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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
As origens da siderúrgica (3)

Por volta de 1973, um dos fundadores da Companhia Siderúrgica Paulista, Martinho Prado Uchôa, produziu um livrete contando A História da Cosipa, com fotos antigas e seu depoimento, como protagonista que foi desses episódios.

Com 72 páginas, projeto gráfico de Vicente Gil/Assessoria Visual Ltda. e impressão Linova Editora Artes e Serviços Gráficos Ltda., a obra não contém mais dados sobre o livrete em si (que teria sido apoiado pela Cosipa) e nem legendas para as fotos, aqui reproduzidas junto com parte do texto (que no original é complementado pela descrição das assembléias gerais da empresa entre 1953 e 1966). Esta é a continuação do texto:


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Martinho Prado Uchôa

1952

12 de outubro - Inicia-se o congresso, que se estendeu até 1º de novembro, com grande sucesso e participação dos mais renomados siderurgistas do mundo. Cheguei a Bogotá dias antes da abertura do congresso e, estabelecendo contato com colegas colombianos, soube que a Colômbia, rica em carvão mineral e minério de ferro, estava há muito tempo empenhada em instalar uma indústria siderúrgica.

Contaram-me também que já haviam lançado uma taxa para formação de capital, tendo recolhido bastantes recursos, bem como convidado diversas firmas americanas de engenharia para elaborar o estudo de viabilidade técnica, porém, sem resultado.

Por ocasião da tentativa de contratar uma firma de engenharia nos Estados Unidos, o engenheiro Jaramillo, enviado do governo, já no aeroporto para voltar a Bogotá sem nada ter conseguido, ouviu pelo alto-falante:

- Sr. Jaramillo, compareça com urgência ao nosso balcão antes de embarcar para Bogotá. O senhor está sendo procurado por alguém que tem um assunto muito importante para tratar consigo antes de seu embarque.

Dirigindo-se ao balcão, um senhor de nome Richards apresentou-se e disse:

- Sei que esteve procurando uma firma de consultoria para efetuar um estudo de implantação de uma usina siderúrgia em seu país e, como das outras vezes, nada conseguiu. Cancele sua viagem de volta a Bogotá e venha comigo amanhã a Paris. Dentro de um mês, arranjaremos a firma e o financiamento.

Para os colombianos, seria muito importante eu conhecer o Sr. Richards, que ia participar do congresso. Assim que ele chegou, hospedando-se no mesmo hotel que eu, perguntou-me:

- Este plano é o que está ligado a alguma família? Caso seja o plano daquela família nem perderei tempo em conversar consigo.

Certificando-se de que o meu plano era outro, prosseguiu:

- Sou intermediário de grandes empreendimentos e trabalho com o Banco de Paris et des Pays Bas. Não entendo de siderurgia, mas tenho assessores que chegam amanhã, como o Sr. Ramseyer, considerado por mim como o melhor siderurgista americano. Ele ficará à sua inteira disposição para conversar e analisar o seu trabalho. Desde que o seu parecer seja favorável, darei atenção ao assunto e tentarei conseguir financiamento para a Cosipa, como já consegui para a construção de Paz del Rio, na Colômbia. Os Estados Unidos têm know-how mas não financiam; os franceses não têm know-how mas podem comprá-lo dos americanos e financiar.

Durante as três semanas do congresso tivemos ocasião de esgotar o projeto Cosipa, e eu obtendo os dados que necessitava para terminar o trabalho. Travei contato com o professor Johannsen, inventor do processo Krupp-Renn, que me forneceu valiosas informações sobre o assunto.

Terminado o congresso, embarquei de volta ao Brasil no dia 1º de novembro, tendo, antes disso, visitado as minas de carvão de Cale, possível fornecedor de carvão ao Brasil.

1953

Baseado no relatório que completei em Bogotá, realizei inúmeras conferências em São Paulo e também, em 22 de agosto, na Comissão de Desenvolvimento Industrial. Mantive contato com Othon Barcellos e, por seu intermédio, com Luis Ensch e Scharlé, da Belgo Mineira.

Sabendo que Ensch viera ao Brasil em novembro de 1927, contratado pela Arbed, para dirigir a Belgo (que na ocasião operava com grande prejuízo e, em pouco tempo, transformou-se em uma empresa altamente rendosa) achei que se conseguisse convencer ambas as firmas a se associarem à Cosipa, o empreendimento estaria, assim, garantido.

Depois de uma longa exposição que Plínio e eu fizemos na residência de Othon Barcellos, a idéia foi aprovada por ambos. Precisava agora da aprovação da assembléia geral, que seria realizada no dia 24 de junho, no Rio de Janeiro, bem como da assembléia da Arbed, em Luxemburgo, no dia 25 de agosto.

Dias depois recebemos um telegrama de Luxemburgo, dizendo que a Arbed estava mandando uma missão ao Brasil para conhecer mais detalhes do projeto. No dia 1º de julho de 1953, chega a triste notícia de que Ensch tinha falecido e que seu corpo estava sendo enviado ao Brasil, para aqui ser enterrado. Algum tempo depois, a missão composta por Joseph Paquet, Egide Bosseler, Henri Welter, e completada pelos engenheiros Francisco Pinto de Souza e Mayers de Monlevade, deu início aos trabalhos, sob coordenação minha e de Plínio.


1954

24 de janeiro - A missão volta para a Europa depois de nos entregar uma cópia de um trabalho muito bem feito, concordando com as nossas conclusões sobre o projeto Cosipa. Posteriormente, lendo nos jornais que o Brasil estava em vias de mandar para a Alemanha uma missão chefiada por Marcos de Souza Dantas, presidente do Banco do Brasil, para renovar o tratado comercial com a Alemanha, tomei o primeiro avião e fui ao Rio. Procurei imediatamente o Dr. Marcos, a quem fui apresentado pelo seu oficial de gabinete Luís de Morais Barros, dizendo-lhe:

- O Brasil, em agosto próximo, pretende renovar o acordo comercial com a Alemanha, que faz tratados de compra de milhões de toneladas de minério de ferro da Suécia. Sugiro que a missão proponha desviar um décimo desse fornecimento para o Brasil durante dez anos, comprando o minério do Vale do Rio Doce, que é até melhor do que o da Suécia. Em troca, a Alemanha fornecerá uma usina siderúrgica completa por US$ 130 milhões.

Dr. Marcos aprovou imediatamente a sugestão, convocando, em seguida, os demais diretores para ouvirem minha exposição. Ao final, perguntou-me o que eu queria do Banco do Brasil, ou melhor, da missão. Respondi que tinha me formado na Alemanha e, por isso, teria facilidade de lá expor o meu plano e propor uma participação. Eu disse que dentro de dois meses - tempo suficiente para eles analisarem e obterem informações - teríamos a resposta.

Se nessa ocasião eu voltasse acompanhando a missão, isso me daria status e a impressão de contar com apoio oficial. Fui contratado como Assessor da Missão, com a aprovação da diretoria do Banco, recebendo US$ 100 por dia, livre de despesas.

17 de agosto - Segui para a Alemanha, depois de uma rápida passagem por Paris, para me avistar com Richards, que me apresentou aos diretores do Banco de Paris e des Pays Bas.

No dia 20 entrei em contato com possíveis firmas interessadas no projeto, preparando terreno para posteriores conversações com o governo alemão, em Bonn, e com o Wirtschafs Ministerium.

25 de agosto -  Quando me preparava para seguir à Alemanha, soube da morte do presidente Getúlio Vargas. Alterei meu programa de viagem, prevendo que a missão brasileira não mais viria, o que realmente ocorreu.

7 de outubro - Voltei ao Brasil. Tinha conseguido falar com todas as firmas que poderiam se interessar pelo negócio, culminando numa conversa com o preposto do Ministério da Economia. A acolhida que tive foi a melhor possível: na Krupp falei com um dos diretores, que adiantou estar a Alemanha com falta de dinheiro e técnicos, "caso contrário tudo faria para eu assinar uma carta de intenção".

A minha argumentação com os alemães foi a seguinte:

- O futuro da Europa e, principalmente da Alemanha, é sombrio e sem grandes esperanças. Venham ao Brasil, para São Paulo, com um povo amigável que todos conhecem, situado numa região privilegiada quanto ao clima, recursos minerais, bom solo, água em abundância, meios de transporte, protegida pelo oceano Atlântico de um lado e pela serra do Mar de outro. Assim vocês terão um futuro risonho e poderão, como cabeça-de-ponte, atrair muitas indústrias alemãs.

Apesar dos contratempos e de reinar uma atmosfera pesada e cheia de incertezas no Brasil, nós não esmorecemos. Sabíamos, eu e Plínio, que podíamos sempre contar com Alcides, Quartim, Herbert Levy, Ortemblad e o general Macedo Soares.

10 de dezembro - Entrevista com Eugênio Gudin, ministro da Fazenda. Desde o começo da Cosipa, o general tinha ocupado a presidência, acumulando a função com as presidências da CSN e da Acesita, o que não achava correto.

1955

Assim sendo, em uma das reuniões, o general Macedo informou que ia pedir demissão da presidência da Cosipa. Após trocar idéias com outros diretores, ficou resolvido convidarmos Alcides Vidigal para substituí-lo, e que iríamos procurá-lo para saber se aceitava a indicação. Posto a par do assunto, Alcides disse que só aceitaria o cargo se pudesse contar com o apoio de Jânio e Juscelino. Neste sentido foram enviadas cartas aos dois. Jânio logo concordou, mas Juscelino não respondeu.

Como presidente das demais siderúrgicas, o general viajava freqüentemente para a Europa e os Estados Unidos, aproveitando essas ocasiões para pleitear apoio à Companhia. Mas além da Westinghouse, nada tinha conseguido.

Numa de suas visitas à Europa, a diretoria da Arbed informou ao general que a empresa não poderia participar da Cosipa por estar comprometida com a atualização de alguns equipamentos de sua fábrica. Propus então ao Plínio procurarmos os japoneses. Encontrando o deputado Yuquishic Tamura no Rio, lembramos-lhe que São Paulo estava prestes a colher uma grande safra de algodão. Perguntamos, assim, o que ele achava de propormos ao Japão a troca de algodão por equipamentos siderúrgicos. Ele aprovou a idéia, dizendo que iria falar com o embaixador Ando para sugerir o negócio e, em seguida, comunicar-nos o resultado.

No dia seguinte, o deputado informou-nos que o embaixador aprovara a proposta e nos convidara a ir ao Japão expor nossas idéias. Apesar de satisfeitos com a notícia, não pudemos aceitar o convite porque ainda estávamos em negociação com outros interessados (Alemanha), mas solicitamos que o Japão nos enviasse um representante para dialogar.

21 de janeiro - O general Macedo Soares, achando que a Cosipa estava progredindo aquém das necessidades, promete subscrever 100 mil ações em quatro anos.

30 de janeiro - A comitiva composta pelo governador Jânio da Silva Quadros, secretário da Fazenda Carvalho Pinto, deputado Afrânio de Oliveira e Quintanilha, visitou Volta Redonda.

29 de maio - Visita de Felix Chomé.

19 de setembro - Jantar com o deputado Tamura, no Rio.

29 de setembro - Diário Oficial, pág. 18258, com exposição de motivos de Jânio, aprovada pelo ex-presidente Café Filho, sobre a participação da CSN com Cr$ 120 milhões; fornecimento de minério pelo porto do Rio de Janeiro e sugestão ao governo federal de subscrever Cr$ 200 milhões na Cosipa.

3 de outubro - Com Juscelino eleito, a Federação das Indústrias de Minas Gerais promoveu fórum de debates, encerrado em 28 de janeiro de 1956, aprovando uma série de recomendações a ser encaminhada a JK.

11 de dezembro - Convidado pela Sociedade Mineira de Engenheiros, chega a Belo Horizonte o embaixador do Japão para estudar a transferência de indústrias especiais do Japão para Minas.

17 de dezembro - Após percorrer algumas indústrias, entre outras a Belgo Mineira, a Mannesmann, a Cemig e o DER, o embaixador foi homenageado pelo governo, Sociedade Mineira de Engenheiros e Federação das Indústrias.

1956

8 de janeiro - A CSN convoca uma assembléia geral ordinária a ser realizada no dia 26, para propor a participação da CSN na Cosipa.

19 de janeiro - A Sociedade Mineira de Engenheiros, a Associação Comercial e a Federação das Indústrias de Minas Gerais enviaram telegramas ao presidente da República, Nereu Ramos, ao governador de Minas, Clóvis Salgado, ao presidente eleito mas ainda não empossado, Juscelino Kubitschek, ao ministro da Aviação, Lucas Lopes, e ao ministro da Fazenda, pedindo adiamento da assembléia para que o assunto pudesse ser debatido e reexaminado.

23 de janeiro - O presidente Nereu Ramos recebe a comissão e, em seguida, houve troca de telegramas entre a Associação dos Engenheiros de Minas, Plínio e Macedo (o ministro Lucas Lopes chegou a declarar que se Minas enviasse minério de ferro para a Cosipa ele iria impedir de armas na mão).

31 de janeiro - Posse de Juscelino e de Bias Fortes, em Minas.

10 de fevereiro - O presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros convoca engenheiros siderurgistas para estudarem a implantação de uma usina siderúrgica em Minas. Contando com o apoio do governador Bias Fortes, que abriu o 2º Fórum de Estudos em 23 de março de 1957, compareceram à reunião o ministro da Fazenda, Alkimim, e o general Macedo.

31 de março - Em reunião, a Sociedade Mineira de Engenheiros estudou e apreciou a possibilidade de levantamento de capitais avaliados em Cr$ 2,267 bilhões, aprovou o nome e a sigla Usiminas, propostas por Mário Renó, e indicou para staff diretor Gil Guatemosin, Amaro Lanari Júnior (então do BNDE), Álvaro Paiva Abreu e Mário da Silva Pinto, aprovado posteriormente pelo governador Bias Fortes.

9 de abril - Aprovação de Juscelino.

16 de abril - A missão japonesa, promovida pelo embaixador Ando e Tamura, chega a São Paulo precedida do cônsul do Japão e de um intérprete, para uma reunião em nosso escritório da Barão de Itapetininga.

O chefe da missão, Massao Yukawa, era considerado o mais importante siderurgista do Japão. Diplomou-se em Charlotenburg no ano de 1927 e, por isso, meu colega de turma. Em alemão, expliquei-lhe nosso plano e os estudos realizados. Plínio e eu resolvemos ir ao Rio cobrar do presidente uma resposta à carta de Alcides Vidigal, solicitando o seu apoio ao projeto.

Chegando ao Rio, dirigimo-nos ao escritório da CSN, onde Paulo Mendes nos disse que os mineiros estavam indignados com a notícia de que a CSN marcaria uma assembléia para propor a participação da Companhia no capital da Cosipa.

Uma missão já havia sido enviada ao Rio para conversar com Juscelino, visando a impedir a transação. Adiantou também que o general Macedo havia dito tratar do assunto.

Ao que respondemos: "Convide-os para virem aqui conversar". Pouco tempo depois, chegam os mineiros. Eram o deputado federal Último de Carvalho, o deputado estadual Saulo Diniz, e Lídio Lunardi, presidente da Associação comercial de Belo Horizonte.

Iniciadas as conversações, e depois de uma acalorada discussão do Plínio com os mineiros, sugeri:

- Nada mais justo que vocês, mineiros, sintam-se espoliados com a exploração do minério de ferro de seu Estado, primeiramente pela Vale do Rio Doce, depois pela CSN e agora pela Cosipa. Pelos nossos estudos, o Brasil necessitará construir uma usina nos moldes de Volta Redonda a cada ano e meio. Por que, então, em vez de discutirmos, não entramos num acordo: apoiamos a Cosipa e, ao mesmo tempo, propomos a construção de uma usina em Minas?

Os mineiros imediatamente aceitaram nossa proposta. Nessa altura, o general Macedo Soares entrou na sala, felicitou-nos pelo acordo e chamou um fotógrafo para registrar o evento. O deputado mineiro Saulo Diniz, então, propôs irmos, à tarde, ao presidente Juscelino Kubitschek dar-lhe a boa nova. O general mostrou-se descrente quanto a sermos recebidos pelo presidente, porque ele estava com a agenda repleta e, no dia seguinte, iria a Olinda (PE), inaugurar um poço de petróleo recém-descoberto. O deputado Saulo comprometeu-se a arrumar o encontro com Juscelino, obtendo-o para as 18 h.

Nossa reunião foi interrompida com a entrada dos japoneses na sala, para espanto do general. Plínio explicou-lhe que a comitiva japonesa já havia estado em São Paulo na véspera, conforme combinado com o deputado Yuquishic Tamura, e que naturalmente eles tinham vindo pedir a bênção do padrinho. Ao nos despedirmos, Saulo ficou de telefonar imediatamente ao governador de Minas, Bias Fortes, para comunicar-lhe o resultado.

Pouco antes das 18 h, o engenheiro Plínio de Queiroz, o deputado Brasílio Machado Neto e eu, acompanhados pelo general Macedo Soares, encontramo-nos com os mineiros na ante-sala da Presidência, no Palácio da Guanabara. Sentei-me com o Saulo e lhe disse;

- Você sabe por que nós viemos ao Rio? Para cobrar do Juscelino resposta à carta de Alcides Vidigal, solicitando apoio para sua indicação à presidência da Cosipa, uma vez que o Machado pretende se demitir do cargo.

O Saulo, que desconhecia este fato, comunicou-me que o governador Bias Fortes nos convidava para irmos a Minas, como hóspedes oficiais do governo.

- Plínio e eu só iremos amanhã a Belo Horizonte se o presidente Juscelino apoiar Alcides Vidigal para a presidência da Cosipa, respondi.

Saulo, indignado, replicou:

- Isso é golpe sujo. Eu nunca poderei voltar a Belo Horizonte sem vocês. A rádio já deu a notícia, todo mundo já está sabendo. Com que cara eu ficaria?

- Nós contamos com você, principalmente, que é tão amigo do Juscelino, para nos ajudar, rebati.

Ao receber a comitiva, o presidente Juscelino estranhou a presença de paulistas e mineiros.

- Exa., disse o general, Alcides Vidigal há tempos escreveu-lhe uma carta, solicitando o seu apoio para assumir a presidência da Cosipa. Como até agora não tiveram uma resposta, os paulistas tomaram a liberdade de vir falar com V. Exa.

O presidente, depois de ler uma cópia da carta que lhe foi entregue pelo general, lembra ter enviado a original ao Conselho de Desenvolvimento Industrial, que ainda não a havia respondido.

Irritado, o deputado Saulo disse:

- Presidente, o senhor não pode tratar São Paulo desse jeito. O Dr. Plínio e o Dr. Uchôa fizeram um trabalho formidável. O senhor não pode deixar de apoiá-los.

Juscelino recordou que, juntamente com o ministro da Fazenda, Lucas Lopes, já tinha se posicionado publicamente sobre o assunto no manifesto "Cinqüenta anos em cinco" e declarou seu apoio à indicação de Alcides. Aproveitando a ocasião, um dos membros da comissão mineira comunicou o acordo firmado com os paulistas para a construção, também em Minas, de uma usina como a Cosipa, contando com o mesmo apoio da CSN.

O presidente reafirmou apenas a sua aprovação à Cosipa:

- Foi realizado um estudo muito bem feito, que eu e o Lucas Lopes admiramos. Eles já têm firma organizada, já conseguiram um grande número de acionistas, mas quanto a vocês, mineiros, como é que eu vou autorizar subscrever capital para algo que nem existe e nem se sabe como vai se chamar!

Saulo interviu: - Minas tem mil e um lugares para instalar uma usina.

Os paulistas reforçaram a posição dos mineiros, com Plínio sugerindo o nome Usiminas para a nova usina, e Saulo se responsabilizando em auxiliar na organização da firma mineira:

- Amanhã nós vamos com os paulistas a Belo Horizonte e o Lídio Lunardi, que é presidente da Associação Comercial, providencia os estatutos, registra na Junta e, dentro de uma semana, a Usiminas pode começar.

17 de abril - Plínio e eu fomos para Belo Horizonte. Para nossa surpresa, encontramos a missão japonesa no avião. Conversei com Massao Iukawa, chefe da comitiva japonesa e meu ex-colega de Universidade, e me ofereci para apresentá-los ao Bias Fortes. Mas, como havia muita gente no aeroporto, perdemos de vista os japoneses e fomos direto ao Palácio do Governo.

O governador mostrou-se muito satisfeito com os entendimentos e, novamente, fomos surpreendidos pelos japoneses. Apresentei-os ao governador, que lhes ofereceu todas as facilidades, inclusive um trem especial, para que percorressem a Vitória-Minas, fotografando cada metro do terreno.

Na volta ao Japão, convidaram Amaro Lanari - asssessor do BNDE -, Janot Pacheco e Demerval José Pimenta Pinto para acompanhá-los, firmando o acordo que deu origem à Usina Siderúrgica de Minas (Usiminas).

25 de abril - Visita a Piaçagüera com o deputado Yuquishic Tamura. Conferência com pessoal da Koppers.

30 de abril - A Assembléia Geral Ordinária da CSN aprova a participação da Companhia na Cosipa.

2 de maio - Mr. Butler e Jorge Felipe Kafouri.

7 de maio - Carvalho Pinto.

8 de maio - Carvalho Pinto, Octavio Marcondes, Alcides, Plíno e eu.

5 de junho - Carvalho Pinto.

9 de julho - Jorge Felipe Kafouri.

18 de julho - Carvalho Pinto.

20 de julho - Mr. Butler.

21 de julho - Volta Redonda.

30 de julho - Macedo.

10 de agosto - Subscrição de capital.

DA SUBSCRIÇÃO DO CAPITAL

Em solenidade no Salão Vermelho do Palácio dos Campos Elíseos, sob a presidência do governador Jânio Quadros e com a presença de secretários de Estado, presidentes do Banco do Brasil, da Companhia Siderúrgica Nacional, do Banco do Estado e da Caixa Econômica Estadual, dos mais importantes estabelecimentos bancários do Estado e outras entidades representativas das classes produtoras (Fiesp, Faresp, Associação comercial, Ciesp, Sociedade Rural Brasileira), realizou-se a subscrição, pelo governo do Estado de São Paulo e pelo governo federal, através da CSN, das primeiras cotas de capital da Companhia Siderúrgica Paulista.

O aumento de capital, para Cr$ 1 bilhão, foi subscrito pelo Estado com um montante de Cr$ 119,7 milhões, seguindo-se a subscrição do governo federal, no valor de Cr$ 120 milhões, pelo general Edmundo de Macedo Soares e Silva, em nome da Siderúrgica de Volta Redonda. A parcela complementar para a integralização total do capital, de cerca de Cr$ 760 mil, ficou com alguns bancos sob a forma de underwriting a ser subscrita por particulares.

A importância do emprendimento para a economia de São Paulo foi destacada pelo secretário da Fazenda, Carlos Alberto Macedo de Carvalho Pinto; pelo general Edmundo de Macedo Soares, presidente da CSN; por Alcides Vidigal, presidente da Cosipa; pelo engenheiro Plínio de Queiroz; por Octavio Marcondes Ferraz, ex-ministro da Viação; e pelo governador do Estado, Jânio Quadros.

O acontecimento repercutiu no Estado e no País, por ser a primeira vez que os governos estadual e federal participavam minoritariamente do capital de uma empresa privada.

13 de agosto - Primeira Reunião de Diretoria da Cosipa.

18 de novembro - Assinatura do contrato de engineering com a Kaiser Engineers International Inc.

1957

6 de fevereiro - Conferência Chabasinski e Jânio.

31 de março - Lemoine, Plínio, João Gustavo Haenel (diretor executivo da Cosipa) e eu vamos a Volta Redonda.

10 de abril - Ecotec Economia e Engenharia S.A. - conferência com o economista Jorge Felipe Kafouri para estudar proposta.

20 de maio - Projeto de Lei 377/57 autoriza aumento da participação do governo na Cosipa.

22 de junho - Visita de Mr. Knox, da Westinghouse.

26 de junho - Haenel partiu para a Europa com Octavio Marcondes Ferraz para tentar obter financiamento.

14 de outubro - Palácio do Governo.

16 de outubro - Vou a Monlevade, para conhecer LD.

26 de dezembro - Lei 3.363 autoriza Refesa a subscrever Cr$ 160 milhões na Cosipa.

1958

26 de janeiro - Eu e Haenel viajamos para Pittsburg.

29 de janeiro - Haenel e eu iniciamos trabalhos na Koppers-Pittsburg.

3 de março - Terminado trabalho com Koppers.

6 de março - Voltamos para São Paulo.

9 de março - Reunião de Diretoria da Cosipa em São Paulo.

14 de abril - Assembléia Cosipa.

29 de abril - Assembléia Cosipa.

14 de agosto - Assinado o primeiro cheque de Cr$ 70 milhões para a compra dos equipamentos.

31 de março - Reunião com Wilcox e outros da Westinghouse.

12 de setembro - Audiência com o governador Carvalho Pinto.

14 de setembro - Decreto 47.018, de 14/1/59 (N.E.: SIC), abre crédito no Ministério da Fazenda.

20 de setembro - Visita de Mr. Butler e ida a Volta Redonda no dia 21.

30 de setembro - Conferência com general Macedo Soares.

19 de dezembro - Falece Alcides Vidigal.

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