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Publicado originalmente em (mês/dia/ano/horário): 10/03/04 19:45:06
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/12/20 11:54:38

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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
1956: surge o primeiro parque infantil

Era um barracão equipado com pás e enxadas

Na edição comemorativa ao aniversário de Cubatão, em 9 de abril de 2000, o jornal santista A Tribuna publicou este depoimento:


Maria do Rosário conta histórias de uma época em que 
Cubatão não sonhava com a riqueza trazida pela industrialização
Foto publicada com a matéria

Revelações da memória de Cubatão

Maria do Rosário Lopes Franco (*)
Colaboradora

No dia 9 de abril de 1956, recebia eu a chave de um barracão onde havia apenas pás, enxadas e ferramentas de operários. Nascia naquele momento o primeiro parque infantil de Cubatão, com o nome de Parque Infantil do Jardim Casqueiro e Vila Bandeirantes, situado na Rua Espanha, 36.

Os poderes públicos de então não tinham condições de aparelhar ou mobiliar sequer o barracão. No dia seguinte, dei início às matrículas em folha de papel almaço. Destaco a prontidão do farmacêutico João Martins Cruz, também, na época, presidente da Sociedade de Melhoramentos do Jardim Casqueiro e Vila Bandeirantes, hoje eminente advogado, que naquela ocasião se prontificou e conseguiu no bar da esquina uma mesinha e uma cadeira para a professora iniciar o seu trabalho (mesa esta que nunca foi devolvida).

As crianças surgiram de imediato e quando chegou ao número 90 da matrícula, parei e me assustei, mas logo apareceram os líderes do bairro, que se prontificaram a melhorar a situação.

O sr. Barbosa (Domingos Barbosa), de saudosa memória, que costumava organizar enormes caravanas para arrecadar donativos para a Cidade da Criança (em Praia Grande) se colocou à disposição para conseguir papel, lápis de cor, giz e lousa. O restante do material eu comprava fiado nos bazares do Mário Canelas e de dona Estefânia, pagando sempre com o meu salário, no final do mês.

A administração municipal, através do Lindoro Couto (emancipador, já falecido), mandou uma mesa de oito metros de comprimento e dois bancos para que eu pudesse acomodar as minhas crianças.

Tudo, em pouco tempo, tornou-se belo, as cortinas de saco pintadas pelas mãezinhas, que aprendiam esse trabalho em cursos de pintura, enfeites de Natal e outros que eu ministrava após o horário. Nossa bandinha era feita de sucata; nossas festas ao som do nosso inesquecível sanfoneiro, sr. Homero, nosso servente. Todas as comemorações eram concorridas e prestigiadas pelas autoridades do município.

Que saudade!

Quantos desses nossos alunos, hoje políticos, professores já aposentados da Prefeitura, médicos, advogados, por ali passaram. Todos nos enobrecem pelo carinho que nos dispensam.

Não poderia deixar de destacar que o primeiro bebedouro foi doado através do Lions Clube de Cubatão. Lembro-me, com saudade, da alegria dos leões Sinval, Toledo, Celso, Avelino e outros, e, principalmente, do nosso atuante médico cubatense, dr. Mário Ruivo, então presidente da entidade, ao verem as crianças disputar o lugar na fila para beber a água tratada e encanada, diretamente do bebedouro que foi colocado atrás do barracão.

Planejei o uniforme das crianças que, apesar das dificuldades financeiras, sempre se apresentavam com esmero e graciosidade. Esse mesmo uniforme ainda permanece, até hoje em uso.

A Tribuna sempre foi convidada, prestigiando nosso trabalho educacional, através de seu representante na sucursal, Áureo de Carvalho. Registro, assim, como foi o início das pré-escolas municipais.

Hoje, esse mesmo parque infantil transformou-se na Emei. Almerinda Monteiro de Carvalho, grande professora que cedeu sua casa para a escola rural, transformando-a posteriormente em enfermaria para atender seus alunos e familiares, durante uma grande epidemia que se alastrou pela então Vila de Cubatão.

A relatar este acontecimento, faço-o em homenagem à Cidade de Cubatão que tanto amo e ao progresso visível em todos os setores. Ao setor de Educação, que se esmere, cada vez mais, porque essas crianças de parque infantil serão sempre o futuro de nossa Cidade.

(*) Maria do Rosário Lopes Franco é professora aposentada da Prefeitura de Cubatão.

Sonia Onuki"O parque infantil do Jardim Casqueiro e Vila Bandeirantes (1956-1966)" foi o título da dissertação de mestrado em Educação apresentada por Sonia Maria da Silva Onuki perante a Universidade Católica de Santos (Unisantos) em 20 de fevereiro de 2019.

Este trabalho pode ser obtido em formato de arquivo PDF no endereço original ou em Novo Milênio.

Sônia é coordenadora da área de Música Infantil na Secretaria Municipal de Educação de Cubatão, onde vem desenvolvendo diversos projetos e a regência de corais

Em seu estudo, a autora destaca duas fotos não datadas, possivelmente do início dos anos 1960, mostrando a área de recreação do parque infantil e uma classe no refeitório. As imagens foram disponibilizadas em 2018 pelo Arquivo Histórico de Cubatão:
Parque - externo
Parque - interno

Após a publicação desta dissertação, verificou-se que a reportagem não identificada na página 78 do arquivo foi na verdade publicada no jornal Intervalo, que era mantido pela Secretaria Municipal de Educação cubatense. Em contato com sua editora, a jornalista Cecília Beu, foi possível localizar a edição número 3/Ano I, de junho de 2003, com aquela publicação:
Intervalo - capa
Intervalo - página 7

Transcrição da página 7 do jornal Intervalo de junho de 2003, em ortografia atualizada:

RESGATE DA NOSSA HISTÓRIA

Jd. Casqueiro abriga a primeira escola de Educação Infantil

Quem estuda hoje na Emei Almerinda Monteiro de Carvalho não tem ideia de que aquela escola guarda muita história sobre a Educação Infantil de Cubatão.

Pessoas que hoje se destacam na Cidade tmabém passaram um dia por aqueles bancos e salas de aula, como é o caso do Dr. João Carlos Cruz, médico da Caixa de Previdência dos Servidores Municipais.

Primeira escola de Educação Infantil de Cubatão, o ambiente do Almerinda realmente cativa seus alunos. "É muito bom estudar aqui, tenho muitos amigos e gosto das professoras e da diretora", afirma a aluna Sara Silva Santana, de 7 anos. Sara estuda na 1ª série da Emef Antônio Ortega Domingues, que funciona provisorimente na Emei Almerinda até que a nova escola do Jardim Casqueiro fique pronta (N.E.: Emef = Escola Municipal de Ensino Fundamental; Emei = Escola Municipal de Educação Infantil).

"Fiquei muito feliz em poder estudar aqui mais um ano", garante Ingrid Freitas Nascimento, de 7 anos, que estuda na mesma classe de Sara. Extrovertidas e simpáticas, as duas são amigas desde quando estudavam no Nível I.

A diretora Marta Beatriz Gonçalves Ariante conta que o Almerinda é mesmo uma família. Hoje estudam 318 alunos na Educação Infantil e cerca de 180 na 1ª série do Ortega. Marta conta com o apoio da professora Roseli Lopes da Silva Hanna, responsável pela orientação educacional e pedagógica dos alunos da Emei. Há ainda a professora Rosemary Cristina de Melo Oliveira, que cuida da orientação pedagógica da 1ª série.

No total são 15 professores e 11 funcionários que trabalham pela educação das crianças, a maioria do Jardim Casqueiro e Vila dos Pescadores.

O projeto pedagógico da escola trata do tema "As poesias e canções que você fez pra mim". Segundo Roseli Hanna, as professoras estão trabalhando poesias de Cecília Meireles e Tatiana Belinki em sala de aula. "Brincar com as palavras desenvolve o gosto pela leitura e escrita, e a poesia é fundamental nesse trabalho", garante.

Alunos da Emei Almerinda em 2003
Alunos da Emei Almerinda gostam do ambiente da escola
Foto e legenda publicadas com a matéria

Quem foi Almerinda Monteiro de Carvalho

A professora Almerinda Monteiro de Carvalho nasceu em Salvador (BA), em 1878, vindo morar em Santos ainda criança. Casada com Afonso Teixerira de Carvalho Jr., em 1913, começou a dar aulas em Cubatão, substituindo a professora Anna Dias Pinto e Silva, na Escola Mista Municipal de Cubatão, no Largo do Sapo.

Em 1916, foi nomeada professora da Escola Mista Municipal de Itutinga (no bairro de Pilões), ficando por dois anos na escola, onde chegou a morar com sua família.

Muito inteligente, esforçada, com bom nível cultural, destacava-se por sua beleza e seu amor ao próximo.

Em 1918, durante a epidemia da gripe espanhola, cuidou de 62 doentes por 61 dias. Foi incansável e nunca deixou de prestar assistência a todos que a ela recorriam.

Faleceu em fevereiro de 1927, vítima de tuberculose, contraída em consequência da gripe espanhola, segundo alguns registros.

Alunos da Emei Almerinda em 2003
Dona Maria tem orgulho de ser professora e faria tudo de novo
Foto e legenda publicadas com a matéria

Maria do Rosário, primeira diretora da Emei Almerinda

Quando a Emei Almerinda Monteiro de Carvalho foi inaugurada, em 8 de dezembro de 1966, a professora Maria do Rosário Lopes Franco estava radiante. Seu sonho havia se realizado.

Dona Maria, hoje com 74 anos e aposentada da Prefeitura de Cubatão, esperou 10 anos pela inauguração. Primeira professora do Parque Infantil do Jardim Casqueiro e Vila Bandeirantes, dona Maria começou a trabalhar no dia 9 de abril de 1956, num barracão de madeira.

"Recebi as chaves do barracão e no dia seguinte vim trabalhar. Ao abrir a porta, encontrei só ferramentas de operários. Não havia móveis, nem alunos", conta.

Dona Maria não desanimou. Conseguiu uma mesa e uma cadeira e logo matriculou 90 alunos. Alguns dias depois, recebeu da Prefeitura uma mesa de oito metros e dois bancos para acomodar os alunos. "Dava aulas, fazia a merenda e limpava a escola. Não tínhamos funcionários e fazia de tudo um pouco".

Como foi pioneira no ensino infantil de Cubatão, dona Maria foi quem escolheu o uniforme vermelho e branco que até hoje é usado pelos alunos das Emeis. "A única diferença é que, na época, usava-se camisa de botão e saia de pregas. Havia ainda uma sacola e um chapéu".

Dez anos se passaram e os alunos do barracão foram transferidos para a nova escola e Dona Maria passou a ser a diretora do Parque Infantil Almerinda Monteiro de Carvalho. Depois de 44 anos de trabalho dedicados ao magistério, dona Maria aposentou-se em 1988, como diretora da extinta Emei Sergipe.

"Tenho muito amor e carinho pelo Almerinda porque o vi nascer. Se tivesse que começar novamente, faria tudo de novo, porque ser professor é a coisa mais gostosa que tem na vida", declara com um belo sorriso no rosto.

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