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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 04/06/05 10:35:28
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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - ESTRADAS
O maior engavetamento na Via Anchieta (3)

Foram 15 mortos, 300 feridos e 140 veículos destruídos, em junho de 1977
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Um denso nevoeiro, numa época em que era pouca a sinalização e não tinham sido desenvolvidas iluminação e pintura específicas para reduzir os efeitos da neblina, foi o principal motivo para uma seqüência de 3 km de acidentes na Via Anchieta, em 28 de junho de 1977, caracterizando um dos maiores acidentes automobilísticos da história mundial. Os fatos foram assim registrados no dia seguinte, 29/6/1977, pelo antigo jornal santista Cidade de Santos:
 

Mesmo aqueles que procuraram o acostamento foram atingidos
Foto publicada com a matéria

Causas: um enigma para a polícia

Dificilmente, mesmo usando recursos técnicos, a polícia conseguirá as causas reais do acidente, muito embora o nevoeiro e a imprudência de alguns motoristas, cujas identidades também não foram definidas, tenham sido apontadas como as principais.

Um funcionário da Companhia Siderúrgica Paulista, a Cosipa, comentou ontem à tarde, ao sair da Santa Casa de Cubatão, onde foi medicado, que apesar de ser o fiscal do ônibus que transporta os funcionários, não tem autoridade para obrigar o motorista do coletivo a parar o veículo mesmo que as condições climáticas não ofereçam ambiente de tráfego.

"Posso mandar parar o ônibus, apenas quando há problema mecânico. No caso, os policiais rodoviários deveriam estar atentos e fazer estacionarem os ônibus à saída do elefante branco (saída de Santos antes da via Anchieta) onde as condições de visibilidade já eram bastante precárias. A rodovia deveria, no meu entender, ser interditada".

Temendo represálias por parte da empresa ou de motoristas das firmas responsáveis pelo transporte de trabalhadores para Cubatão, o funcionário da Cosipa pediu para não ser identificado através das publicações, mas confirmou acusações dos conselheiros do CIESP, de que os motoristas dos ônibus não guardam distância entre um veículo e outro.

"Há casos em que os motoristas chegam a se comunicar por meio de mímica através dos espelhos, tal a distância que andam uns dos outros. Qualquer motorista de veículo de menor porte que venha pela Anchieta no horário de saída ou entrada dos ônibus com o pessoal das indústrias pode sentir o problema. Os ônibus chegam a formar uma parede intransponível, sendo quase impossível ultrapassá-los, devido à proximidade de uns dos outros". E concluiu: "como fiscal e autoridade maior no veículo, nada posso fazer para evitar a velocidade excessiva dos ônibus. A atitude de um fiscal exigindo menor velocidade, geralmente, provoca discórdia entre funcionários que ocupam os ônibus, pois tanto uns como outros, estão sempre com pressa".

Presidente do Dersa - "Veja no que dá a velocidade na neblina: é fantástico - dizia chocado o presidente da DERSA - engenheiro Luís Roberto Marry do Amaral, examinando um "Fiat" totalmente destroçado. E, à medida em que examinava outros veículos destruídos, comentava: "Para amassar deste jeito, só com muita velocidade".

Luís Roberto Marry do Amaral não hesitou em apontar os motivos da tragédia: "é o comportamento imprudente de nossos motoristas, dirigindo sob neblina. A velocidade limite de 80 quilômetros por hora é para os dias limpos e claros, não a qualquer hora".

Ele afirmou que "uma batida em velocidade baixa não poderia causar isso".

Referindo-se à condição de "visibilidade nula" que existia na estrada, disse que houve "uma total imprudência e despreparo dos motoristas".

Uma solução - Segundo o presidente da DERSA, "estamos pensando em fechar a via Anchieta quando a visibilidade for nula, pois o comportamento dos usuários não corresponde às condições de segurança da estrada".

Lembrando que o sistema Anchieta-Imigrantes é dotado de equipamentos que as tornam as estradas mais seguras do país, Marry do Amaral comentou: "não é aceitável que, diante de tanto investimento para segurança dos motoristas, haja esse mau comportamento de alguns, ocasionando uma catástrofe dessas proporções".

Segurança total - Visivelmente nervoso, o presidente da DERSA afirmava: "a empresa está absolutamente consciente de que seu sistema é o mais seguro, e mesmo assim, formamos equipes de ambulâncias e guinchos, prevendo possíveis emergências".

Em nota oficial distribuída na tarde de ontem, a direção da DERSA observa que "exceção feita ao primeiro acidente (que segundo a empresa começou a colisão de uma carreta com um caminhão), que decorreu da precária visibilidade, os demais, em ambos os sentidos, se sucederam pela curiosidade dos motoristas que paravam, nas duas pistas, para apreciar o ocorrido".

Para desimpedir as pistas da via Anchieta, a empresa informou que foram utilizados trinta veículos, entre guinchos, caminhões e ambulâncias. "o que foi conseguido às 10h30".

Ônibus, automóveis e peruas foram destruídos no maior acidente da Anchieta
Foto publicada com a matéria

Na tragédia, alegria de viver

"Nasci outra vez" - Esta a afirmação de Orivaldo Lúcio, que estava dirigindo o Dodge-1800, placas de Santo André NF-0987, que repetia a todos com insistência a mesma frase, variando um pouco: "Só tenho horas de vida. Sou um homem novo em folha". Mesmo tentando esconder, Orivaldo deixou transparecer, quase quatro horas depois do acidente, o seu temor. Ele comentou também que viveu momentos de pânico. De repente, segundo suas revelações, sentiu seu carro prensado pela frente e por trás. Do carro, pouco sobrou e Orivaldo não soube explicar com detalhes como foi que abandonou o veículo. "Sei que quando dei por mim estava fora do carro e ouvia ainda gemidos de dor e gritos de desespero. Foi um milagre, nasci outra vez".

Além disso, Orivaldo comentou que a sorte estava mesmo ao seu lado, porque entre os veículos próximos ao seu havia um enorme caminhão, carregado de produto altamente inflamável, que se chocou contra um ônibus, mas nada aconteceu. Se o caminhão explodisse, como chegaram a comentar outras pessoas que chegaram ao local do acidente momentos depois, a tragédia seria muito maior. Morreriam muitas pessoas, ou queimadas ou intoxicadas pela fumaça.

A mobilização imediata de recursos para socorros foi também espontânea, porque tinha gente que reside no bairro do Casqueiro, deixou seus afazeres e correu à estrada para ajudar.

Alguns carros tombados tiveram que ser desvirados no braço pra que seus ocupantes pudessem ser salvos. E foi difícil, a princípio, chegar ao local, porque muitos veículos envolvidos  no acidente ficaram atravessados na pista. Os cadáveres, à medida que eram retirados das ferragens dos automóveis ou ônibus, foram sendo colocados à beira da rodovia à espera de transporte para o necrotério. Os feridos eram transportados das mais diferentes formas: uns em ambulâncias da Dersa, outros em carros particulares, que conseguiram passar, com dificuldades, entre os veículos acidentados e alcançaram a estrada.

O primeiro carro a chegar com feridos à Santa Casa, seu motorista alertou o hospital da enormidade do acidente e, a partir daí, instalou-se um esquema especial de atendimento  outros hospitais da Baixada Santista foram alertados do estado de emergência. O próprio prefeito Antônio Manoel de Carvalho, quando soube da proporção do acidente, locomoveu-se até a via Anchieta, onde teve sua passagem obstada, segundo declarou, por um militar que se identificou como capitão Fabiano.

Esta é a relação dos feridos

A relação dos feridos, fornecida pelos Hospitais das Santas Casas de Santos e de Cubatão, Hospitais Ana Costa, São Lucas, São José (São Vicente) e Beneficência Portuguesa de Santos, é a seguinte:
[...]

Auxílios aos feridos - Os médicos do Instituto Nacional de Previdência Social e da Secretaria de Higiene e Saúde do município foram mobilizados para auxiliar nos socorros de emergência junto aos hospitais que atenderam os feridos.

Na Santa Casa de Cubatão, no entanto, por falta absoluta de recursos, vários casos, considerados mais delicados, tiveram que ser transferidos para o Hospital da Santa Casa de Santos. Principalmente os casos de plásticas faciais tiveram que ser entregues à sede hospitalar em Santos. O Banco de Sangue da Santa Casa, desde as primeiras horas, valendo-se da contribuição de anônimos, e de grande número de soldados da Polícia Militar do Estado e do Exército, recolheu doações para dar sustentação às centenas de cirurgias executadas naquele hospital.

Em São Vicente, também o atendimento, através do Hospital São José, mereceu cuidados especiais, sendo que os hospitais Ana Costa e São Lucas chegaram a atender feridos, tal o número de internações e a falta de leitos para estes atendimentos.

No fim da tarde, na Santa Casa, comentou-se que foram requisitados da Capital cirurgiões especializados para casos de lesões cerebrais graves, pois era grande o número de acidentados na cabeça.

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