Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cubatao/ch007g.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/18/03 22:25:03
Clique aqui para voltar à página inicial de Cubatão
HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO: BILLINGS & BORDEN
Um projeto na Serra do Mar

Leva para a página anterior

A história da geração de energia no trecho paulista da Serra do Mar foi também contada no livro Cubatão Ontem e Hoje - Um Marco no Desenvolvimento, publicado em 1970 pela paulistana Hallison Publicidade Ltda., com apoio dos departamentos de Imprensa e de Relações Públicas da Prefeitura Municipal de Cubatão:

O Projeto da Serra do Mar e a Usina da Light em Cubatão

Certa ocasião, Franklin D. Roosevelt afirmou que, nos tempos modernos, o desenvolvimento de uma nação pode ser medido pelos índices de consumo de energia elétrica em todos os setores de suas atividades sócio-econômicas, uma vez que "a eletricidade é algo mais do que uma simples necessidade: ela é o próprio sangue de um povo sedento de progresso".

É exatamente no campo da eletricidade (e de seu consumo) que Cubatão revela a pujança de seu crescimento, tendo para isso contribuído dois fatores de capital importância: primeiro, o ter-se instalado em seu território um dos maiores conjuntos hidrelétricos do mundo (N.E.: o texto é de 1970, anterior ao surgimento da usina de Itaipu, entre outras) - a Usina Henry Borden - responsável pela projeção da cidade para muito além das fronteiras do Estado e do País; segundo, o do suprimento de energia elétrica, que, nessa região, também é feito pela Light Serviços de Eletricidade S.A., empresa que abastece a capital bandeirante e outros 92 municípios paulistas, mineiros e fluminenses e todo o Estado da Guanabara, abrangendo uma população global de 14 milhões de habitantes.

Pode, pois, Cubatão, com muita justiça, orgulhar-se de contar com as mesmas disponibilidades de energia que fomentam o progresso de uma região que é, sem favor algum, considerada como a mais progressista do Hemisfério Sul.

O projeto da Serra do Mar - A população da metrópole bandeirante que, ao entrarem em funcionamento os dois primeiros geradores da Light, em Santana do Parnaíba, em 1901, era de 239.000 almas, atingira em 1923 a 820.000 habitantes, cujo nível de vida apresentava contínua e acentuada melhoria. 

Então, para serem dinamizados e completados os estudos que, desde 1911, haviam sido empreendidos nas áreas de Itapanhaú e Alto Juquiá, sob orientação do eng. Charnley, foram confiados ao emérito eng. A. W. Billings, que, com a colaboração proficiente do eng. F. S. Hyde, fez evoluir os planos iniciais até a concepção que, concretizada, constitui, indubitavelmente, ainda hoje, um dos feitos máximos da engenharia hidrelétrica na orbe: a suplementação, para o acionamento das turbinas instaladas no sopé da serra de Cubatão, dos modestos percursos representados pelo aproveitamento de um rio da vertente oceânica - o das Pedras - pelos caudalosos resultados do lançamento para a encosta marítima das águas captadas em 5.600 m² da bacia do Tietê.

É, praticamente, o aproveitamento de desvio para o Atlântico, num salto de 720 m, do débito total do "rio das Monções" na barragem de Pirapora, implantada 55 km a jusante de São Paulo.

O projeto, genial na sua simplicidade utilizadora de um complexo de condições excepcionalmente favoráveis, foi apto a atender em delongado período ao rush industrial paulista - sem dúvida, um fato notável na história da Humanidade nas últimas décadas.

As elevadas precipitações pluviais da orla do Planalto bandeirante (que se inscrevem entre as mais altas do mundo), a conformação topográfica e as condições geológicas extremamente propícias ao projeto de inversão da corrente dos cursos e à açudagem, a proximidade da usina do grande centro de carga, o reduzido valor de produção das terras a submergir e o extraordinário desnível oferecido pela escarpa oceânica, constituíram a soma de elementos favoráveis que levaram Billings a propor-se transformar o ressalto litorâneo, que durante quatro séculos fora entrave ao progresso das Terras Altas, em fator decisivo de seu desenvolvimento.

O potencial do Tietê, que modesto seria se explorado junto à fímbria do Altiplano, é multiplicado dezenas de vezes pelo lançamento das águas na Baixada Santista, encurtando-lhes para bem menos de cem o estirão de três mil quilômetros que teriam de percorrer para atingir o estuário do Prata.

A fim de criar as possibilidades de instalação, nas duas secções - uma de superfície, outra subterrânea - da Henry Borden, da capacidade de 900.000 kw (ainda hoje, o maior conjunto gerador em total operação no Hemisfério Austral), numerosas obras correlatas se tornaram necessárias, muitas delas de per si benéficas à coletividade usuária dos serviços da empresa.

Entre as principais, justo é destacar o canal de Pinheiros, que - destinado a facilitar a adução de águas, por bombeamento, ao reservatório Billings - integrou na paisagem urbana da metrópole bandeirante 25.000.000 m² conquistados num vale que se apresentava inteiramente inapto à ocupação humana, sujeito que era aos percalços de desastrosas e repetidas inundações.

Essa área foi aterrada até acima das cotas de enchente máxima anteriormente registradas, com o material proveniente da escavação de uma hidrovia com 24 km de comprimento e secção para o escoamento de 240 m³/s, substituta do curso natural - que, divagante na formação sedimentária, ao atingir o modesto débito de 90 m³/s, inundava a planura ribeirinha. O progresso de São Paulo ostenta nesses recuperados alguns aspectos mui expressivos, como a Cidade Universitária, um estuante complexo fabril e formosos bairros residenciais.

Outro benefício indireto advindo das obras da Serra é a atenuação da ameaça de inundações das áreas marginais ao Tietê na Capital, pelo represamento de parte da bacia e o desvio, por bombeamento, através do canal de Pinheiros, de parcela considerável das vazões do rio que foi "caminho para o sertão".

A própria criação de condições sanitárias que permitiram levar a bom termo a construção da casa de força no sopé da Serra - onde a incidência de malária, na época das obras iniciais, era tal que cientistas do porte de Arthur Neiva se manifestaram apreensivos quanto às possibilidades de êxito do empreendimento - se constituiu num feito notável e pródigo de ensinamento.

É, assim, a usina Henry Borden, o marco de inserção no panorama econômico do País, em outros tempos agressivo e insalubre, trato da planície litorânea que aloja a imponente concentração industrial de Cubatão, onde tem destaque a Refinaria Presidente Bernardes, da Petrobrás.

A usina Henry Borden - exemplo raro de elevada potência resultante de tão considerável desnível, 720 m - tem a responsabilidade de suprimento de energia indispensável à evolução do Planalto Paulista partilhada, principalmente, com a termoelétrica Piratininga. Esta, com 450.000 kW, é a imprescindível complementação térmica que, independente de fatores meteorológicos, assegura, em porcentagem elevada, a continuidade de fornecimento num sistema que se agigantou.

As obras mencionadas (que representam os empreendimentos do Grupo Light somente no Estado de São Paulo) - em cuja execução foram sistematicamente adotados os padrões da técnica mais evoluída na época da realização de cada uma - são comprovantes incontestáveis de que a organização, que as levou com sucesso a termo, habilitada estaria em prossegui-las nas proporções mais amplas exigidas pelo extraordinário crescimento do complexo de produção que delas recebeu energia.

O tema também foi tratado no suplemento especial comemorativo do 49º aniversário de Cubatão, publicado com o jornal santista A Tribuna em 9 de abril de 1998:

 

Projetada pelo canadense Asa Billings, a usina de Cubatão começou a operar em 1936
Foto: reprodução, publicada no jornal A Tribuna em 9/4/1998, caderno especial Cubatão 49 anos

HIDRELÉTRICA

Água cai pelas escarpas gerando energia

Usina Henry Borden garantiu a produção de eletricidade para SP até o final dos anos 50

O desenvolvimento industrial de Cubatão deve muito, principalmente, à ampliação das ligações rodoviárias e ferroviárias entre a Capital e a Baixada Santista. Foi em 1925 que o Governo da Província de São Paulo pavimentou com placas de concreto (primeira experiência desse tipo no continente latino-americano) o leito da antiga Estrada da Maioridade ou Caminho do Mar.

Mas, também deve essa conquista a um sonho que o canadense Asa Billings tornaria realidade: a construção da Usina Hidrelétrica Henry Borden. Aproveitando o obstáculo de um paredão com 700 a 800 metros de altura, representados pelo maciço de Cubatão, na Serra do Mar, Billings projetou no Planalto uma represa com uma superfície de 132 km².

A primeira unidade da usina começou a funcionar em 1926, produzindo 44.437 kw de energia. Porém, foi a represa, pronta em 1934, que garantiu o abastecimento de água suficiente para alimentar a hidrelétrica, mesmo em períodos de estiagem.

A posterior expansão da capacidade dessa hidrelétrica contribuiu para, até o fim dos anos 50, garantir de 80 a 90% da produção total de energia do Estado de São Paulo.

Pode-se dizer que essa usina e a represa que a alimentou - e que recebeu o nome de Billings - possibilitaram a expansão industrial brasileira, a partir de São Paulo. Hoje, em decorrência de dispositivo constitucional, a usina opera com apenas 8% da sua capacidade, com o propósito de contribuir para a despoluição das águas da represa, permitindo o seu aproveitamento futuro como manancial.

Leva para a página seguinte da série