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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
História(s) de Dona Nenê

Maria Albertina Pinheiro da Silva Mesquita participava, nos últimos momentos de sua vida, da elaboração da Agenda 21 - Cubatão 2020, como coordenadora do tema Cubatão no contexto metropolitano - função que delegou ao editor de Novo Milênio no dia anterior ao seu falecimento.


Trecho de anotações que Maria Albertina, em junho/2005, passou ao editor de Novo Milênio,
em reunião do grupo de trabalho integrado por ambos na Agenda 21 - Cubatão 2020
Imagem: Acervo de Novo Milênio

Ela também se empenhava na edição de um guia de orientação aos pacientes de câncer, em que pretendia relatar suas experiências; outra de suas preocupações era recompilar a relação dos portos de areia existentes em Cubatão; e ainda lembrava imagens de sua infância, nas margens do Rio Cubatão, para corrigir um erro histórico sobre a localização do primitivo povoado, além de estudar pintura e escultura em argila na Estação das Artes de Cubatão.


Maria Albertina, em seu gabinete de trabalho
Foto: Departamento de Imprensa/Prefeitura Municipal de Cubatão

Assim era Dona Nenê, que este editor teve a oportunidade de conhecer em seu ativíssimo ano final. Sobre ela, no caderno especial comemorativo do 57º aniversário de Cubatão, o jornal santista A Tribuna destacou, em 9 de abril de 2006:


Caixa d'água da usina era chamada Casa de Deus
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria

EDUCAÇÃO
Dona Nenê educou gerações cubatenses

Ela foi professora, diretora de escola e supervisora da Biblioteca Municipal

Joaquim Miguel Couto (*)
Colaborador

Ela nasceu numa Cubatão que começava a sair do cultivo de grandes bananais e partir para o desenvolvimento industrial. A Cidade era ainda bem modesta. A pequena menina recebeu de seus pais o nome de Maria Albertina Pinheiro da Silva. Mas logo ficaria conhecida em todo o Município como Dona Nenê.

Quando era criança, olhava quase sempre para o alto da Serra do Mar, costume natural do povo que vive no sopé da grande encosta. Dizia que, lá em cima, naquela grande construção da Usina Henry Borden, ficava a "Casa de Deus". Mais tarde, deve ter ficado frustrada ao saber que a "Casa de Deus" não passava da grande caixa d'água da hidrelétrica de Cubatão, por onde saíam os dutos que desciam a serra.

Formada, Dona Nenê foi trabalhar como professora da rede municipal de ensino. Depois, virou diretora e ocupou o cargo de secretária municipal de Educação. Por fim, era a supervisora da Biblioteca Municipal, situada na Avenida Nove de Abril, em prédio de saudosa memória de tantos cubatenses.

Gostava do livro Zanzalá, de Afonso Schmidt. Não esquecia o personagem chamado Maestro Flanelinha. No entanto, achava outros livros de Schmidt "Muito chatos". Por mais que gostemos e nos orgulhemos do maior escritor cubatense, temos que respeitar o gosto de nossos amigos.

Conheci Dona Nenê há pouco tempo, em setembro de 2000, quando fui ao Arquivo Histórico de Cubatão, situado atrás da Biblioteca Municipal. Estava iniciando minha pesquisa sobre o Pólo Industrial e resolvi estender os estudos à própria história de Cubatão.

Enquanto conversava com os funcionários do Arquivo Histórico, Welington Borges e Francisco Torres, Albertina chegou e, logo que foi informada sobre quem era o visitante, a supervisora da Biblioteca soltou a provocação: "Que história é essa que meu bisavô, Manoel Jorge, tramou o assassinato de Joaquim Miguel do Couto? Nunca soube disso".

Albertina não tinha gostado da história que tinha escrito, em 1999, sobre o passado de minha família, e que fazia referência à tentativa de assassinato, publicada pelo jornal A Tribuna. (N.E.: publicada no ano 2000)

Famílias - Expliquei a Dona Nenê que a história era real e que, tempos depois, Manoel Jorge ainda se casaria com a sobrinha de Joaquim Miguel, Úrsula do Couto. Assim, se ela era descendente de Manoel Jorge, também era descendente de Úrsula do Couto, e portanto, da família Couto.

Tanto ela quanto eu éramos descendentes de Miguel Francisco do Couto e Maria do Couto, personagens de histórias pitorescas do passado colonial de nossa Cidade. A partir desse momento deixei de chamá-la de Dona Nenê para chamá-la de Prima Nenê.

Parece que Albertina gostou da nova situação. Recordo que na fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Cubatão, em abril de 2002, Albertina fez um pequeno discurso, dizendo pertencer à família Couto, o que nos agradou muito.

Albertina era uma pessoa ativa. Lutava pelas coisas, principalmente pelo benefício da educação e da cultura de sua Cidade. Foi dela o projeto de gravar em vídeo depoimentos de nossos moradores mais antigos para o arquivo histórico, além da publicação sobre a história da Avenida Nove de Abril e do próprio prédio da Biblioteca Municipal. Era uma mulher de ação, enquanto muitos outros, inclusive eu, ficávamos apenas nas idéias ou nas palavras.

A Casa de Deus - Albertina era franca. Não media as palavras, tanto para elogiar quanto para criticar. Lembro de quando fomos ao alto da Serra, na "Casa de Deus", acompanhados do prefeito Clermont Silveira Castor.

Era uma visita para promover a idéia da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE), que visava transformar a Estrada Velha Caminho do Mar e seus monumentos num centro de visitas turísticas. No alto da Serra, Albertina olhou para o prefeito e apontou: "Olhe lá, veja as novas invasões atrás daquele morro".

Albertina era totalmente contra a expansão das favelas no Município e, por isso, criticava muitos políticos que incentivavam tal expansão de olho nos votos da próxima eleição.

Depois dessa cobrança ao prefeito, olhou para trás, e viu a grande caixa d'água. Lembrou de sua infância. Enquanto o grupo de visitantes subiu as escadarias em direção à "Casa de Deus", Albertina ficou olhando-a dali mesmo. Não teve coragem de subir. Vai saber suas razões!

Mais recentemente, começou a pintar quadros. A única tela pintada por Albertina que conheci era a ampliação de um desenho feito em 1826, que retratava o Porto Geral do Cubatão. Não é que o quadro pintado por Albertina, hoje na Biblioteca Municipal, superava o desenho original, pois lhe dava cor e vida!

Lutadora - Aposentada, estava livre para lutar pelas coisas de sua Cidade. Ao mesmo tempo que tentava preservar a memória do passado, buscava melhorar o presente, principalmente através da educação. Sabia que um povo bem educado teria melhores chances na vida e, por conseqüência, a Cidade cresceria em bem-estar.

Mas não deu tempo! A doença chegou cedo para esta lutadora. A última vez que vi Albertina foi em 2004. Já estava aposentada e fazendo tratamento contra o câncer. Apareceu na Biblioteca Municipal com um pano na cabeça que lhe dava grande jovialidade. Parecia uma estrela do rock. Estava bem disposta e ativa, como sempre. Pensei que já tinha vencido a doença. Mas não!

A doença avançou nos meses seguintes. Internada no Hospital Santo Amaro, de Guarujá, Albertina veio a falecer no início de outubro de 2005. Seu velório ocorreu no salão da Prefeitura. Foi enterrada no cemitério de Cubatão, onde estão os nossos queridos antepassados.

Albertina, filha dos filhos de Cubatão, merece uma homenagem formal de sua Cidade. Por isso, sugiro às autoridades municipais que atribuam à próxima escola a ser inaugurada o nome Professora Maria Albertina Pinheiro da Silva Mesquita. Seria uma justa homenagem da terra que tanto amou.

(*) Joaquim Miguel Couto é historiador, professor universitário e colaborador de A Tribuna.


Quadro pintado por Dona Nenê
Imagem cedida a Novo Milênio pela autora, em agosto de 2005

Quando ela faleceu, o jornal Intervalo, da Secretaria da Educação de Cubatão, registrou, em outubro de 2005:

Educação e Cultura perdem sua mais ilustre defensora

A diretora de escola aposentada, Maria Albertina Pinheiro da Silva Mesquita, conhecida como Nenê, faleceu no último dia 3 de outubro, deixando um vazio nas áreas de Cultura e Educação do município de Cubatão.

Ex-secretária municipal de Educação, ex-diretora da Emei Estado de Tocantins e ex-supervisora de Bibliotecas da Prefeitura, Nenê sempre atuou em prol da divulgação dos programas de Cultura de Cubatão e defendeu os direitos dos professores e alunos da Cidade.

Atuante em todos os cargos que ocupou na sua passagem pela Prefeitura, Nenê destacava-se por resgatar a história e a tradição dos moradores de Cubatão.

Por iniciativa dela, a tradicional Festa de São Lázaro, comemorada no mês de maio, voltou a ser promovida oficialmente na Cidade em 2001. Nenê foi ainda responsável pela recuperação da capela do Parque Anilinas e por trazer de Portugal a imagem de São Lázaro.

Uma de suas últimas atuações foi à frente do Conselho Municipal de Cultura, onde ocupou o cargo de presidente por mais de um ano.

Muito querida por todos, Nenê deixou também sua marca na Emei Estado de Tocantins, onde foi diretora por 15 anos. "Ela sempre foi uma profissional competente e nos deixou exemplos de vida maravilhosos", elogia a professora Mirian Rocha, que trabalhou com Nenê na Emei Tocantins.


Imagem: reprodução


Maria Albertina, em seu gabinete de trabalho
Foto: Arquivo Histórico Municipal

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