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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO: BILLINGS & BORDEN
Revista em quadrinhos conta essa história (2)

Em 1962, a Editora Brasil-América Ltda. (Ebal), da Guanabara, produziu uma edição especial de uma de suas revistas em quadrinhos, com a história dos pioneiros da eletrificação do Brasil, especialmente Asa Billings:

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Para se ter uma idéia do que foi a obra realizada por Billings no Brasil, vejamos qual era a situação, no plano da eletricidade, no ano em que ele aqui chegou: no Rio de Janeiro, a Light dispunha da Usina de Fontes, em Ribeirão das Lajes, com capacidade de 46 mil quilowatts; em São Paulo, a Usina de Parnaíba (depois chamada Edgard de Souza), de Sorocaba e a Usina térmica de Paula Souza tinham uma capacidade total de 50.000 quilowatts instalados.

E tanto o Rio como São Paulo davam mostras de necessitar de mais energia do que a que estava sendo produzida. Para aumentar a produção de energia no Rio de Janeiro, só eram imaginadas duas soluções: ampliar as instalações de Ribeirão das Lajes ou construir uma nova usina sobre o Rio Paraíba. Billings se inclinou pela segunda solução. Acreditava que, instalando uma casa de força na Ilha dos Pombos e represando um ou dois canais que ali são formados pelo Paraíba, seria possível obter grande quantidade de energia.

Realmente, em fins de 1924, estavam instalados na Ilha dos Pombos dois geradores com uma capacidade total de 44 mil quilowatts. Tinha-se dobrado a disponibilidade de energia elétrica do Rio de Janeiro.

Billings acompanhou, pessoalmente, as obras no Paraíba até quase a sua conclusão. Vestido de cáqui, montado num enorme cavalo baio, com sela mexicana e chapéu de cowboy, tornou-se uma figura conhecida na região. Mas o seu trabalho na Ilha dos Pombos seria apenas uma amostra da contribuição de Billings à produção de energia elétrica no Brasil. Enquanto era duplicada a produção do Rio de Janeiro, São Paulo achava-se às portas de uma crise sem precedentes. Se não fossem encontradas mais fontes de energia, seria prejudicado em muito o desenvolvimento industrial de toda a região.

O engenheiro Hyde, o mesmo que sugeriu a construção da Usina da Ilha dos Pombos, foi convidado a voltar ao Brasil. Hyde viajou por toda a região e, pouco depois, apresentou um relatório: "... A solução é simples e original. A formação geológica da Serra do Mar mostra que ela se ergueu em um período recente, depois da formação do planalto paulista. Foi um levantamento lento e pouco acentuado, porquanto os rios não tiveram tempo suficiente para escavar seus leitos através da serra, e passaram a correr para o interior, com exceção, apenas, do Ribeiro de Iguape e do Paraíba. O que se pode fazer, portanto, é inverter o curso dos rios dos planaltos e jogá-los serra abaixo, aproveitando a energia assim produzida".

Billings se entusiasmou, pois, dessa forma, a bacia do rio Tietê poderia ser aproveitada. Estava lançada a idéia. Pela primeira vez, a Serra do Mar, que já fora um dos maiores obstáculos ao progresso do Brasil, seria forçada a trabalhar para esse mesmo progresso.

Da idéia à prática, algum tempo se passou. Durante a revolução de 1924, instalações da Light, em São Paulo, foram danificadas pelo bombardeio. Billings estava no Rio e foi aconselhado a não viajar a São Paulo, mas considerava que tinha de cumprir sua obrigação, pois haveria grandes prejuízos se fosse prejudicado o fornecimento de energia a São Paulo. Assim, atravessou as linhas revolucionárias, cumprindo sua missão.

As obras da Serra do Mar já estavam iniciadas quando, depois do término da revolução, o consumo de energia em São Paulo sofreu um acréscimo considerável, com a eletrificação das linhas da Paulista, demandando uma solução de urgência. Além disso, a seca de 1924 fora terrível. As águas do Tietê baixaram cerca de 30% do seu volume, e 70% da energia elétrica de São Paulo teve de ser cortada. A iluminação pública foi interrompida, pararam os cinemas, as fábricas trabalhavam três dias por semana.

Billings foi chamado a intervir. Seu plano era construir uma usina utilizando as águas do Tietê, no local conhecido pelo nome de Rasgão. Senhor do assunto, pois estudara cuidadosamente a região, prosseguiu, com a imagem do local na memória: "Em certo ponto de seu percurso, o Rio Tietê faz uma curva fechada, com a extensão de alguns quilômetros, existindo, entre os pontos mais próximos do leito do rio, uma distância de apenas seiscentos metros".

Foi nesse local - conhecido como Rasgão, desde que faiscadores de ouro, há muitos anos, tentaram cortar a curva do rio através de um canal que deixasse parte do leito a seco - que Billings construiu a nova Usina do Rasgão. Em menos de onze meses, foi construída a represa e a casa de força, obtendo-se uma queda livre de vinte e dois metros. A obra foi verdadeiro recorde mundial, pela velocidade em que foi executada. Billings conseguiu também duplicar a produção de energia da usina de Paula Souza, e previa que até o final do ano seria possível suspender o racionamento. Billings previa certo. Em 15 de novembro de 1925, todas as restrições ao fornecimento de energia em São Paulo foram abolidas.

Enquanto isso, o grande plano de subjugação da Serra do Mar ia sendo, aos poucos, executado. A usina que aproveitaria a energia gerada por esse plano de inverter o curso dos rios do planalto e jogá-los serra abaixo chamar-se-ia Cubatão. Em 1927, a previsão era de que, com as duas máquinas então instaladas na nova usina, seriam produzidos cerca de setenta mil quilowatts, e esse era o primeiro estágio de construção - explicava ele a um jornalista.

Foi alterado um pouco o plano inicial: em vez de se construir várias barragens que revertessem o curso de vários afluentes do Tietê, será apenas revertido o curso do Rio Pinheiros, transformando-o em um canal, desde sua foz até a estação de bombeamento da Traição... Daí será bombeado para um nível cerca de cinco metros mais elevado, conduzindo as águas até a base de uma represa a ser construída próximo a Santo Amaro, de onde serão bombeadas para o reservatório do Rio Grande, a ser formado por essa barragem. Do reservatório do Rio Grande, as águas passarão por um canal ao reservatório do Rio das Pedras, no alto da serra, e, daí, serão conduzidas às turbinas, através das tubulações que descem a Serra.

Ainda em 1927, as obras foram iniciadas. Começou a construção da barragem do Rio Grande e a deslocação da estrada de rodagem Rio-São Paulo, pois a estrada existente iria ficar parcialmente submersa.

Nem tudo, entretanto, dependia do esforço de Billings e de sua fé no desenvolvimento de São Paulo. Fatos alheios à sua vontade aconteciam. Em 1929, a quebra da Bolsa de Nova York. Em 1930, rebentou a revolução que conduziria Getúlio Vargas ao poder. Nas ruas: "Os gaúchos disseram que virão aqui, amarrar os seus cavalos no obelisco da Avenida", "Acho que Washington Luiz não está tomando as providências necessárias", "Ele não acredita na revolução". Em 1932, São Paulo pegou em armas, exigindo uma Constituição que garanta seus direitos.

Entretanto, mal o Brasil se punha de pé, depois dos anos de crise, as obras da Serra do Mar, ainda sob a direção do infatigável Billings, eram recomeçadas. Entre 1935 e 1937 foi concluído importante trabalho para o sistema local, a Barragem do Rio Grande. Este reservatório, situado a 746,5 m, tomou depois o nome de Billings.

Questionado pela imprensa sobre os novos planos, Billings explicou que mais água disponível significava mais energia. Seriam instalados mais três geradores de 65 mil quilowatts, totalizando uma potência de 265 mil kw. Para ele, era preciso crer no futuro de São Paulo e do País: ele acreditava que não demoraria muito para que toda essa potência já se tornasse deficiente.

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