – União das indústrias Petroquímicas S/A (grupo nacional privado) com a norte-americana Occidental Chemical (maior fornecedor de cloro-soda dos Estados Unidos).

[43] Quando a Cetesb iniciou seu Programa de Controle da Poluição em Cubatão, em 1984, a Carbocloro já tinha a maioria de suas fontes poluidoras sob controle. Em fevereiro de 1987, a empresa foi a primeira do Pólo de Cubatão a receber da Cetesb a Licença de Operação Definitiva. A empresa possui um aquário com peixes, utilizando água usada na fábrica, para provar a qualidade dos efluentes que serão lançados no Rio Cubatão (Carbocloro, 1989:20/21).

[44] A capacidade instalada da empresa em abril de 1989 era: 235 mil toneladas de soda cáustica líquida por ano, 210 mil toneladas/ano de cloro, 50 mil toneladas/ano de soda em escama e/ou fundida, 160 mil toneladas/ano de ácido clorídrico, 108 mil toneladas/ano de hipoclorito de sódio, e 64 milhões de metros cúbicos de hidrogênio. Consumia como matéria-prima 360 mil toneladas de sal e 780 milhões de quilowatts de energia elétrica por ano (Carbocloro, 1989:09). Mesmo com esse potencial produtivo, a Carbocloro foi obrigada, em 1989, a importar soda cáustica líquida para atender a demanda interna do país.

[45] Capacidade instalada (2002): soda líquida: 284.000 toneladas/ano; soda anidra (em escama e fundida): 50.000 toneladas/ano; cloro: 253.000 toneladas/ano; ácido clorídrico: 250.000 toneladas/ano; hipoclorito de sódio: 275.000 toneladas/ano. Também produz hidrogênio (79.200.000 m³/ano) e dicloroetano (140.000 toneladas/ano).

As suas principais matérias primas são o sal (440.000 toneladas/ano) e energia elétrica (900.000 MWh/ano), além da água. O sal chega pelo Porto de Santos e é oriundo do Nordeste brasileiro (Carbocloro, 2002). Ou seja, toda a matéria-prima consumida pela Carbocloro é 100% nacional.

O processo simplificado de produção do cloro, soda e seus derivados é o seguinte: da mistura de sal e água, acrescido da energia elétrica, temos o processo de eletrólise; desse processo de eletrólise surgem os produtos: soda, cloro e hidrogênio; da mistura de hidrogênio e cloro, produz-se o ácido clorídrico; da mistura de soda e cloro, obtém-se o hipoclorito (Carbocloro, 1989:22).

[46] Os seus principais clientes estão nas regiões Sudeste e Sul, além de muitas indústrias do próprio Pólo de Cubatão. Parte de sua produção (cloro, soda em escama, soda fundida e ácido clorídrico) é exportada para a América do Sul, Central e África. Sua produção é escoada em caminhões-tanques.

[47] A empresa também está construindo uma subestação de energia, com capacidade de 150 MW, que deve estar pronta em 2003, cujo custo projetado é de US$ 7 milhões.