Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cubatao/ch007k.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/31/08 11:39:52
Clique aqui para voltar à página inicial de Cubatão
HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO: BILLINGS & BORDEN
As usinas elétricas, em 1965 (II)

Leva para a página anterior

A história do início da produção de energia elétrica no estado  de São Paulo e especialmente em Cubatão foi narrada por Maria de Lourdes Radesca, no capítulo 18º da obra A Baixada Santista - Aspectos Geográficos (volume IV - "Cubatão e suas indústrias", páginas 67 a 106, Editora da Universidade de São Paulo, 1965, São Paulo/SP - exemplar no acervo da Biblioteca Pública de Cubatão - ortografia atualizada nesta transcrição):


CASAS ISOLADAS DE ALVENARIA, TIPO A

Casas geralmente ocupadas pelo pessoal da administração, engenheiros, operadores chefes, eletricistas chefes e altos funcionários de escritórios
Foto: N. L. Corte, publicada com o texto, na página 92 do livro IV

As usinas da Light e a energia elétrica [...]

IV - As condições geográficas do sistema hidrelétrico de Cubatão

Os fatores naturais - O aproveitamento hidrelétrico de Cubatão pôde ser realizado com êxito graças à utilização conjunta do que há de favorável nas condições naturais do Planalto, da escarpa da Serra do Mar e da Baixada Santista para a produção de energia elétrica. De fato, nem a Baixada, nem o Planalto isoladamente, possuem elementos que permitam um aproveitamento hidrelétrico de grandes proporções; todavia, cada uma dessas áreas dispõe de valiosas condições para alcançar esse objetivo, condições essas que por uma feliz coincidência se completam.

A precipitação é elevada em toda área do Planalto drenada pelos rios Grande e Guarapiranga, e ainda mais elevada na Serra do Mar, onde esses cursos d'água e o Rio das Pedras têm suas cabeceiras. Decresce do alto da Serra, onde se registra uma das mais altas precipitações médias anuais do Brasil (4.000 mm e mesmo 4.500 mm), em direção à Capital (1.700 mm) e à Baixada Santista (Cubatão - 3.100 mm). Na área em apreço, a pluviosidade média anual máxima ocorrida dentro do período de observação (1928-1953) foi 6.167,2 mm, registrada na barragem do Rio das Pedras, de 1928 a 1929. O máximo pluviométrico diário observado dentro do mesmo período foi 430 mm, ocorrido também na barragem do Rio das Pedras (vertente marítima), a 15 de dezembro de 1934.

Apesar da precipitação média anual ser excepcionalmente favorável, os regimes dos rios da bacia do Tietê, regulados pela pluviosidade da região, que se caracteriza por chuvas de verão e secas de inverno, apresentam uma grande amplitude anual entre débitos máximos e mínimos. Este inconveniente em grande parte pôde ser sanado com a construção dos lagos artificiais - os reservatórios do Guarapiranga e Billings - possibilitada pelas condições topográficas da região.

Realmente, a superfície do Planalto Paulistano, de topografia fracamente inclinada para o interior, drenada por cursos d'água que buscam o Tietê através de vales largos e de pequena declividade, prestou-se admiravelmente à construção de grandes reservatórios mediante a edificação de barragens de pequena altura.

Além disso, o mal definido divisor de águas entre a vertente Atlântica e do Paraná é de pequena altitude, o que permitiu que o nível dos lagos artificiais alcançasse quase o do divisor.

Para a produção de energia elétrica não basta, entretanto, a existência de água em abundância; é necessário ainda haver um desnível que permita rendimento apreciável. Esse elemento o planalto não possui e as barragens dos reservatórios são de pequena altura. A abrupta escarpa da Serra do Mar, semelhante a imenso degrau entre o Planalto e a Baixada Santista, ofereceu, porém, a oportunidade ideal para o estabelecimento de gigantesca queda d'água artificial, por onde foram lançadas, através das adutoras, as águas do Planalto.

O maior mérito do idealizador do projeto de Cubatão consistiu justamente em ter percebido que, da associação das condições naturais das duas áreas por meio de algumas obras de engenharia, nasceriam condições excepcionalmente propícias à produção de energia elétrica.

Ao idealizar o aproveitamento de Cubatão, o eng. Billings assemelhou-se a Colombo ao colocar o ovo em pé: depois de lembrada a solução, salta aos olhos sua grande simplicidade.


SÉRIE DE CASAS GEMINADAS, TIPO C - Casas ocupadas pelos mais modestos trabalhadores
Foto: N. L. Corte, publicada com o texto, na página 92 do livro IV

O problema da mão-de-obra - Trabalham em Cubatão, para o funcionamento das usinas hidrelétricas, 336 pessoas, das quais 4 se encarregam da administração, 15 dos serviços de escritório, 10 de almoxarifado, 65 da operação da Usina Externa, 28 da vigilância também da Usina Externa, 28 da operação da Usina Subterrânea, 2 da vigilância da mesma usina, 7 do Posto Médico, 22 dos Serviços das pensões, 11 das escolas e 140 da manutenção geral [9]. É relativamente pequeno o número de empregados que se ocupam especificamente do funcionamento das usinas geradoras, devido ao seu alto grau de mecanização.

A quase totalidade dos trabalhadores reside no chamado Acampamento Permanente de Cubatão, que se ergueu em substituição aos alojamentos provisórios da época da construção da Usina. Apenas 11% dos empregados residem fora (Cubatão, Santos e Acampamento da Cascatinha, no alto da Serra), devido às grandes vantagens e ótimas condições de vida oferecidas pela companhia em Cubatão [10].

O Acampamento está situado na Baixada Santista, junto às usinas geradoras, entre a escarpa da Serra e o Rio Cubatão. É um pequeno e lindo bairro industrial com ruas asfaltadas, confortáveis residências (quase todas com seus jardins de frente), campo de desportos, clube recreativo, centro de escotismo, escolas, posto médico, barbeiro, loja de armarinhos, sapateiros e dentista. Dada a grande limpeza reinante em todo o bairro, o bom aspecto das residências e a grande área ajardinada, faz lembrar, embora em proporções muito mais modestas, os bairros-jardins da cidade de São Paulo.

É habitado por 1.056 pessoas (junho de 1963), empregados da Light e seus familiares. A pirâmide das idades, de base larga, revela a predominância na população de indivíduos jovens, o que é natural tratando-se de um núcleo residencial ocupado apenas por empregados que efetivamente trabalham na indústria. O número elevado de crianças no Acampamento decorre das facilidades para moradia e instrução, proporcionadas aos filhos dos trabalhadores; decorre ainda das condições de higiene reinantes, que reduzem a mortalidade infantil.

As casas do Acampamento são fornecidas gratuitamente aos empregados casados. Os solteiros residem em alojamentos coletivos.

Há vários tipos de residências para as famílias, sendo as melhores (quase luxuosas) ocupadas pelos funcionários mais categorizados. Contêm elas: varanda, duas salas, três dormitórios, cozinha, banheiro, dependências para empregados, garagem e quintal (casas isoladas de alvenaria tipo A). A maioria das casas possui geladeira, fogão elétrico e aquecimento central, fornecidos pela Companhia. As menos aquinhoadas são providas pelo menos de chuveiros elétricos e possuem um quarto, sala, cozinha e quintal (casas geminadas de alvenaria tipo C).

Os alojamentos para solteiros são de três categorias: (a) para funcionários categorizados - quarto individual e banheiro para cada dois quartos (Cr$ 7.100,00 por mês); (b) dois em cada quarto (Cr$ 4.860,00 por mês); (c) para trabalhadores braçais - quartos com várias camas (Cr$ 3.400,00 por mês). No preço dos alojamentos está incluída a alimentação, móveis, roupa de cama e empregados para a limpeza diária.


CASAS DE ALVENARIA, TIPO B (ISOLADAS)

Possuem Salas, 2 ou 3 dormitórios, banheiro, cozinha, varanda e quintal
Foto: N. L. Corte, publicada com o texto, na página 93 do livro IV

Todos os trabalhadores, seja qual for sua categoria, recebem nas Pensões a mesma refeição.

O abastecimento das famílias residentes no Acampamento é feito no armazém da Cooperativa da Light e na cidade de Cubatão. O transporte para Cubatão é fácil, pois a companhia de Viação Santos, São Vicente e Litoral mantém uma linha de ônibus (de 15 em 15 minutos), que passa por Cubatão, ligando a Cosipa, a Refinaria Presidente Bernardes, o Acampamento e a Cia. Santista de Papel.

Os moradores do Acampamento dispõem de um Posto de Saúde gratuito, mantido pela Light, atendido por 2 médicos, 3 enfermeiros e 1 analista. Dispõem também de uma ambulância para transportar doentes em estado grave para os centros de maiores recursos e uma pequena farmácia com remédios de emergência, inclusive oxigênio.

Para assegurar o bom estado sanitário do Acampamento foi feita a vacinação em massa de todas as crianças, contra a varíola e a poliomielite, sendo mantido um serviço ativo de combate aos focos de mosquitos, que outrora tornavam a região insalubre.


CASAS DE ALVENARIA, GEMINADAS TIPO A

Possuem sala, 2 quartos, cozinha, banheiro e quintal. São geralmente ocupadas por carpinteiros, pintores, feitores, maquinistas, mecânicos e pedreiros
Foto: N. L. Corte, publicada com o texto, na página 93 do livro IV

Os filhos dos empregados têm à sua disposição curso primário completo gratuito: Grupo Escolar, Jardim da Infância e Pré-primário, muito bem instalados em prédios adequados, onde lecionam 7 professoras formadas. Os alunos, 130 do Grupo Escolar e 64 do Jardim e Pré-primário, recebem diariamente e também gratuitamente, um lanche, e são submetidos semestralmente a exame médico rigoroso, inclusive exames de laboratório.

Para os filhos de empregados que desejam freqüentar o curso secundário, a Light fornece ônibus para Santos (3 viagens diárias).

Existem ainda no Acampamento cursos do Sesi: alfabetização de adultos, Relações Humanas do Trabalho, Pré-nupcial, Cozinha e Corte e Costura. A Companhia custeia também, para seus empregados, cursos por correspondência de Português, rudimentos de Eletricidade, rudimentos de Mecânica, Desenho, básico de Escritório e Leiturista.

O número de analfabetos, que trabalham para a Light em Cubatão, é reduzidíssimo - 4 em 336 empregados, o que equivale a menos de 1%. O nível cultural da massa dos empregados é, entretanto, baixo, havendo um número muito pequeno com curso primário completo; a grande maioria é apenas alfabetizada.

A mão-de-obra das usinas provém de quase todos os Estados do Brasil, havendo, entretanto, alguns estrangeiros, na maior parte da Península Ibérica. Dentre os trabalhadores brasileiros, predominam os paulistas, nordestinos, mineiros e baianos. Dentre os paulistas, apenas um terço provém da Baixada Santista.

[...]

 


Cooperativa do acampamento de Cubatão
Foto publicada com o texto, na página 95 do livro IV


[9] O número reduzido de operários empregados na vigilância da Usina Subterrânea explica-se pela ausência de adutoras de superfície e, portanto, das obras de drenagem e proteção contra deslizamentos da encosta.

[10] Os poucos empregados residentes no Acampamento de Cascatinha, alojados em casas de madeira, estão aos poucos sendo instalados no Acampamento de Cubatão.

Leva para a página seguinte da série