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HISTÓRIAS E LENDAS DE BERTIOGA
Bertioga também produz cacau

Uma lenda do litoral paulista

Dedicada a Bertioga, então ainda um distrito de Santos, a edição de julho de 1988 do jornal tabloide santista Destaque (exemplar no acervo do jornalista santista Paulo Matos, falecido em julho/2010) incluiu na página 14 esta matéria (ortografia atualizada nesta transcrição):


O administrador regional Nilson Marques e o secretário Antônio Arnaldo, nos pés de cacau

Foto publicada com a matéria

Tem cacau em Bertioga

Secretário estadual do Abastecimento visita novo polo agrícola na região

Paulo Matos

A produção de cacau em Bertioga é possível. Isso foi o que provaram os irmãos Paulo e Sérgio Lessa da Fonseca no último dia cinco de março, quando apresentaram ao secretário estadual do abastecimento e a outros visitantes a fazenda Fundão, às margens do Rio do Poço Verde. São 680 hectares (300 alqueires) que produziram no ano passado duas toneladas e que já têm 70 mil pés de cacau. Em quatro anos, com a viabilização dos acessos à fazenda por terra - o único atual é o rio, limitando a produção - a meta é de 75 toneladas, segundo afirmou um de seus proprietários, o engenheiro Paulo Lessa.

Participaram dessa visita, além do secretário Antônio Arnaldo Queiroz e Silva, o administrador regional de Bertioga, engenheiro Nelson Marques, e o engenheiro agrônomo João Cláudio Manente, ciceroneados pelos irmãos Paulo e Sérgio - também engenheiros e diretores de uma empresa de engenharia e construção em São Paulo, que atua em Bertioga, na Riviera de São Lourenço.

Para se chegar à fazenda Fundão, só se tem um caminho atualmente, pelo rio, em barcos, pois o caminho estivado aberto no mato de acesso pela Rio-Santos, km 207, de três quilômetros de extensão em área de Serra do Mar, precisa ser aterrado, para que possa chegar o adubo e mão de obra, assim com sair a produção. Para isso, é preciso que se desmontem pequenos morros no interior da propriedade, que está na área tombada da Serra, ainda na planície - o que requer autorização especial. Sérgio Lessa, um dos proprietários, observa que "ninguém quer mexer com a Serra ou com sua vegetação. Para nós - diz Sérgio -, ela é sagrada e intocável. É de lá que vem a água e as condições essenciais para nossa atividade", completou.

Em dois barcos de 12 hp, navegando pelo Rio Itaguaré, do qual o Rio do Poço Verde é afluente, de onde partiram de um ponto próximo à sua foz, quase na divisa com a praia de Guaratuba, onde fica o antigo caminho do litoral e o "Bar do Abdul, em 50 minutos se chega à fazenda. Em pouco mais de meia hora pelo Rio Itaguaré, o barco entra no Rio do Poço Verde, também chamado dos Alhos, de mansa correnteza e de profundidade média de um metro de águas, ora barrentas, ora límpidas, que margeiam toda a extensão de 6,8 km da propriedade.

Cacau - produzindo sem devastar - A plantação de cacau é considerada como de reflorestamento pelo IBDF (N. E.: Instituto Brasileiro de Defesa Florestal), mesmo porque a manutenção das características originais da vegetação é um elemento básico para uma perfeita aclimatação da espécie.

Com 1,10 km de largura e 6,8 km de extensão, a fazenda Fundão, dos irmãos Lessa da Fonseca, tem no Rio do Poço Verde - rico em vegetação lateral que vai se fechando a cada metro e que penetra por baixo de seu próprio leito, vindo daí seu nome - outro precioso elemento para manutenção do equilíbrio ecológico ideal para essa plantação, impossível de ser conseguido artificialmente.

A distância, a ausência de energia elétrica e o difícil caminho em barcos pelo rio são obstáculos tanto para a chegada do adubo quanto do calcário - este, para tirar a acidez do solo -, além de impedir o escoamento da produção. Dificulta, também, a captação de mão de obra. Já foram 40 homens no cuidado diário dos pés de cacau, hoje apenas 8. Muitos com medo das onças pintadas e das antas que aparecem por lá.

O desafio de produzir cacau a menos de 100 quilômetros do principal parque consumidor do país - São Paulo, que o "importa" da Bahia, Pará, Mato Grosso e Rondônia, entre outros Estados - pôde ser provado pelos irmãos Lessa da Fonseca antes que uma década se completasse do início do empreendimento, em 1979. A primeira semeada ocorreu em 1981, com dez mil pés de cacau. No ano seguinte, plantaram-se vinte mil pés e depois dez em dez até atingir os 70 mil pés anuais, cercados por vegetação nativa, enormes árvores seculares (alguns espécimes de Imbiruçu lembram os locais) e arbustos, essenciais para impedir que as correntezas de vento possam ferir os pés de cacau, chamados por isto de "quebra-ventos".

A aventura do cacau - Para se chegar à fazenda Fundão vive-se um clima dos filmes do cineasta alemão Werner Herzog - pode ser Aguirre ou Fritzcarraldo, que mostram as tempestuosas e vibrantes navegações pelo Rio Amazonas.

No caso, apenas uma imagem está presente, pois o rio é pequeno - cerca de 6 metros de largura e raso. A vegetação densa sugere o clima dos filmes, a pequena correnteza da água que desce da Serra. As árvores que quase fecham o rio surgem por baixo em raízes que batem no barco, decorando o caminho com arcos de onde penduram-se cipós e flores, tudo sob o efeito provocado pelos bandos de borboletas multicores.

Às margens do rio, quando mangue de esparsa vegetação, os siris destacam-se pela sua cor coral brilhante, diversa da paisagem escura da terra nua e molhada. Jabutis aventuram-se a banhar-se no rio, agarrados às margens.

Com cinco minutos de viagem, encontramos uma ponte abandonada, semelhante à que vimos no local de saída dos barcos: ela servia à fazenda Itaguaré, que um dia explorou o comércio de caixeta, uma madeira de fazer fogo. Desde que o negócio deixou de ser rentável, ela foi sendo abandonada, há mais de trinta anos. Assim como Bertioga, onde séculos atrás se destacou o comércio de óleo de baleia, produzido ali, e que ia iluminar ruas até no Rio de Janeiro.

Rio Itaguaré, visto da ponte na Rodovia Dr. Manoel Hypolito Rego (BR-101),

tendo a Serra do Mar ao fundo

Imagem: Google Maps/Street View (consulta em 9/9/2012)

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