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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Curtume iniciou o polo industrial (2)

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A instalação da Curtidora Marx, em 1912, é considerada o marco inicial da industrialização de Cubatão. O curioso é que uma importante atividade capitalista foi iniciada em Cubatão pelo parente de um formulador das teorias que embasaram o comunismo internacional. Essa história é contada no jornal santista A Tribuna, em 6 de abril de 2012, páginas E-1 e E-3:

Também utilizando o tanino da vegetação dos mangues da região, a segunda fábrica fundada em Cubatão ocupou o terreno da área onde hoje está instalado o Parque Anilinas
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria

 

Há 100 anos surgia o embrião do polo

Primeira indústria de Cubatão, a Cia. Curtidora Max foi instalada em 1912 por um parente do fundador do comunismo, Karl Marx

Manuel Alves Fernandes
Da Redação

A indústria brasileira comemora cem anos de instalação em Cubatão. Modelo de sucesso da iniciativa privada, a industrialização começou, por ironia da história, pela iniciativa de um parente de Karl Marx, criador da doutrina comunista.

A Cia. Curtidora Marx, a primeira fábrica, foi fundada em 1912 por Wilhelm Marx, judeu alemão nascido em Stuttgart e criado em Trier, onde também nasceu Karl Marx, primo do avô de Wilhelm.

A industrialização de Cubatão, que durante décadas foi considerado o maior polo petroquímico da América Latina, começou por essa curtidora de couros, utilizando tanino retirado dos manguezais.

A história é contada pelo professor Joaquim Miguel Couto (veja Nossa Gente, na página 3). De acordo com ele, o tanino das folhas dos manguezais foi o responsável pela instalação da Curtidora Marx em Cubatão.

A fábrica ocupava 15 mil m² no bairro da Olaria, hoje entre a Via Anchieta e a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, próximo ao Morro do Marzagão e da atual Vila Natal.

A empresa funcionou por dois anos, período em que Wilhelm construiu a primeira vila operária de Cubatão. Porém, não foi ele, mas seu filho Roberto quem deixou a marca que ainda permanece em Cubatão.

Em 1990, quando já era famoso por ter feito o paisagismo do eixo monumental de Brasília, Roberto Burle Marx projetou e construiu a área ajardinada da entrada de Cubatão pela Avenida Jornalista Giusfredo Santini.

É o único jardim feito por Burle Marx na região.

Dessa fábrica não resta mais nenhum vestígio. Mas, ainda há na Cidade lembranças dos primórdios da implantação da indústria, como as casas de moradia de antigos trabalhadores da segunda indústria, a Companhia Anilinas, na área onde a Prefeitura implantou o Parque Anilinas.

A empresa, também atraída pelo tanino, entrou em operação em 1916, produzindo adubos e corantes. Faliu na década de 1960.

Desenvolvimento

O Polo de Cubatão tem hoje uma refinaria, uma siderúrgica e empresas de fertilizantes e químicas

 

Santista de Papel – Se os cem anos são uma marca a comemorar, a data registra coincidentemente um fracasso: o fechamento da terceira indústria mais antiga de Cubatão, a Companhia Santista de Papel, na Água Fria. Situada na raiz da Serra, início da subida da Via Anchieta, entrou em operação em 1922. Hoje, Cubatão tem uma refinaria, uma siderúrgica, empresas de fertilizantes e químicas.

Foto publicada com a matéria

"Os mais velhos nunca esqueceram o grande acontecimento ocorrido em Cubatão em 1912: a inauguração do maior curtume do Brasil"

Joaquim Miguel Couto, autor de Industrialização, Meio Ambiente e Pobreza

O centenário da primeira grande indústria de Cubatão

Os mais velhos, que já não estão entre nós, nunca esqueceram o grande acontecimento ocorrido em Cubatão, no ano de 1912: a inauguração da Cia. Curtidora Marx. Na época, o maior curtume do Brasil.

Até então, o pequeno povoado de Cubatão, pertencente à cidade de Santos, vivia predominantemente da cultura da banana. Já existiam pequenos curtumes, de fundo de quintal, sem nomes e com poucos empregados, situados na beira dos manguezais. Também já existiam as estações de trem de Cubatão e Piaçaguera.

No entanto, cerca de 95% da renda do povoado provinha da cultura da musa paradisíaca. Os grandes bananais se estendiam pelas duas margens do Rio Cubatão. Do lado esquerdo, estavam os bananais da família Brunckenn. Do lado direito do rio (atual centro), se destacava o grande bananal da família Couto.

Porém, o assunto daqueles meses de 1912 não era banana, mas sim o grande curtume, afastado do centro do povoado, no bairro que ficaria conhecido como Olaria (na margem da atual Via Anchieta).

Os mais velhos que se reuniam no final das tardes, na cabeceira da ponte do rio, só falavam disso. Uns diziam que não iria para frente, outros acreditavam que mudaria toda a região. Os gozadores, por sua vez, diziam que iria ser que nem o cometa Halley de 1910: "Vai acabar com o mundo". Esses cubatenses!

Nesta época, não moravam em Cubatão mais que mil pessoas espalhadas ao longo do aterrado (que ligava o povoado até Santos) e nos bananais de Piaçaguera até o Rio Pilões.

O que motivou a construção da fábrica da Cia. Curtidora Marx, em Cubatão, foi a flora da região, fonte de sua principal matéria-prima, o tanino, retirado das folhas e cascas de uma árvore chamada Avicennia, predominante nos manguezais do povoado.

Em razão de suas propriedades bactericidas, o tanino foi, durante bom tempo, um produto muito utilizado na preservação do couro.

Pertencente ao alemão Wilhelm Marx (pai do paisagista Burle Marx), a empresa funcionou vigorosa por dois anos, construindo a primeira vila operária de Cubatão. Desenvolvia a preparação de couros e peles para as mais diversas utilizações numa área fabril de cerca de 15 mil m².

No entanto, em 1914, com o início da Primeira Guerra, a empresa foi quase que obrigada a encerrar suas atividades, pois seu dono era um alemão.

Ainda em 1914, o curtume foi vendido para Fernandes Ribeiro, que, em dificuldades financeiras, repassou a empresa ao seu maior credor, a London & River Plate Bank Limited. Em 1918, o banco estrangeiro vendeu a empresa para Domingos da Costa Moniz, o maior importador de couros do Brasil, com escritórios comerciais em São Paulo.

 

15 mil metros quadrados era a área da Cia. Curtidora no bairro de Olaria, próximo à atual Vila Natal

 

Costa Muniz – A indústria voltou a operar em 1919, com o nome de Curtume Domingos da Costa Moniz. Nesse mesmo ano, a City de Santos passou a fornecer energia elétrica à empresa, pois até então a iluminação da indústria era feita por lampiões. As máquinas eram movidas a vapor, graças a uma caldeira Wolf alemã locomóvel, de 12 metros de comprimento. A caldeira também era aproveitada para o cozimento do tanino.

Em 1928, a Costa Moniz era a sétima empresa do Estado em capital e a quinta em número de operários.

Em 1929, as coisas se modificaram substancialmente. A extração de folhas e cascas das árvores do mangue foi tanta que essa matéria-prima começou a se tornar rara.

O curtume foi assim obrigado a modificar, aos poucos, a sua linha de produção. A tecelagem de correias da empresa foi transferida de São Paulo para Cubatão, passando a indústria cubatense a produzir cadarço e pontas de arreio, enquanto reduzia sua produção de couros.,

Em 1942, durante a Segunda Guerra, a empresa paralisou a produção de couro e, através da aquisição de nova maquinaria, passou a produzir mangueiras de incêndio, material em falta no mercado interno (devido às dificuldades de importação), que se tornou, então, o seu principal produto. Em 1945, a empresa adquiriu seu nome definitivo, Costa Moniz Indústria e Comércio S/A.

Nos anos 1960, a Costa Moniz fabricava mangueiras de incêndio de fios tecidos, correias e cordas de couro curtido. Em 1963, tinha 83 trabalhadores que, em sua maioria, continuavam morando na vila operária.

Sua produção foi sempre vendida em São Paulo, na loja da matriz da empresa. Em 1979, a indústria funcionava com 16 máquinas, numa área construída de 16.260 m², produzindo também cordões de sapato e sandálias de algodão e fio sintético.,

Em 1981, mergulhada em problemas financeiros, a Costa Moniz teve sua falência decretada. No final dos anos 1980, suas ruídas ainda podiam ser vistas à margem da Via Anchieta. Atualmente, nada mais existe que lembre a mais antiga fábrica de Cubatão. Na vida, felizmente ou infelizmente, tudo passa, inclusive as grandes empresas industriais.

 

Oferta de insumo, o tanino retirado dos manguezais, viabilizou a chegada da indústria curtidora

 
Depoimento – Joaquim Miguel Couto

Economista se formou em Campinas e agora leciona em Maringá
Foto: divulgação, publicada com a matéria

"Joaquim, o filho dos filhos de Cubatão"

Manuel Alves Fernandes
Da Redação

O professor Miguel costuma causar impacto quando se apresenta a novos moradores de Cubatão. Chama-se Joaquim Miguel Couto. Tem o mesmo nome dado à segunda avenida mais importante da cidade. Mas esclarece as dúvidas: é homônimo de um dos mais importantes membros das famílias fundadoras da Cidade.

Joaquim, seu antepassado, foi "irmão de leite" do imperador Pedro II, ambos amamentados por sua mãe, Maria do Couto.

Descendente de índios, ela deixou o então príncipe Pedro encantado, quando o futuro imperador passou por Cubatão na manhã de 7 de setembro de 1822. Pedro I voltaria a Cubatão, poucos anos depois, em companhia da imperatriz, com o filho que o sucederia ao colo para ser amamentado por Maria.

Cento e noventa anos depois, o professor universitário Joaquim Miguel Couto, autor da pesquisa publicada na primeira página desta edição, conta a sua história de vida.

"Meus pais, Joaquim e Emília, se casaram em 1964, e foram morar em nossa casa da Avenida Nove de Abril, que ficava ao lado da atual agência do Bradesco. A gestação de minha mãe foi ali. Neste local também nasceram meu pai e minha avó, Avelina Couto, filha de Joaquim Miguel do Couto.

Como não havia hospital em Cubatão na época, só parteiras, a família decidiu que o parto de Emília seria na Beneficência Portuguesa, em Santos. "Três dias depois do parto voltamos para Cubatão. Tal como os meus amigos da Nove de Abril, todos nasceram em Santos. Mas os amigos de meu pai esperavam que eu fosse registrado em Cubatão".

Armando Cunha, ex-prefeito e dono do cartório, não gostou quando meu pai disse que me registrou em Santos: "Que mancada, o filho dos filhos de Cubatão foi registrado como santista", reclamou.

Joaquim nasceu em 22 de janeiro de 1965. "Na infância, vivia jogando bola na calçada da Avenida Nove de Abril com meus amigos Zezinho (Casa Mendes), Marcelo (Casa Cruz), Manolo (Papelaria A Pioneira) e Mazinho (da Peixaria da Miguel Couto)".

Estudos – Em Cubatão, estudou o primeiro grau no colégio Júlio Conceição. Depois fez o primeiro ano do segundo grau no Afonso Schmidt. "Quebramos algumas vitrines com nossa bola, nessa época. A Nove de Abril não era tão movimentada, permitindo o jogo de bola entre crianças. Vivi na Nove de Abril até os 11 anos. Depois me mudei para a nova casa da Rua XV de Novembro, na Vila Nova. Aos 13 anos, os meus amigos de escola me levaram para treinar basquete no Centro esportivo Humberto de Alencar Castelo Branco. Havia chegado um novo professor, que todos gostavam. Era Milton Marcelino".

Treinou e jogou basquete em Cubatão até os 18 anos. "Fui para Jogos Regionais e Jogos Abertos pela cidade. O professor Milton ajudou meus pais na minha criação, e de meus amigos também. Milton defendia os estudos e criticava os que bebiam e fumavam. Foi também o professor Milton que me encaminhou para o meu primeiro emprego na Prefeitura Municipal de Guarujá, em 1983, pois em Cubatão ele não conseguiu me empregar em nenhuma empresa".

Depois da morte da avó Avelina (1981) e da aposentadoria do pai pela Prefeitura de Cubatão (1979), a família resolveu se mudar para Santos em 1983 para ficar mais próximo da casa da avó materna. "Eu tinha 18 anos quando mudei para Santos. E concluí o restante dos estudos em Santos no Colégio Aristóteles Ferreira".

Trabalhou no Banespa de Cubatão entre 1988 e 1998, quando passou no concurso para professor de economia da Universidade Estadual de Maringá. "Sou casado com Ana Cristina Lima Couto, também professora de economia da mesma universidade. Ainda não temos filhos".

Em Maringá, nas horas vagas, "cuido das bananeiras de meu quintal, antiga atividade de minha família, em Cubatão. Em Santos nas férias, a melhor coisa é caminhar na praia. Como meu pai é palmeirense, e como morei na Vila Belmiro, gosto do Palmeiras e do Santos, mas sem fanatismo".

Desde a infância, ouvindo relatos da família, pensava em escrever sobre a cidade, concentrou-se no fenômeno social da industrialização. "A primeira vez que pensei em estudar o polo foi quando estava terminando a graduação em Ciências Econômicas na Unisantos, em 1991. Mas a ideia não foi adiante. "Já no doutoramento no Instituto de Economia da Unicamp, em 1999, meu orientador aprovou a ideia de estudar o Polo Industrial e suas consequências para Cubatão".

Como tinha familiaridade com a história da Cidade, a tarefa não se mostrou difícil. No segundo semestre deste ano, talvez faça uma nova pesquisa sobre o polo.

A expectativa dele é continuar trabalhando na Universidade de Maringá nos próximos 12 anos, quando se aposenta. "Depois da aposentadoria, não penso em voltar a trabalhar. Mas o futuro ninguém sabe, muito menos os economistas".

Livros de Lula – Atualmente escreve um novo livro sobre o segundo mandato do presidente Lula. O primeiro livro, sobre o primeiro mandato de Lula (O medo do crescimento: política econômica e dinâmica macroeconômica no primeiro Governo Lula - 2003-2006), foi publicado em 2010.

Perfil

Quem: Joaquim Miguel Couto
Formação: escritor, economista pela Unicamp, professor de Economia na Universidade Estadual de Maringá
Destaque: descendente dos fundadores de Cubatão
Família: Ana Cristina, esposa.