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HISTÓRIAS E LENDAS DE BERTIOGA
Bertioga, no começo de sua história (2)

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Um capítulo é dedicado na História de Santos/Poliantéia Santista pelos autores Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti (Ed. Caudex Ltda., São Vicente/SP, 1986) à história de Bertioga, que assim continuou o seu relato:

Bertioga no século XX

O renascimento de Bertioga só veio surgir no século XX, ou mais precisamente a partir de 1930, quando conquistou sua condição de Distrito de Paz e, posteriormente, de Subprefeitura.

No primeiro quartel deste século (N.E.: século XX), Bertioga se manteve no total ostracismo, estagnada, sem água, sem luz elétrica e sem qualquer transporte regular.

Na vila vegetava um reduzido comércio rudimentar que atendia, precariamente, as famílias de pescadores que ali residiam, formando um núcleo de casas que se dispersavam numa estreita faixa de terra, ao longo de 3 ou 4 km de praia.

Toda sua riqueza estava no seu potencial turístico, na sua beleza pitoresca, na sua simplicidade, na fartura de sua pesca e no esplendor de sua história.

Participaram dessa primeira fase de seu soerguimento alguns poucos comerciantes pioneiros, entre os quais citamos João Basílio dos Santos, com seu armazém, no velho casarão de sua chácara, ao lado do Forte São João da Barra, que ali se teria instalado em 1909; Manoel Nunes Viveiros, mais conhecido como "Maneco Ilhéus", com seu pequeno estábulo, desde os anos 20, em terras que hoje compreendem o início da Av. Anchieta; Elias Nehme, com sua Pensão Paulista, na praia, na terceira quadra, hoje, da Av. Tomé de Souza e com seu armazém de madeira, em frente à ponte de atracação de barcos, na faixa agora ocupada pelo ajardinamento e, posteriormente, com sua construção em alvenaria, nos anos 40, do Bar, Restaurante e Armazém Mar e Terra, no mesmo local, porém já com o recuo para a abertura da Av. Vicente de Carvalho; João Sabino, com seu bazar de roupas, tecidos e armarinhos, ao lado do Bar do Faninho, ainda existente no mesmo local; Miguel Seiad Bichir, com seu bar, também em frente à ponte das barcas, onde comercializava sua apreciada caninha "Praia Preta", por ele e seus filhos destilada nessa praia, na Ilha de Santo Amaro, além de outros, como Epifânio Batista, Nestor Pinto de Campos, Orivaldo Camarco, João Scardini, João Anastácio e Jayme e Ary Nehme.

João de Andrade, no início da década de 1930, instalou junto à sua casa, a 3 ou 4 km do núcleo comercial da vila, um forno de padaria, com o qual, por mais de dez anos, abasteceu de pão todos os caiçaras das praias de Bertioga, e ainda além; Afonso Paulino, no início dos anos 40, instalou a primeira padaria na vila, como estabelecimento comercial e não apenas como indústria, na esquina da Av. Vicente de Carvalho com a Rua Irmãos Braga, vendendo-a, por volta de 1947, a José Rodrigues, que logo a transferiu para um novo prédio, em frente, construído por ele, onde também instalou restaurante, bar e lanchonete e, em meados dos anos 60, construiu um novo prédio para instalar a mesma Panificadora São João da Barra, com amplas e modernas instalações, na Rua Irmãos Braga, onde ainda permanece; José Ribeiro de Araújo, como principal armador de pesca, principalmente de tainha, da região; Norberto Luiz, como grande extrator de caxeta (madeira nativa nessa faixa do litoral, muito usada, na época, para tamancos e caixas de frutas), seguido de Eugênio Figueiredo Costa, no Buracão, e Rubens Ferraz, em Caruara, também destacados cortadores de caxeta, nos anos 40.

O grande empresário de Bertioga, no final dos anos 1930, foi Rafael Costábile, que investiu, sozinho, uma elevada soma para a construção do Lido Hotel - o primeiro estabelecimento hoteleiro da região -, um grande hotel, amplo, moderno, confortável, dotado de frigorífico, de transporte, de usina geradora de energia elétrica, de restaurante e amplo jardim. Foi inaugurado em 1940 e funcionou por mais de 30 anos, a maior parte deles dirigido por Henrique Costábile, que acompanhou seu pai desde a construção. No Lido Hotel funcionou, por algum tempo, o primeiro posto telefônico de Bertioga - o PS-1, depois transferido para a Padaria São João da Barra, por estar situada na parte central da vila.

José Ermírio de Moraes, Alberto Caldas, Octacílio E. Oliveira, José Quartim Barbosa e outros fundaram a Cia. Urbanística de Bertioga, para abrir os primeiros loteamentos, no início da década 40, compreendendo grande parte da área da vila, inclusive o Morro da Senhorinha, que foi destruído para a utilização de sua terra, saibro e pedra, nos próprios aterros e construções da urbanização da vila.

Alguns anos depois, o mesmo grupo, com diversos acionistas, constituiu a Praias Paulistas S/A, para lotear uma grande área adjacente à Praia de São Lourenço, junto à Enseada, hoje cortada pela estrada de Moji-Bertioga e, ainda hoje, com mais de trinta e cinco anos, ainda continua loteando e urbanizando aquela área.

Elza e João Scardini instalaram a Pensão Holandesa, ao lado do Lido Hotel, por volta de 1945. Coriolano Mazzoni construiu o Hotel e Restaurante Umuarama, na esquina da Av. Vicente de Carvalho com a Av. Tomé de Sousa, o segundo hotel de Bertioga, inaugurado em 1950 - e no qual passou a funcionar, alguns anos depois, o posto telefônico PS-1. Coriolano Mazzoni e seu filho Licurgo Mazzoni, em 1955, inauguraram A Viga Mestra, o primeiro estabelecimento de materiais para construção e ferragens e, em 1956, montaram o primeiro cinema da vila, que não teve público suficiente para se manter, depois de alguns anos, com a penetração da televisão em quase todos os lares.

Na década de 50, Alberto Hugo de Oliveira Caldas montou, em Bertioga, a primeira fábrica de blocos de cimento. Sílvio Rodrigues foi o primeiro incorporador imobiliário, construindo o Edifício Silvia-Mara, de 3 pavimentos. Na década de 60, a Multipesca S/A e a Pesca Nova S/A instalaram suas fábricas de conservas e seus grandes frigoríficos e com a Indústria de Produtos Alimentícios Palmares Ltda., instalada no início da década 70, abriram campo para um pequeno pólo industrial, em Bertioga, que não chegou a ser desenvolvido. Humberto da Silva Piques instalou a primeira farmácia.

Em 1971, Bertioga inaugurou sua primeira via pública asfaltada - Av. Vicente de Carvalho - conjuntamente com seu primeiro ajardinamento e seu píer de concreto, para a atracação das lanchas, cujos melhoramentos foram inaugurados pelo interventor na Prefeitura de Santos, general Clóvis Bandeira Brasil.

Em 1976, Fernando Martins Lichti funda o primeiro clube de serviço - o Lions Clube de Bertioga, de cuja fundação foi padrinho o Lions Clube de São Vicente. Em 1978, o prefeito de Santos, Antonio Manoel de Carvalho, inaugurou a pavimentação da Rua João Ramalho, em toda a sua extensão, bem como os novos prédios do Pronto-Socorro e da Administração Municipal Regional. Nesse mesmo ano, o Lions Clube de Bertioga entregou à Polícia Militar do Estado o primeiro Posto de Salvamento nas Praias, por ele construído com o apoio da comunidade e da Prefeitura de Santos.

Em dezembro de 1965, o prefeito municipal de Santos, engenheiro Sílvio Fernandes Lopes, acionou a chave ligando a energia elétrica à vila, que passou a dispor de iluminação pública e domiciliar oferecida pela Usina de Itatinga, através da CESP.

O abastecimento de água, por rede domiciliar, foi inaugurado em 1969, cuja captação na serra e adutora foi executada pelo Estado e está entregue à Sabesp. O Pronto-Socorro Municipal, com ambulância e médico permanente, foi instalado em 1951, pelo prefeito Sílvio Fernandes Lopes. A Sociedade Amparo aos Praianos de Bertioga, fundada na década 40, logo construiu sua sede, em terreno doado pela Cia. Urbanística, na Rua João Ramalho, onde instalou seu Posto de Puericultura, posteriormente gabinete dentário e mais tarde ambulatório médico permanente, através do Centro de Saúde do Estado.

Lembramos, ainda, alguns nomes e fatos pioneiros que devem ser registrados para a história de Bertioga: Miguel Arcanjo foi sua primeira autoridade policial, seu primeiro postalista e agente das barcas da Cia. Santense de Navegação. Seus primeiros professores foram Inácio José da Hora, na Vila, também barbeiro estabelecido, e Antonio da Costa Barros, no Indaiá. Os primeiros inspetores escolares, que fiscalizavam as duas escolas à moda antiga, com muita dedicação e austeridade, desempenhando suas obrigações com enormes sacrifícios, muitas vezes percorrendo 12 km de praia a pé e viajando em barcos de pesca, em total desconforto, foram o professor Delfino Stockler de Lima e a professora Alzira Martins Lichti, até 1945.

O primeiro telegrafista foi José Epifânio da Silva, que, para restabelecer as linhas rompidas, percorria muitos quilômetros de mata, enfrentando sérios riscos. O dr. Brasilino Vaz de Lima foi o primeiro médico do Estado, efetivamente instalado, em Bertioga, onde passou a residir, em 1952. Walter Prado foi o primeiro titular do Cartório de Paz e Registro Civil, em 1960.

Foram subprefeitos de Bertioga, a partir de 1946: engenheiro Carlos Lang, Sílvio Rodrigues, Isaac de Oliveira, Ary Fonseca Cruz, Miguel Lourenço, Oswaldo Soares, Alberto Alves, Henrique Costábile, Jaime Pina Nascimento, Coriolano Mazzoni e Faustino Gomes. Foram seus administradores regionais municipais: engenheiro José Sanches Ferrari, engenheiro Geraldo Maria da Silva, engenheiro Luiz Carlos Rachid e, atualmente (N.E.: 1986), engenheiro José Mauro Orlandini.

Francisco Quartim Barbosa, em 1940, instalou a Granja Tupi, a primeira com fins comerciais. De 1965 a 1968 funcionou a primeira agência bancária de Bertioga, o Banco Nacional da Lavoura, sendo seu gerente o sr. Coriolano Bazzoni. A Telesp, desde o advento da Cia. Telefônica Brasileira, com o PS-1, em Bertioga, até 1978, manteve a vila com apenas uma dezena de telefones, em precaríssimas condições. A 27 de julho de 1979, inaugurou seu plano de expansão, com DDD e DDI, com capacidade para mais de oitocentos telefones. O 1º subdelegado, no final da década 50, foi Henrique Costábile, e o 1º delegado de carreira, já com a instalação da Delegacia de Polícia de Bertioga, foi o bacharel Rivalino Borges.

No limiar da nova era bertioguense, um casal alemão - Bertha e Germano Besser -, encantado por esse recanto paradisíaco, construiu a maior vivenda da vila, no final dos anos 20, em parte do terreno que fora de João Basílio dos Santos, ao lado do Forte São João da Barra, e nessa data instalou uma ampla pensão turística, com 7 quartos, sala, varanda, que logo se tornou conhecida e preferida, pelas suas peixadas e pelo seu pão de centeio caseiro, feito por dona Bertha.

Com a declaração e guerra do Brasil à Alemanha, Itália e Japão, em 1942, todas as pessoas oriundas desses países foram impedidas de continuar residindo ou trabalhando no litoral e tiveram de se transferir, rapidamente, para o interior. Assim aconteceu com o casal Germano-Bertha Besser, que arrendou sua magnífica casa a Armando Lichti e foram residir em São Paulo, com seus filhos, onde faleceram muitos anos depois. A mansão dos Bessers permaneceu alugada a Armando Lichti até 1949, quando voltou a ser ocupada pelos familiares do casal Bresser. Nessa casa, hoje pertencente a Antonio Domingues, está instalado o Restaurante do Duarte.

Neste mosaico histórico deve ser destacada a Colônia de Férias do Sesc - "Ruy Fonseca" -, inaugurada, em 1948, pelo idealismo e a perseverança de Brasílio Machado Neto. Desde 1946, quando foi iniciada sua construção, passou a ser o maior mercado de trabalho de Bertioga, tanto pelo volume de oferta de empregos, como pelos seus padrões salariais. A colônia sempre teve vida independente da vila, pelos recursos próprios de comunicação, pelo abastecimento direto, pela água e luz próprias, quando Bertioga ainda não as possuía.

De início isolada, distante 4 km da vila - agora urbanisticamente integrada, pois a vila cresceu e se espalhou já além dessa distância -, a Colônia de Férias "Ruy Fonseca" é, realmente, um oásis, pela pureza de seu ar, sem poluição, pela beleza de seus jardins e de seus bosques, pelo "mar, belo mar selvagem" à sua frente - tão cantado nos maravilhosos versos do grande poeta Vicente de Carvalho, em seu sítio Indaiá, no final dessa mesma praia -, por sua magnífica área de esportes e lazer, por suas dependências de recreação social e cultural, por suas acomodações modernas e confortáveis. Indiscutivelmente, a Colônia de Férias "Ruy Fonseca", do Sesc, desempenhou, através dos últimos 37 anos, um papel preponderante no desenvolvimento de Bertioga, de cujo distrito é o segundo mais belo cartão postal, depois do Forte São João da Barra - o majestoso monumento que revive a Bertioga histórica e legendária!