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HISTÓRIAS E LENDAS DE BERTIOGA - HIDRELÉTRICA
O pioneirismo de Itatinga (2)

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Texto publicado na seção Porto & Mar do jornal santista A Tribuna, em 8 de abril de 1979:
 


Placa em Itatinga
Foto publicada com a matéria

Itatinga, obra vital ao Porto de Santos

A Usina Hidrelétrica de Itatinga não é apenas um simples apêndice do Porto de Santos. Quando a Portobrás a encampar, em novembro de 1980, juntamente com os outros equipamentos portuários, receberá, certamente, o verdadeiro centro nevrálgico do porto, fonte de onde emana toda a força que movimenta as instalações e máquinas do complexo sistema. Uma das mais importantes do início do século (N.E.: século XX) (chegou a fornecer energia para São Paulo e, ainda hoje, dispensa parte para a Baixada Santista), a Usina de Itatinga constitui equipamento primordial para o constante e irreversível crescimento do porto de Santos, já o maior da América Latina no movimento de cargas.

O porto de Santos é o único do Brasil que, para movimentar as suas instalações, tem a sua própria hidrelétrica, aproveitando uma queda d'água do Rio Itatinga (N.E.: o porto de Manaus também teve usina de força própria, mas já desativada em meados do século XX).

Construída no sopé da Serra do Mar, no Distrito de Bertioga, foi inaugurada em 10 de outubro de 1910 e, por várias razões, constitui uma obra fantástica. O prédio da usina propriamente dita é um modelo de solidez das construções britânicas do início do século, digno talvez de figurar no nosso patrimônio histórico. Peças de granito, artesanalmente trabalhadas, formam as bases dos cinco alternadores, são simples rodapés ou parapeitos das inúmeras janelas; são peças raras de lavor, importadas da Espanha e de vários países da Europa, ou lapidadas aqui mesmo no Brasil.

Os próprios equipamentos, alternadores Voith de origem alemã, e turbinas norte-americanas da General Electric, mostram a consistência e robustez das máquinas fabricadas no primeiro quartel do século. Com quase 70 anos de uso, as suas robustas placas de aço não mostram o menor desgaste, nenhuma exaustão, nem obsoletismo.

Reformados em 1950 (há quase 30 anos), mantêm um funcionamento adequado, assombrando, ainda, por sua capacidade de trabalho constante.


Por estes fios a energia de Itatinga chega ao terminal santista
Foto publicada com a matéria

A usina - A tomada de água do Rio Itatinga, que nasce no planalto e desce entre as serras para o mar, é feita no alto da cordilheira, por meio de um canal de três quilômetros de comprimento. Em seguida, a água cai para uma valeta coberta, chegando, ainda no alto da montanha, às câmaras de captação.

Daí em diante, o líquido despenca, em velocidade, serra abaixo, por meio de cinco captadores (tubos de 90 centímetros de diâmetro interno) ligados às turbinas. A água chega com um peso de 640 toneladas, aproximadamente, ou 64 quilos por centímetro cúbico, fazendo girar as turbinas, que produzem a energia.

É difícil a descrição de um complexo, em suma, tão simples. A energia é produzida por cinco alternadores de 3 mil quilowatts, ou 22.250 cavalos, totalizando 15 mil quilowatts. E ela chega a Santos, por uma linha de transmissão de 30 quilômetros de comprimento, com dois circuitos trifásicos.

A média de consumo diário de energia do porto é variável, de acordo com o movimento de navios, ou mesmo do tipo dos navios que estão operando. Graneleiros exigem a movimentação de sugadores, esteiras ou semelhantes, equipamentos elétricos, enquanto os de carga geral utilizam apenas os guindastes elétricos.

Já se observou também que no horário do almoço, por exemplo, a demanda de energia é um terço menor do que durante o resto do dia. Isso não altera a produção da hidrelétrica, pois o excesso de energia é automaticamente repassado à Light, que a distribui por suas áreas de atuação.

Tal fato é sobremaneira importante, porque além de proporcionar toda a força e luz utilizada no porto, a usina de Itatinga produz, ainda, lucros para a concessionária.


Jornalistas visitaram a usina em companhia do engenheiro Peterlini
Foto publicada com a matéria

Itatinga - O encarregado geral do setor de Geração e Distribuição de Energia da Companhia Docas, Américo Peterlini, acompanhou os jornalistas que na semana anterior visitaram as instalações de Itatinga. Ao lado das explicações técnicas, sobre o funcionamento do complexo, o engenheiro Peterlini falou sobre a vila, criada pela concessionária em torno da usina.

Em Itatinga vivem hoje cerca de 120 pessoas, entre funcionários da Companhia Docas e seus dependentes. De difícil acesso (fica a 1,40 hora de Santos, de barco, pelo Canal de Bertioga e do Rio Itapanhaú), a vila conta com todos os recursos: centro médico, mercearia, padaria, escola, igreja, cinema e vasta área de lazer e esporte.

Parece ainda, com suas casas de madeira todas iguais e paralelas e a avenida atravessada pela linha do bondinho, que transporta o pessoal da usina ao porto, um centro de civilização avançado do início do século. As casas bem conservadas, as ruas superlimpas e o jardim cuidado e florido envolvem a construção principal, a usina, erguida na extremidade do pequeno vale.

O próprio silêncio é audível, segundo a impressão dos jornalistas, em seus ouvidos afetados pela constante poluição sonora das cidades. E ficam espantados que muitos dos empregados da usina moram há 20 ou 30 anos em Itatinga, ficando, alguns deles, até vários anos sem vir a Santos, ou mesmo a Bertioga.

Administrado pelo engenheiro residente, Itatinga tem uma vila praticamente independente, trabalhando lá longe, para o fornecimento constante de energia para o Porto.

O superintendente de Tráfego da Companhia Docas, Sérgio da Costa Matte, que ao lado do engenheiro Peterlini recepcionou a imprensa nas dependências da usina hidrelétrica, informou que nunca o complexo ficou paralisado completamente. As reformas e manutenções que se sucedem são feitas de modo alternado, de maneira que nunca falte energia às instalações do sistema portuário.


Captada na serra, a água cai, violenta, por estes dutos
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Energia - Por intermédio da linha de transmissão de 30 quilômetros, de dois circuitos trifásicos, a energia de 44 mil volts é recebida em Santos, onde é rebaixada para 6.600 e 11.400 volts e dividida em linhas para 110 e 220 volts, de acordo com as necessidades das instalações portuárias.

Na realidade, ao longo dos seus quase 12 quilômetros de extensão do cais, ou área abrangente de seus armazéns e terminais, é difícil indicar um ponto onde a energia elétrica produzida por Itatinga não seja imprescindível ou vital.

Desde a iluminação dos numerosos pátios, armazéns, escritórios e oficinas, até a simples movimentação de suas máquinas menores, tudo ganha destaque, pelos seus efeitos de progresso. Mais importante que isso, porém, é a movimentação produzida nos notáveis complexos dos terminais especializados, como o de adubos, em Conceiçãozinha; o de sal; o do corredor de exportação, no Armazém 39; e de muitos outros menores, além dos de granéis líquidos, na Ilha Barnabé e na Alemoa.

Centenas de esteiras transportadoras, sugadoras, guindastes de pórtico e embarcadores movimentam-se, dia e noite, acionados pela energia proporcionada por Itatinga - verdadeiro centro nevrálgico do porto - fonte de onde emana a força que empurra para a frente o maior porto da América do Sul.

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