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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - Poluição
O vale da morte (6)

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O dia 24 de maio de 1992 entrou para a história do município. Nessa data, Cubatão festejou o fim de um bairro e o início de um novo ciclo, como relatou nesse domingo o jornal santista A Tribuna (página A-12):

A Vila Parisi é riscada do mapa de Cubatão

Manuel Alves Fernandes
Da Sucursal de Cubatão

A Vila Parisi será riscada do mapa de Cubatão, hoje. Mas, o verdadeiro fim desse bairro, mundialmente conhecido como Vale da Morte, ocorreu por volta das 13 horas do dia 13 de maio, quando a família de José Batista de Santana se mudou para o Conjunto Habitacional Humaitá, em São Vicente.

Antes de partir, deu uma festa e ofereceu um churrasco que, segundo as informações, seria de carne de gato.

Na verdade, os gatos se recusam a abandonar o antigo pouso, do qual Batista foi o último dos 20 mil moradores. Ainda perambulam pelas ruas aterradas com escória. Batista acha que eles estão acostumados com os tempos antigos quando, de madrugada, caía a famosa chuva que morde (orvalho misturado com ácidos dos produtos de fertilizantes) e um forte cheiro de amônia tomava conta de todo o vale do Rio Moji. Toneladas de produtos químicos desciam sobre os barracos, pintando os telhados de branco.

Cubatão ocupava as manchetes dos principais órgãos de comunicação do planeta por causa do Vale da Morte - ou seja, a Vila Parisi.

Festa - A história desses tempos ficou para trás. O bairro muda de nome hoje, a partir das 15 horas, depois que o prefeito Nei Serra assinar um decreto que incorpora essas glebas à área industrial. A vila passará a chamar-se então Centro Empresarial Vale da Vida. Na área com 400 mil m², um consórcio escolhido em licitação pública construirá três terminais rodoferroviários de carga.

"Vencemos um desafio que parecia intransponível", anuncia o prefeito Nei Serra.

Para tão grande comemoração, de acordo com ele, havia a necessidade de realizar um grandioso ato público. Serra está convidando toda a população da Baixada a participar da festa, a partir das 15 horas, no próprio local onde no passado havia barracos fincados no mangue, cortiços com camas quentes (mal saía um operário, entrava outro para dormir nos alojamentos) e muita poluição.

Roberto Carlos - As atrações incluem a esquadrilha da fumaça da FAB, revoadas de pombos, missa campal e a apresentação da Orquestra Sinfônica Estadual, sob a regência do maestro Júlio Medaglia.

Serra se contenta com a presença de pelo menos 100 mil pessoas, e oferece como atrativo o show inteiramente gratuito do cantor Roberto Carlos, Coral e Orquestra.

Há amplo local para estacionamento e estão sendo organizados pela Associação Ecológica de Cubatão passeios ciclísticos, com prêmios para os participantes. Os ônibus circulam de graça, hoje, no Município, e o acesso ao antigo bairro será facilitado, porque todas as linhas urbanas passarão por lá.

Serra: "Cubatão venceu um desafio que parecia intransponível"
Foto de João Vieira publicada com a matéria

A amônia acordou o Governo

A reação começou em 1984, durante o Governo Franco Montoro. Antes disso, porém, o ex-governador Paulo Egídio Martins se assustou ao passar de avião sobre Cubatão e notar que a Baixada Santista tinha nuvens diferentes, vermelhas, cor de aciaria da Cosipa. "Vamos acabar com isso", ordenou. Era um tempo em que ex-presidentes da Cosipa se incomodavam com a vizinhança da vila e não aceitavam as histórias de que ela nasceu por causa da siderúrgica. Era esse o sonho dos irmãos Parisi.

Paulo Maluf, também governador, decidiu acabar com a vila, por decreto, em 1983. Ameaçou também fechar as fábricas que não parassem de poluir, e ofereceu juros subsidiados àquelas que quisessem colocar equipamentos antipoluentes.

"Este é o início da felicidade do povo cubatense e só há motivo para júbilo", festejou o então secretário da Indústria e Comércio, Osvaldo Palma, com base em um estudo feito pelo grupo de empresários do chamado Vale da Vida.

Esboçavam-se as primeiras tentativas de remover os moradores da Vila Parisi para o quadrilátero formado pelas rodovias Anchieta-Imigrantes-Padre Manuel da Nóbrega e interligação. Essa área tinha sido aterrada pelo ex-prefeito Carlos Frederico Soares Campos, exatamente para prever a relocação de moradores de áreas de risco.

Também essa tentativa abortou. Não foi dada a devida cobertura financeira esperada por autoridades e representantes das indústrias.

Na vila, os então 15 mil moradores (o País já passava por uma recessão que atingia a Cosipa) continuavam respirando pó. Em Cubatão, saía uma tonelada diária de um coquetel de poluentes diversos.

Amônia - Aos anencefálicos, juntava-se uma nova categoria de doentes; os mais de 3 mil trabalhadores de Cubatão que estavam leucopênicos, por causa de vazamentos da coqueria da Cosipa. A médica Lia Geraldo acusava duas mortes em leucopênicos (alterações no sangue que reduzem a resistência orgânica), por câncer no pulmão e anemia aplástica.

Ainda hoje há trabalhadores leucopênicos que não conseguem acabar com a redução dos glóbulos brancos no sangue.

Em fevereiro de 1985, depois de um longo período de chuvas fortes, o rompimento de um amonioduto da Ultrafértil, no chamado Setor Oito (área instável próxima à Estrada Cubatão-Guarujá), a menos de dois quilômetros da Vila Parisi, obrigou as autoridades a removerem todos os moradores, por cautela.

Poucos dias depois, o então prefeito nomeado José Osvaldo Passarelli decretava o fim oficial da Vila Parisi e propunha a remoção dos moradores, progressivamente, para o Bolsão Oito, na interligação Anchieta-Imigrantes, Perdeu o cargo, sendo nomeado para seu lugar Nei Eduardo Serra.

Ajuda - A amônia serviu para despertar o governo da letargia. Franco Montoro mandou o presidente da Cetesb, Werner Zulauf, comandar a recuperação ecológica de Cubatão. Com o apoio da comunidade, dinheiro financiado do Banco Mundial e conscientização de indústrias (a recuperação foi liderada pro Arthur Whitaker de Carvalho, da Carbocloro; Luiz Veiga Mesquita, da IAP; Décio Novaes, da Union Carbide, e Ribemont Lopes de Farias, da Copebrás), Nei Serra e, posteriormente, José Osvaldo Passarelli, conseguiram mudar para o Jardim Nova República os antigos moradores da Vila Parisi.

A Cetesb identificou 320 fontes de poluição das indústrias e programou, progressivamente, a instalação de filtros e aparelhos redutores. Foram gastos US$ 450 milhões até agora para controlar 91% dessas fontes. Com a chegada do gás do Poço de Merluza à Refinaria Presidente Bernardes, a Comgás passa a distribuir esse gás às indústrias já a partir de 15 de junho. "Controlaremos 99,1% das fontes de poluição", assinala Nei Serra. O programa iniciado por Montoro teve continuidade no Governo Quércia e atingiu a estabilidade no Governo Fleury, conforme atesta Nei Serra.

De Vale da Morte, a Vila Parisi se transformou no Vale da Vida, deixando para trás a imagem de miséria e abandono que foi, até agora, a sua principal característica
Foto de João Vieira publicada com a matéria

Povo vivia na miséria, respirando pó

A Vila Parisi nasceu em 18 de janeiro de 1957, conforme o processo nº 1.663 da Prefeitura de Cubatão. Antes do loteamento, era um imenso bananal pertencente a Silvestre Mendes. Comprado pelos irmãos Helládio e Celso Parisi, o antigo sítio foi loteado para permitir a construção de uma "pequena cidade para os futuros trabalhadores da Cosipa", conforme as histórias que se contam da época.

Os irmãos Parisi sonhavam em implantar uma nova Volta Redonda em Cubatão. Registraram um compromisso de abrir 823 lotes, aterrar o mangue, construir ruas e avenidas e ainda instalar água e luz.

Só abriram as ruas, sem pavimentação, e enganaram os compradores. O loteamento nunca teve infra-estrutura básica. As pessoas lavavam as roupas nos córregos e compravam água de caminhões-pipa. Em pouco tempo surgiram os focos de esquistossomose e as enchentes tornaram os verões um inferno para os moradores, na sua maioria originários de estados do Nordeste.

Poluição - Em lugar de trazer a sonhada riqueza, a Cosipa e, posteriormente, as fábricas de fertilizantes e cimento que se instalaram em torno da vila, incorporaram à paisagem dos nordestinos um novo flagelo: a poluição.

Quando, em 1982, o Governo Federal decidiu intervir indiretamente em Cubatão (na realidade, o Município era, desde 1967, área de segurança nacional), na busca de saídas para os problemas ecológicos, a situação se mostrava alarmante.

Um estudo sigiloso da Cetesb (provocado por cientistas da Organização Mundial da Saúde e protestos da ONU, dez anos depois da Conferência de Estocolmo) provava que cada morador da Vila Parisi estava sendo castigado diariamente por 12,5 quilos de uma mistura de quase 100 compostos químicos.

O alerta: conforme as condições meteorológicas, com a ocorrência de inversões térmicas no inverno (vários estados de alerta e emergência chegaram a acontecer na prática, não sendo acusados pela Cetesb), essa concentração podia matar.

Sapos - O professor Paulo César Naoum apanhava sapos nos brejos da Vila Parisi, com o auxílio do vereador Romeu Magalhães, para demonstrar cientificamente que a pele desses batráquios estava contaminada pelos poluentes. Provava, assim, que os pulmões de velhos e crianças suportavam uma carga letal, que os matava aos poucos. O então vereador Florivaldo Cajé alardeava que, conforme pesquisa da USP, os pulmões dos moradores da vila eram maiores que os comuns dos mortais, para que pudessem respirar melhor em meio a esse coquetel de poluentes.

Respirava-se poeira em suspensão, cimento, pó de escória e fertilizantes, rocha fosfática nacional com alto teor de flúor que matou os vegetais da serra e, também, pireno e antraceno, substâncias de efeito desconhecido das quais se suspeitava proceder o câncer que matava os velhos.

"É possível encontrar em Cubatão, principalmente na Vila Parisi, todos os tipos de anormalidade. A destruição é iminente", assinalava o professor Naoum. Alarmado, o então presidente Figueiredo ordenou: "Limpem esse lugar".

Criou-se, então, a primeira comissão do Ministério do Interior comandada por um coronel que se notabilizou em brigar com os índios, quando presidente da Funai: João Carlos Nobre da Veiga.

Natimortos - Nessa mesma época, os vereadores Romeu Magalhães, Dojival Vieira dos Santos, Armando Campinas Reis, Florivaldo de Oliveira Cajé e Mychajlo Halajko Júnior denunciavam: o número de natimortos crescia em Cubatão, as crianças nasciam anencefálicas (sem o cérebro).

Em setembro de 1982, um estudo da Cetesb revelou que a concentração de material particulado no ar da Vila Parisi tinha chegado a 1.784 microgramas por m³ no dia 19 de abril. Segundo a OMS, bastam 875 microgramas para matar crianças e velhos, dependendo do tempo de intoxicação.

Paralelamente, o vereador Manoel Ubirajara Pinheiro Machado, curiosamente sobrinho do ex-vereador Francisco Eleutério Pinheiro, que foi um dos pioneiros na instalação do bairro, protestava: além da poluição, o povo vivia na absoluta miséria, sem escola, policiamento, socorro médico e, principalmente, saneamento básico.

Nada - A comissão do coronel João Carlos Nobre da Veiga (já na reserva) abortou, 18 meses depois de criada, um desalentado relatório final para informar ao preocupado João Batista Figueiredo que não havia dados disponíveis. "Ninguém sabe ao certo o que acontece em Cubatão".

Veiga reclamava uma ajuda financeira de Cr$ 3 trilhões para executar novos estudos e obras de saneamento na região. O então prefeito José Oswaldo Passarelli concluiu que a comissão era uma farsa. E denunciou: "Na verdade, não temos nada para mostrar à população. Respostas positivas e medidas práticas não foram apontadas pela comissão".

Em 1982, já corria mundo a expressão cunhada pelo jornalista Randau Marques sobre a triste sina da Vila Parisi: "É o Vale da Morte".

Nas chuvas de verão de 1982, toneladas de troncos de árvores desceram pelos rios Cubatão, Piaçagüera, Perequê e Moji. A natureza morria, as encostas da Serra do Mar caíam e ameaçavam atingir tanques e dutos.

Parecia que haviam lançado desfolhantes químicos sobre os zanzalás (flores de Deus) que Afonso Schmidt (maior escritor de Cubatão) sempre descrevia nas suas obras.

De Vale da Morte, a Vila Parisi se transformou no Vale da Vida, deixando para trás a imagem de miséria e abandono que foi, até agora, a sua principal característica
Foto de João Vieira publicada com a matéria

Só os gatos permaneceram no bairro

Na Vila Parisi só ficaram os gatos. Segundo a sabedoria popular, gato não segue o dono, prefere ser fiel à casa.

Nei Serra acha engraçado só encontrar gatos. Mas, fica maravilhado com o deserto que restou da vila, sem casebres. Sonha com uma área verde, com 10 mil pessoas trabalhando nos terminais de carga, e informa que, com a venda dos lotes, serão construídas pelo menos 2.500 casas nos bolsões Sete e Nove, para abrigar moradores de favelas e áreas de risco, e também 200 pessoas que, tiradas da Vila Parisi, estão provisoriamente abrigadas em um acampamento na beira da Estrada Cubatão-Guarujá.

"Isto aqui não é mais o Vale da Morte, agora vai gerar vida melhor para muita gente, acabou o inferno da Vila Parisi", explica.

Repentista - Dar o golpe final, segundo ele, não foi fácil. Depois da remoção oficial e do cadastramento, mesmo com a construção do Jardim Nova República, ocorreram muitas invasões. A remoção desses invasores foi cuidadosamente negociada pelo ex-presidente da Cursan, José Lopes dos Santos Filho, e pelo atual, Rafael Moura Campos. A assessoria jurídica da Prefeitura também acelerou o procedimento judicial para indenizar os proprietários dos lotes e negociar com as famílias.

Conviver com os gatos foi o que restou aos três últimos solteiros da Vila Parisi - Deílson, José e Isaac -, que saíram do bairro, para o alojamento, às 12 horas do dia 13 de maio. Mal ingressaram com os pertences no caminhão da Prefeitura, os tratores da Cursan derrubaram o barraco onde moravam. Perto dali, na Rua Sete, nº 442, José Batista de Santana cantava a sua versão da Despedida da Vila Parisi, sem esconder que dava um churrasco de gato.

Não volta - "Adeus à Vila Parisi e ao povo que fica aqui/Trinta anos que eu morei, só fez me divertir. Uma horta que eu plantei, pouca coisa eu colhi./Os ladrões comeram tudo, pouca coisa eu comi. Deixamos a coisa de lado, nessa mesma ocasião. Despedindo do povo todo, pegando de mão em mão. Peguei a minha bagagem e pus no carro do patrão./Viva o prefeito Nei Serra, que nos tirou da poluição".

José Batista de Santana mudou-se para o Conjunto Habitacional Humaitá, em São Vicente. Fez questão de deixar os versos com os funcionários da Cursan: "Salve João Carlos, os funcionários da Cursan/Eles, junto com Adelina, nos tiraram da poluição. Nós estamos fora daqui, estamos com a saúde nas mãos. Só se vê terraplenagem, nesse belíssimo torrão. Quem tá fora só vê, tá parecendo sertão. Adeus à Vila Parisi, nós não volta aqui mais não".

O secretário municipal de Meio-Ambiente, Raul Christiano Sanchez, pretende sugerir ao prefeito Nei Serra que esses versos sejam gravados em uma placa a ser colocada no antigo Vale da Morte.

Pouco antes, em 26 de abril de 1992 o mesmo jornal A Tribuna publicava, na página A-10:

A Vila Parisi, que está situada entre os vales dos rios Moji e Piaçagüera, passará a fazer parte do parque industrial, abrigando um conjunto de terminais de cargas
Foto publicada com a matéria

Vale da Morte está com os dias contados

A Vila Parisi, bairro de Cubatão internacionalmente conhecido como Vale da Morte, está com os dias contados. O fim dessa herança que ainda persiste do passado poluído de Cubatão acontecerá em clima de festa, dia 24 de maio, na área com 460 metros quadrados incorporada a partir dessa data ao pólo industrial.

O cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns; o bispo diocesano, dom David Picão, e o pároco da matriz de Cubatão, padre Nivaldo Vicente dos Santos, rezarão missa solene na área que, até 1988, recebia 320 toneladas diárias de material particulado de indústrias de fertilizantes e cimento e da principal siderúrgica do Estado - a Cosipa.

Moradores de Cubatão e convidados participarão de uma passeata que sairá do Centro em direção ao antigo bairro onde chegaram a residir, no final da década de 70, cerca de 15 mil pessoas.

Sinfônica - Nesse dia, a partir das 17 horas - horário em que a neblina costumava cobrir o mangue que constitui a maior parte da área, confundindo-se com a poeira que pintava os telhados de branco e fazia sufocar crianças e velhos - exibe-se pela primeira vez, na Baixada Santista, a Orquestra Sinfônica Brasileira.

Certo de que a poluição acabou, porque 90% das 320 fontes de resíduos industriais estão sob rigoroso controle, o prefeito Nei Serra pretende anunciar que a vila mudou definitivamente de nome.

"Esta área está cercada por fábricas de fertilizantes que ajudam a produzir alimentos. Vencemos um desafio que parecia impossível, encontramos uma solução que espanta os críticos mais céticos. Acabamos com um estigma de 20 anos. O Vale da Morte agora é o Vale da Vida".

Para cumprir rigorosamente o prazo de um mês que começou a ser contado regressivamente na sexta-feira, operários da Cursan e da Prefeitura - auxiliados por trabalhadores que utilizam maquinários cedidos por várias indústrias e empreiteiras - vão trabalhar noite e dia.

Tentativas começaram em 1985

Pesquisa A Tribuna

Conhecida internacionalmente como o Vale da Morte, a Vila Parisi, em Cubatão, vinha resistindo à extinção, num processo que começou em 1985. Nessa época, moravam na área encravada no pólo industrial cubatense cerca de 6 mil pessoas, chegando a causar espanto aos técnicos da Organização Mundial de Saúde.

No período de 86 e 87, mais de mil famílias foram transferidas para o Jardim Nova República, conjunto habitacional construído pela Prefeitura de Cubatão defronte à interligação Anchieta-Imigrantes. Fato que já servia para antecipar o fim da Vila Parisi.

A miséria e a falta de perspectivas eram parte do cotidiano dessa vila. Seus moradores, que ainda permaneciam no local, temiam novas invasões, além da constante preocupação com a sorte das quase 300 famílias restantes, principalmente quanto aos idosos e crianças, sujeitos à poluição do ar e às más condições de vida.

Com a extinção, o bairro de Vila Parisi será incorporado à área industrial, para a construção de um terminal rodo-ferroviário privado de cargas. Mas, a Prefeitura, nos últimos meses, visando desestimular possíveis invasões, praticamente deixou de realizar a maioria dos serviços essenciais, como recolhimento de lixo, corte da iluminação pública. Não há escolas, nem pronto-socorro e o comércio atua de forma irregular.

No final de 91, permaneciam na Vila Parisi 180 famílias e 55 pessoas solteiras. Pessoas que tiveram, no último inverno, seu modo de vida bastante abalado, passando pelo rigor de um estado de emergência e dois estados de alerta, ocasião em que a poluição do ar contribui para a morte de crianças e idosos, por causa de doenças pulmonares.


Publicidade inserida na edição de 23 de maio de 1992 do jornal santista A Tribuna


Publicidade inserida na edição de 24 de maio de 1992 do jornal santista A Tribuna, página A-3

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