Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cubatao/ch021.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/16/07 23:53:42
Clique aqui para voltar à página inicial de Cubatão
HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Trem não é cabrito

Um acidente ainda na fase de obras - e não na inauguração, como citam vários autores (o acidente foi em 6/9/1865 e esta ocorreria em 15/2/1867) - da ferrovia entre São Paulo e Santos agitou Cubatão, no século XIX, como cita o livro Antologia do Folclore Cubatense, de Luzia Maltez da Guarda (edição da autora, 8/1985, Cubatão/SP):


O trem
Imagem de Maria Rosa Rodrigues, publicada no livro

Fim das tropas: o folclore nos trilhos da Railway

Como conseqüência do desenvolvimento econômico e comercial da Capitania de São Paulo no século XIX, estava a decadência de tropas e tropeiros. Surge o transporte ferroviário entre o Litoral e o Planalto.

É inaugurada a Estrada de Ferro São Paulo Railway, em 6 de setembro de 1865, ocasião em que ocorre a primeira manifestação regional de folclore na poesia e ditos populares.

Muitos versos foram feitos sobre a grande novidade que representou a inauguração da estrada de ferro entre Santos e São Paulo.

Segismundo José das Flores (pseudônimo caipira de Pedro Taques de Almeida) foi quem escreveu um texto em três estrofes contando qual trágica foi a inauguração da estrada de ferro. Alguma coisa saiu errada, pois perto de São Paulo o trem inaugural descarrilou, matando o maquinista e ferindo várias pessoas.

Foram esses os versinhos que falam do desastre da inauguração da São Paulo Railway (hoje RFFSA) que terminou com a morte do maquinista e o descarrilamento do trem:

O passeio é de patente!...
Não se cai da ponte - não:
O carrinho vai direto
E somente perde o jeito
Na serra de Cubatão

O bichinho vai correndo
Que parece um buscapé
Vai a Santos num momento
Fumegando seu charuto
Com ares de chaminé

Quem tem medo de morrer
Numa estrada tão segura?
O passeio é deleitável
Há na serra água potável
Pra benzer a sepultura.

As festas de inauguração da chegada do primeiro trem foram adiadas. A população expressava-se através dos ditos, florescia a criatividade de uma maneira sádica, que amenizava o acontecimento no inconsciente coletivo da época.

Não faltou quem gozasse a trágica situação da estrada de ferro; diziam que "trem não é cabrito para subir serra"...

Esta é uma das poucas passagens registradas no século XIX que nos deixam algum aspecto folclórico no campo literário, que veremos ramificar-se mais tarde, em meados do século XX, através do Cordel nordestino.

Em sua obra Antologia Cubatense (publicada em 1975 pela Prefeitura Municipal de Cubatão), Wilma Therezinha Fernandes de Andrade comenta, na página 197:

Muitos versos foram feitos sobre a grande novidade que representou a inauguração da Estrada de Ferro entre Santos e São Paulo (S. Paulo Railway), em 6 de setembro de 1865. Mas alguma coisa saiu errada, pois perto de S. Paulo, o trem inaugural descarrilou, matando o maquinista e ferindo várias pessoas. As festas com que se esperavam o primeiro trem foram adiadas e não faltou quem gozasse a estrada de ferro, ficando ao lado dos que diziam que "trem não era cabrito para subir a serra". Estes versos foram atribuídos a Pedro Taques de Almeida Alvim, político e jornalista que, entre 1849 e 1865 escrevia no Diário de São Paulo sob o pseudônimo caipira de Segismundo José das Flores.

O texto completo pode ser lido em Pedro Calmon, a História do Brasil na Poesia do Povo (pág. 251 a 253), Rio de Janeiro, Bloch Editores S.A., 1973; ou ainda em Affonso A. de Freitas, Tradições e Reminiscências Paulistanas, S. Paulo, Livraria Martins Fontes Ed., págs. 76 a 78.

QR Code - Clique na imagem para ampliá-la.

QR Code. Use.

Saiba mais