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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1500-1600 (4)

Clique aqui para ir ao índice do primeiro volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 81 a 98 do Tomo I:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 81/tomo I da obra

 

1500-1600

[...]

CLI – Luiz de Brito de Almeida, filho de Simão Caldeira, foi nomeado governador geral do Brasil, para suceder ao infortunado Luiz de Vasconcellos, e tomou posse do governo em 1572. A corte, tendo em conta o rápido aumento da colônia, dividiu-a em dois governos distintos: o do Norte tendo por capital a cidade do Salvador da Bahia, e o do Sul tendo por capital a cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, para a qual nomeou o dr. Antonio Salema, que se achava em Pernambuco.

O limite dos dois governos era ao Sul de Porto Seguro. Esta divisão pouco durou por tornar-se incômoda aos interesses de Portugal, e pelo que em 1576 foi de novo o governo do Sul incorporado à Bahia, vindo ainda Luiz de Brito de Almeida, no fim da sua administração, a governar a colônia em sua totalidade.

Com este governador vindo o jesuíta padre Ignacio de Azevedo e seus companheiros, foram martirizados pelo calvinista francês Jaques Soria, como referirei mais adiante.

Por esse tempo fundou Garcia de Avila Pereira, o velho, para seu neto Francisco Dias de Avila, filho de Izabel de Avila e de Diogo Dias, o morgado da Torre de Garcia de Avila, a doze léguas da capital da Bahia.

CLII – Por alvará de 19 de janeiro de 1572 foi nomeado Gaspar de Freitas moço da câmara de el-rei escrivão da alfândega da Bahia, por seis anos, com mantimento e ordenado que lhe é marcado etc. (M. ined.).

CLIII – Nesse mesmo ano de 1572 o dr. Antonio Salema tomou posse do governo do Rio de Janeiro, em consequência da divisão administrativa do Norte, tendo por capital a cidade da Bahia, e outro do Sul tendo por capital a cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro com jurisdição de Porto Seguro para o Sul. Antonio Salema governou até 1577. (Vide os documentos no meu Brazil Historico de 1864).

CLIV – Estando pronta no Tejo uma armada de quarenta navios de alto bordo, que tinha de seguir destino não conhecido do povo, na qual tinham de embarcar dez mil combatentes, entre eles muitos nobres, comandados por d. Duarte, filho do infante d. Duarte e d. Izabel, sobreveio no dia 13 de setembro tão horrível tempestade no Tejo, que muitos dos navios foram à costa, e outros desaparelhados e inúteis, apesar dos esforços empregados.

CLV – Sua alteza, por alvará passado em Almeirim, de 3 de fevereiro de 1572, em respeito aos serviços de André da Silva de Vasconcellos, seu moço da câmara, o nomeia escrivão da alfândega da cidade do Salvador, Baía de Todos os Santos, por tempo de seis anos, tendo mantimento e ordenado igual aos providos nele, etc. (M. ined.).

CLVI – Christovão de Aguiar D'Altro, depois que levantou o seu engenho d'água, para fabricar açúcar, no lugar de Água de Meninos, então subúrbio da cidade do Salvador, da Bahia, fundou no alto da montanha uma ermida dedicada a Santo Antonio (além do Carmo), fazendo-lhe doação de terrenos para patrimônio, pela escritura pública passada em 1592, pelo tabelião Pedro de Oliveira (vide o meu Brazil Hist.).

CLVII – Não há nota alguma nas crônicas da Bahia a respeito da fundação da igreja de Santo Antonio da Barra da Bahia. Gabriel Soares, que terminou a sua notícia sobre o Brasil antes do 1º de março de 1587, deixa crer ter sido ela ereta por esses tempos; mas, por diligências minhas, pude achar nas provisões reais de 1625 um documento que esclarece a matéria, o qual publicarei em tempo oportuno (vide o meu Brazil Hist.).

CLVIII – Por carta régia de 4 de julho de 1572 foi nomeado Antonio de Faria, escrivão dos contos do reino e casa da cidade do Salvador da Baía de Todos os Santos e mais terras do Brasil, e haverá do seu mantimento e ordenado enquanto servir, cem mil réis em cada ano etc. (M. ined.).

Sua alteza lhe mandou dar quarenta mil réis adiantados, que serão descontados no ordenado etc. (M. ined.).

CLIX – Os descobridores portugueses que aportavam às terras do Brasil vinham com o calendário aberto, e davam o nome do santo ao lugar em cujo dia era descoberto.

16 de agosto – dia de s. Roque (ao cabo de).

28 de agosto – dia de santo Agostinho (ao cabo de).

29 de setembro – dia de s. Miguel (ao rio de S. Miguel nas Alagoas).

30 de setembro – s. Jerônimo (ao rio de) (Itapicuru).

4 de outubro – dia de s. Francisco (ao rio de).

21 de outubro – as Virgens (ao rio das).

13 de dezembro – dia de santa Luzia (rio de), não se sabe qual é o rio assim chamado.

21 de dezembro – dia de s. Tomé (cabo de).

25 de dezembro – dia do Nascimento do Salvador (Baía do Salvador).

1º de janeiro – Rio de Janeiro.

6 de janeiro – dia de Reis (Angra dos).

20 de janeiro – dia de s. Sebastião (ilha de).

22 de janeiro – dia de s. Vicente (rio ou baía de).

CLX – Sua Alteza manda passar em Lisboa no dia 20 de abril de 1572 um alvará a Balthazar Gil, que serviu de almoxarife da alfândega de Tamará, que na dita alfândega despachando Francisco Mendes quarenta e uma peças de escravos conduzidos de S. Tomé na nau S. Sebastião torne a Francisco de Noronha o excesso dos direitos que recebeu, fazendo assento na verba respectiva  (M. ined.).

CLXI - Refere o padre fr. Gaspar da Madre de Deus que, constando a Martim Afonso de Souza, por informações dos índios, a existência de minas de ouro nas vizinhanças da Cananéia, mandou antes de partir para a Europa uma expedição de oitenta homens examinar o sítio, e nada conseguiu, porque foram mortos pelos carijós, senhores do país.

CLXII – Por carta de 30 de agosto de 1572, em respeito aos serviços feitos a rainha e a Sua Alteza houve por bem nomear Duarte de Siqueira, escudeiro fidalgo de sua casa, escrivão da alfândega e almoxarifado da vila de Olinda, capitania de Duarte Coelho, e haverá mantimento e ordenado conforme ao regimento etc. Gabriel de Moura o fez etc. (M. ined.).

CLXIII – O governador Mem de Sá, depois de governar o Estado do Brasil durante catorze anos, nos quais fez relevantíssimos serviços, morre na Bahia em 1572, e jaz sepultado no cruzeiro da igreja do colégio de Jesus, em cuja campa se lê o seu epitáfio como benemérito do mesmo colégio. O epitáfio já se acha um pouco apagado pelo tempo.

CLXIV – Em 12 de setembro de 1572, mandou el-rei por Bartholomeu Fróes passar um alvará, que havendo respeito aos serviços de Salvador Corrêa de Sá, que lhe prestou na capitania da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, com Mem de Sá, do seu conselho, e governador geral que foi, e o deixou governando, lhe apraz fazer mercê do cargo de capitão e governador da dita capitania e cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, por tempo de três anos, com cem mil réis de ordenado, em cada ano, e como é distante o Rio de Janeiro da Bahia, se Lourenço da Neiva, que envia por governador geral entender que lhe deve cometer mais alguma jurisdição, como fez Mem de Sá, o poderá fazer etc. (M. ined.) [8].

CLXV – Por alvará de 19 de outubro de 1572, Sua Alteza, em atenção aos serviços que Simão Ribeiro, moço da câmara da rainha, lhe tem feito, o nomeia escrivão dos contos da cidade do Salvador da Baía de Todos os Santos, e de todas as mais terras do Brasil etc. (M. ined.)

CLXVI – Por alvará passado em Évora em 15 de novembro de 1572, foi nomeado João Gonçalves de Aguiar, morador na cidade do Salvador, tesoureiro de todas as terras do Brasil, por se achar concertado casar com Luiza Doria, filha de Clemencia Doria, criada da rainha, e enteada de Fernão Vaz da Costa, tesoureiro, falecido, e como não casou com a dita Luiza Doria, e esta casou com Martim Carvalho, por lhe pedir a rainha sua avó, o nomeia tesoureiro, por tempo de seis anos, por assim casar com Luiza Doria etc. (M. ined.).

CLXVII – El-rei, por alvará passado por Sebastião da Costa em Lisboa em dezembro de 1572, para que se restitua a Francisco Mendes e Garcez Mendes, moradores na cidade do Porto, os noventa e um mil réis que pagaram na alfândega da vila de Olinda, capitania de Pernambuco, de direitos de quarenta e oito peças de escravos machos e fêmeas, que levaram da ilha de S. Thomé, por serem na alfândega constrangidos a isto, não tendo obrigação de pagarem lá a dízima de tais escravos etc. (M. ined.).

CLXVIII – Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário, filho de Duarte Coelho, e que nasceu em Olinda, a 23 de abril de 1539, chega a Pernambuco e toma conta do governo da capitania, e cuida da prosperidade dela; mas querendo retirar-se para Portugal, no dia 5 de março de 1576, entrega a administração a seu tio Jeronymo de Albuquerque.

CLXIX – Em 5 de setembro de 1573 a capitania da Bahia é incorporada à coroa, por contrato desta data, ficando o proprietário Manoel Pereira Coutinho, filho do alcaide-mor de Santarém Affonso Pereira e de sua mulher d. Catharina Coutinho, com a pensão anual de quatrocentos mil réis, com caráter de morgado.

CLXX – Durante o governo de Thomé de Souza os colonos fizeram diligências para descobrir minas de ouro e diamantes entre o território de Minas Gerais e o do Espírito Santo. Sebastião Tourinho, morador em Porto Seguro em 1572, subindo pelo Rio Doce, se adiantou muito e desceu pelo Jequitinhonha até a costa do mar, e nesta excursão descobriu o território de Minas Gerais; mas a governando Luiz de Brito, mandou el-rei que empregasse toda a sua solicitude na descoberta das minas de ouro, e sendo este cometimento feito a Antonio Dias Adorno, a Marcos de Azevedo e Diogo Martins, se internaram e descobriram grande quantidade de esmeraldas e safiras, e logo depois descobriram diamantes.

Antonio Rodrigues, natural de Taubaté, se internou pelos sertões em 1593 em busca de minas de ouro; e Bento Miguel de Almeida com Manoel Garcia no ano seguinte de 1595, percorrendo os territórios de S. João de El-Rei, Sabará e Vila Rica, voltando com muitas riquezas, animaram aos aventureiros a povoarem o vasto território de Minas Gerais.

Azevedo explorou minas de prata, que não as quis mostrar; Fernando Dias Paes Leme faz caminho entre o Rio de Janeiro e S. Paulo. Thomaz Lopes de Camargo, Francisco Bueno da Silva e Antonio Dias descobrem as minas de Ouro Preto, sendo Arzão Rodrigues o primeiro que achou e apanhou ouro em Minas Gerais. Domingos Jorge e Domingos Affonso penetram até ao Piauí e aí fundam estabelecimentos.

CLXXI – O célebre Diogo de Castro, em um roteiro que fez de toda a costa do Brasil e seu sertão, cujo trabalho se conserva inédito, e que estava em poder do cônego José da Fonseca, guarda do arquivo da casa de Bragança, e muito indagador de antiguidades, diz que os limites legais do Brasil, pelo lado do Sul, se terminam na Baía de S. Mathias (cento e setenta léguas) para Oeste do Rio da Prata, aonde está, se o não arrancaram, o marco com as armas de Portugal.

Este documento, que é comprovado com outro roteiro, que no tempo da união das coroas portuguesa e espanhola deu Francisco da Cunha a d. Christovão de Moura, no qual se fez menção de toda costa que nos pertence na América do Sul, em virtude do meridiano, e diz que na Baía de S. Mathias se acaba a repartição de Portugal, por ali estar o marco visto e reconhecido por ele Francisco da Cunha (Brazil Historico).

CLXXII – Por alvará passado por Simão Pinheiro em Almeirim no dia 12 de dezembro de 1573 fez el-rei mercê a d. Francisco de Menezes, fidalgo de sua casa, de mandar tirar dois mil quintais de pau-brasil nos anos de 1574 e 1575, comprados a seu dinheiro etc. (M. ined.). A esta alvará acompanham três apostilas.

CLXXIII – No dia 11 de setembro de 1573 Manoel de Brito e seu filho Diogo de Brito de Lacerda pedem por sesmaria o terreno da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, desde o morro de S. Bento, Vargem, até o morro da Conceição.

CLXXIV – Sebastião Fernandes Tourinho sai de Porto Seguro; e subindo o Rio Doce em busca de minas e metais preciosos, descobre grande parte do território hoje ocupado pela província de Minas Gerais.

CLXXV – Por esse tempo funda Garcia de Avila Pereira, o velho, para seu neto Francisco Dias de Avila, filho de d. Izabel de Avila e de Diogo Dias, o morgado da Torre de Garcia de Avila, na capitania da Bahia.

CLXXVI – Gabriel Soares diz que d. Sebastião, informado da necessidade de se fortificar a costa entre a Bahia e Pernambuco por causa dos franceses, ordenou mui positivamente a Luiz de Brito, governador geral, que mandasse povoar o Rio Real, e este governador para cumprir a ordem régia mandou Garcia de Avilla, com muitos homens das ilhas e da terra, assentar uma povoação, o que se fez a três léguas pelo rio acima, onde o mesmo governador foi em pessoa, com a força de gente que havia na Bahia, dar guerra ao gentio de Sergipe, de cuja povoação ele e todos se descontentaram por causa do sítio, por ficar longe do mar, e dos recursos das provisões. Esta povoação primitiva se despovoou logo.

CLXXVII – D. Antonio Barreiros, presbítero e prior da ordem de Aviz, chegou à Bahia no dia da Ascensão do Senhor, de 1576, e governou também no temporal, como o procurador-mor Christovão de Barros, por morte do governador Manoel Telles Barreto, por virem nomeados nas vias de sucessão, que mandou Felipe II de Castela e I de Portugal.

Estando em Pernambuco, em visita, no ano de 1586, para onde tinham chegado de Portugal a 12 de abril de 1585 os primeiros religiosos menores reformados, a fim de fundarem uma custódia no Brasil (a instâncias de Jorge de Albuquerque Coelho Pereira), dali levou consigo dois daqueles religiosos, fr. Belchior de Santa Catharina, que tinha vindo por comissário, e seu companheiro, chegando à Bahia em princípios de janeiro de 1587, sendo governador geral Manoel Telles Barreto; e nos fins do dito ano deram começo à fundação do convento de S. Francisco, no mesmo lugar onde existe hoje, dando o dito bispo duzentos cruzados para a compra do terreno para se fundar o convento, que foi o segundo que teve a ordem seráfica no Brasil, sendo o primeiro o de Nossa Senhora das Neves, em Olinda.

Foi em tempo deste bispo que sucedeu o caso maravilhoso da imagem de Santo Antonio, depois chamado de Arguim, cuja história será mencionada quando tratarmos do convento de S. Francisco da Bahia, e que é referida pela tradição e pelos escritores, particularmente por Jaboatão.

D. Antonio Barreiros conferiu ordens sacras a fr. Cosme de S. Damião.

Este bispo faleceu a 11 de março de 1600, foi sepultado na capela-mor do colégio dos jesuítas. Fez testamento e foram seus testamenteiros o deão Pedro de Campos, o chantre Jorge de Pina, e o cura da Sé o licenciado Manoel Rodrigues.

CLXXVIII – Por alvará de 5 de janeiro de 1574 el-rei confirmou a doação de cinco mil braças de terras que foram dadas a Bento Dias Santiago, na capitania de Tamaracá, com a obrigação de fazer nelas dentro em cinco anos um engenho de açúcar, como na doação está declarado, o qual engenho ele até ora não fez, em vista das razões novamente apresentadas, e o consentimento dado por d. Jeronymo de Albuquerque, cuja dita capitania é, lhe apraz de lhe reformar a dita carta de sesmaria, assim e da maneira que se contém na dita carta, não obstante se ter passado os ditos cinco anos etc. (M. ined.).

CLXXIX – O dr. Antonio Salema, ouvidor de Pernambuco, foi nomeado governador do Rio de Janeiro em substituição a Christovão de Barros: no seu governo promoveu o incremento da cidade; concedeu muitas sesmarias dentro e fora do perímetro da cidade aos moradores dela; e por ordem de el-rei fundou o engenho na Lagoa, que ficou conhecido por Engenho de El-Rei, e depois Engenho de Nossa Senhora da Cabeça, para livrar o seu governo dos ataques dos tamoios e tupinambás, aliados dos franceses, que se achavam em Cabo Frio, Macaé e Campos; mandou a Christovão de Barros à frente de quatrocentos portugueses e setecentos índios expulsá-los dali, e os que escaparam à morte fugiram para o interior, sendo guiados pelo chefe Japiassú, empreenderam longa viagem até as margens dos rios Mamoré ou Madeira, ficando a costa desinfestada de selvagens.

CLXXX – A cidade das Alagoas é um dos mais antigos povoados do Brasil, porque Duarte Coelho Pereira, donatário de Pernambuco, depois que fundou a vila de Olinda, junto à aldeia de Morin, e fez pazes com os índios caetés, saiu com várias embarcações e gente suficiente a correr a costa do Sul até o Rio de S. Francisco, a fim de botar para fora os franceses, que negociavam com os gentios, e entrando na barra de Porto Calvo, subiu pelo Rio Manguabaça, seis léguas da foz, e deixou gente para núcleo de povoação.

Seguindo mais para o Sul, chegou à barra do Jaraguá, e examinando as localidades, achou a embocadura de um rio, e entrou por ele, e descobriu dentro duas lagoas, uma ao Norte, e a outra ao Sul, onde pela formosura e amenidade das localidades deixou algumas pessoas para se estabelecerem aí. Duarte Coelho Pereira, animado pela bondade dos lugares que tinha encontrado, segue para o Sul, e entrando pelo Rio de S. Francisco na distância de oito léguas, acima da foz, junto a um penedo, que viu, deixou vários indivíduos para fundarem a povoação.

São muito obscuras as notícias do primitivo passado das Alagoas, e por mais diligência que fiz sobre a primitiva fundação, nada pude obter mais que notícias vagas e tradicionais. O que posso com certeza afirmar, por estar escrito e dizê-lo fr. Antonio de Santa Maria Jaboatão, na crônica da sua ordem, é que em 5 de agosto de 1591 já as Alagoas eram povoadas, e os seus moradores pediam ao governador de Pernambuco permissão para levantar pelourinho, símbolo de vila; e isto se prova porque Pedro Homem de Castro, sobrinho e procurador do donatário de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho, concedeu a Diogo de Mello e Castro cinco léguas de território (três ao Sul e duas ao Norte) ao longo da costa, tomando por ponto de partida a barra da Lagoa Mangoaba, com sete léguas de sertão.

Creio que esta concessão foi feita entre os anos de 1579 a 1580. A primitiva povoação das Alagoas foi em um outeiro conhecido ali por Outeiro da guerra, e como o riacho que o circula não satisfazia as necessidades da povoação, em breve mudaram-na para o lugar onde hoje está a velha cidade das Alagoas, circulada pelo Rio Utinga e cortada por três braços do Rio Subaúma.

Nas Memorias Diarias da Guerra do Brasil, que extraí e publiquei, escritas pelo conde de Pernambuco e marquês de Bastos, se vê que no dia 23 de abril de 1636 foram elevadas à categoria de vilas as povoações de Porto Calvo, Alagoas e Penedo.

Das transações que houveram nos terrenos das Alagoas em seus tempos primitivos, nada sei de positivo, porque eu possuo um terreno, no lugar chamado Tijuco, que pertenceu aos meus avós, muito anterior á guerra dos holandeses.

Na primeira série do meu Brazil Historico n. 16, de domingo 24 de abril de 1864, falando da Alagoas antiga, transcrevi a escritura de confirmação de meia légua de terra, que fez Diogo Soares da Cunha, e confirmada por seu filho Gabriel Soares, alcaide-mor da vila das Alagoas, de seiscentas braças para a parte da Subaúma e Taperaguá, e as outras seiscentas braças para a parte da pedreira ou Outeiro da guerra.

Por este documento suponho ter sido Diogo Soares da Cunha o encarregado por Mathias de Albuquerque a dar a povoação das Alagoas o caráter de vila de Santa Maria Magdalena da lagoa do Sul.

Era tradição em meus antepassados que Manoel Barboza Corrêa de Araujo, e seus dois irmãos, naturais de Ponte de Lima, em Portugal, e que vieram com Duarte Coelho Pereira, se afazendara com sua mulher Violanta de Sá, nas Alagoas, e fundaram os engenhos Terra Nova, por vir de terra velha e Mija Vilha. O que sei de real é que nas imediações de Terra Nova, Atalaia, Cágado e Povoação da capela vivem os descendentes desses primitivos povoadores Barbozas Corrêa de Araujo.

Os dois irmãos, passando-se para a Bahia, casaram Francisco de Araujo com Maria Dias, e Balthazar Barboza de Araujo casou com Catharina Alvares, filhas de Vicente Dias de Bêja e de Genebra Alvares, filhas de Diogo Alvares Corrêa, Caramuru, e de Catharina Alves Paraguassu (vide  a H. g. dos F. B.).

CLXXXI – El-rei dom Sebastião, receoso dos franceses se situarem e fortificarem no Rio Paraíba, conhecido nas cartas de marear pelo nome de S. Domingos, mandou ao governador Luiz de Brito de Almeida fosse ver e escolher sítio, para fundar-se uma povoação, e por ele não poder ir em pessoa, mandou o dr. Fernão da Silva, ouvidor geral, e provedor-mor da fazenda, a Pernambuco, com todo o poder e gente de pé, e a cavalo, com muitos índios em 1574, para castigar os pitaguares e caetés que haviam assolado o engenho de Diogo Dias, lavrador muito rico, situado na margem do Rio Recunzaem, três léguas do de Paraíba ou S. Domingos, e os batendo voltou para a Bahia, e de tudo informou ao governador; e este, em virtude da ordem de el-rei, mandou aprontar uma armada de doze velas, com toda a gente que pôde ajuntar, levando toda a nobreza da cidade, oficiais de justiça e fazenda, e tudo o mais necessário, e partindo em setembro de 1575, encontrando temporais, ao cabo de poucos dias, voltou à Bahia com alguns navios; mas Bernardo Pimentel de Almeida, seu sobrinho, que ia por capitão-mor do mar, com outro navio, chegou a Pernambuco, e como o tio não aparecesse, voltou também à Bahia, onde o encontrou desgostoso pelo malogro da expedição e perda dos cabedais reais empregados. Depois d. Diogo Lourenço da Veiga, governador geral, desejando prosseguir na empresa, mandando ao ouvidor geral, e Christovão de Barros, provedor-mor da fazenda, estes encarregando a Cosme Rangel a conquista da Paraíba, depois de muitos ataques nada conseguiu.

Indo João Tavares fundar um presídio na Ilha Camboa, situada no meio do Rio Paraíba, foi depois mudado para o lugar do Cabedelo, na embocadura do rio.

CLXXXII – Em provisão de 14 de fevereiro de 1575, manda el-rei aos governadores do Brasil que, por esmola aos padres da Companhia de Jesus, que residem no Brasil, que forem visitar as províncias, que é de três em três anos, dêem passagem e mantimento à custa da fazenda real etc. (M. ined.).

CLXXXIII – Fr. Pedro Palacios, natural do Rio Seco, na Espanha, e fundador do convento da Penha, da capitania do Espírito Santo, faleceu no mesmo convento no dia 2 de maio de 1575. Fr. Pedro Palacios foi religioso, modesto e de virtudes.

CLXXXIV – D. Brites de Albuquerque, mulher de Duarte Coelho Pereira, donatário de Pernambuco, e filha de d. Lopo de Albuquerque, e de d. Joanna Bulhões da Cunha, faleceu em Olinda no ano de 1573.

CLXXXV – Em consequência de chuvas torrenciais que sem interrupção caíram durante um mês, foi a cidade de Lisboa inundada, no dia 30 de outubro de 1575, causando aos moradores grandes prejuízos.

CLXXXVI – Martim Afonso de Souza, antes chamado Ararygboia (cobra feroz), chefe supremo dos tamoios Trimimino, que veio com Mem de Sá da capitania do Espírito Santo, se constituiu amigo fiel e devotado dos portugueses, e com a sua indiada foi o terror dos franceses e de seus aliados tamoios.

Os seus serviços foram premiados por el-rei de Portugal, mandando-lhe a patente de capitão-mor, com o soldo de doze mil réis mensais e o hábito de Cristo. Concedeu-se-lhe uma légua de terras com duas de sertão onde ele e sua tribo fundaram suas aldeias, sendo a sede delas o lugar de S. Lourenço em Niterói. O intrépido Martim Afonso de Souza (Ararygboya), assim honrado por seus atos de heroísmo, e vivendo tranquilo na sua aldeia de S. Lourenço, teve um fim desastrado, morrendo afogado no canal, que o mar forma entre a Ilha do Mocanguê e a Armação, quase fronteira a Ponta da Areia, onde os ventos desencontrados, muitas vezes, tornam esse lugar muito arriscado.

Não se sabe o dia, mês e ano em que faleceu Martin Afonso de Souza, porque as crônicas antigas não o dizem, e por isso, confrontando os sucessos do tempo, coloquei o desastre entre os anos de 1575 e 1578 (vide o tomo 5 da minha Corographia Hist. Pág. 245 e 246, e Santa Rita Durão, Caramuru, canto 8).

CLXXXVII – Por alvará de 10 de novembro de 1575 determinou el-rei que Antonio Ribeiro, seu moço da câmara, que serviu o cargo de almoxarife do almoxarifado da alfândega de Pernambuco, por casar com d. Maria Pereira, uma das órfãs, que iam em companhia de d. Luiz Fernandes, para casarem nas ditas partes do Brasil, e a promessa que lhe fizeram em nome de sua alteza, de o promoverem nas ditas partes em algum cargo, há por bem que depois que ele servir o tempo, e der conta, continue a servir o mesmo cargo, por mais três anos, com o mantimento e ordenado que lhe compete etc. (M. ined.).

CLVXXXIII – El-rei d. Sebastião, em 20 de novembro de 1575, envia ao governador geral uma provisão ordenando-lhe que os índios e índias cristãos não tenham ocasião de se distrair da cristandade, e nem desamparar suas roças e fazendas, e proveja em proveito dos mesmos índios em tudo o que estiver a seu alcance. (M. ined.).

CLXXXIX – O governador Antonio Salema manda, por Christovão de Barros, bater os franceses, tamoios e tupinambás, em Cabo Frio, o que efetivamente aconteceu, fugindo os franceses que escaparam aos combates, e os índios que não morreram se internaram para os sertões de Minas Gerais e outros lugares.

CXC – Em 20 de novembro de 1575 o jesuíta Ignacio de Tholosa faz uma extensa exposição a respeito dos trabalhos apostólicos do padre Gaspar Lourenço e um irmão no Rio Real, onde foram bem recebidos dos índios, e fizeram a igreja de S. Thomé, e mais adiante a igreja de Nossa Senhora da Esperança, e outra de Santo Ignacio, na aldeia Curubi, que era a principal.

Daí passou o padre Gaspar Lourenço a Sirigi (Sergipe) e pacificou as aldeias que estavam revoltas e fez a igreja de S. Paulo, dando de tudo conta a Mem de Sá. Refere na sua longa exposição as desordens praticadas pelos índios, que foram escravizados, no tempo da fome, por não saberem o que era a condição de escravo, e por isso se rebelaram com os de Japace (Passi), Paranameirim e outras fazendas, matando muitos portugueses e fugindo para o sertão. Na sua longa exposição, o padre conta o sucedido em outros lugares do Brasil, em relação aos índios. (M. ined.).

CXCI – Em 7 de dezembro de 1575 dá el-rei consentimento a Sebastião de Lucena, procurador da cidade de Lisboa, para renunciar em uma pessoa que se casar com sua filha, o ofício de feitor e almoxarife da feitoria e almoxarifado de todas as setenta léguas de terras de Pernambuco, de que lhe fez mercê em 1569 etc. (M. ined.).

CXCII – Sua alteza em 23 de dezembro de 1575 manda fornecer de ornamentos as nove igrejas dos índios cristãos, nas partes do Brasil, dando por esmolas duzentos mil réis para serem comprados, determinando a Bento Dias Santiago que os pague ao procurador dos padres da Companhia de Jesus etc. (M. ined.).

CXCIII – Tomé de Souza esteve no governo da Bahia até o mês de julho de 1553; e chegando a Lisboa onde foi nomeado vedor da casa real e da fazenda e teve outras mercês pelo seu bom governo.

CXCIV – D. Duarte, depois de governar quase cinco anos a Bahia, retirando-se para Lisboa em 1558, foi ocupar o lugar de armeiro-mor e presidente da Câmara de Lisboa.

CXCV – Mem de Sá governou o Brasil durante quatorze anos, e viveu em guerras com os índios e com os franceses, mandou fazer aldeias, promoveu o aumento da agricultura na Bahia, e foi quem fundou a cidade do Rio de Janeiro, capital do Império, em 1567. Faleceu na Bahia e está sepultado no meio do arco cruzeiro da igreja, dos jesuítas em 1572. Para lhe suceder ainda em vida foi nomeado Luiz de Vasconcellos, o qual morreu em 1570 em combate no mar, com os piratas calvinistas franceses, antes de chegar à Bahia.

CXCVI – Luiz de Brito de Almeida, tomando conta do governo geral em 1572, governou até 1577. Moveu guerra aos índios e promoveu as missões.

CXCVII – As entradas pelos sertões, para a conquista e cativeiro dos índios, mostrando aos conquistadores a existência de abundantes minas de ouro, prata, pedras preciosas, e outros minerais estimados, voltando-se eles para a mineração dessas preciosidades, procuram extraí-las, e pelo que antes de 1578 trabalhava-se nas minas de ouro de Paranaguá, da qual era superintendente Salvador Corrêa de Sá (o velho), e a quem foi dado regimento no dia 4 de novembro de 1613; cujas minas e as de S. Paulo foram dadas aos seus moradores pelo alvará de 8 de agosto de 1618. Affonso Sardinha, morador em Jaraguá, foi o descobridor das minas de prata em 1590, e levantou fundição no vale das Furnas, de que deu conta a d. Francisco de Souza em 1599.

CXCVIII – El-rei d. Sebastião em 4 de janeiro de 1576 faz mercê, por esmola, aos provinciais, reitores e padres da Companhia de Jesus, das partes do Brasil, para a fábrica dos três colégios que têm, de quinhentos cruzados cada ano, por tempo de dez anos, que se começarão do 1º de janeiro deste ano de 1576 em  diante, aos quais serão pagos na alfândega da vila de Olinda, capitania de Pernambuco, pelo rendimento dos cinquenta réis por arroba, que se arrecadar dos açúcares e algodões etc. (M. ined.).

CXCIX – Jeronymo de Albuquerque, cunhado de Duarte Coelho Pereira e tio do segundo e terceiro donatários, tomou conta do governo de Pernambuco em 5 de março de 1576, e governou até 1584 em que faleceu, assumindo o governo da capitania o licenciado Simão Rodrigues Cardoso, seu lugar-tenente. Durante o governo de Jeronymo de Albuquerque fundou-se o colégio dos jesuítas, e lançaram-se em 1577 os fundamentos da capitania da Paraíba do Norte.

CC – Antonio Barreiros, prior da ordem de Aviz, terceiro bispo da Bahia, chega àquela cidade no dia da Ascensão do Senhor do ano de 1576. Foi no seu governo que se criou a prelazia do Rio de Janeiro, sendo o seu primeiro prelado o padre Bartholomeu Simões Pereira, nomeado por carta régia de 11 de maio de 1577. Sendo muito instruído e zeloso, por morte do governador geral Manuel Telles Barreto, que em 1587 tomou conta do governo civil, conjuntamente com o provedor-mor Christovão de Barros; e como adoecesse gravemente faleceu no mesmo ano, sendo sepultado na capela-mor da igreja dos jesuítas da Bahia.

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[8] Esta carta patente e as demais estão lavradas extensamente, e as não transcrevo em sua íntegra por não haver espaço nesta crônica.