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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/19/09 21:10:09

 

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NOTÍCIAS 2009

O seio da questão

Mario Persona [*]

Uma jovem leitora escreveu dizendo que admira meu trabalho. Emocionei-me, pois não é todo dia que 30% de meus leitores escrevem para expressar tal admiração. No email ela dizia: "Quero ser como você, só que com seios". O que respondi?

Prezada M.,

Recebi seu email dizendo que quer aprender comigo e ser igual a mim, só que com seios. Neste caso tenho uma boa notícia: em minha atual pouca forma física e excesso de gordura sob a pele, considere que parte de sua meta já foi alcançada.

Todavia, se você quiser ser também uma profissional do conhecimento, sua verdadeira meta deve estar bem acima dos seios. Não, um pouco mais. Aí ainda são os seios nasais.

Mas, deixando os seios de lado, não sou lá tudo isso que você imagina. Vi que ficou impressionada com meus textos, e eles realmente se impõem pelo volume de conhecimento. Mas devo confessar que ele é, em grande parte, postiço. Por falar nisso, o Google aqui ao meu lado pediu para lhe enviar um abraço.

Eu não seria o que sou sem as empresas implantadas no Silicon Valley, que já vi erroneamente traduzido como "Vale do Silicone". Antes da era Internet eu era apenas um aspirante a escritor catando milho numa máquina de escrever portátil. Se quisesse buscar alguma informação era preciso achar o livro e a página, o que às vezes podia levar horas.

Agora pense em você, que já nasceu no regaço do videogame, cresceu nos braços do computador pessoal e foi amamentada pela Web. Na sua idade eu só via videogame nos fliperamas e usava a rede para dormir. Distração em casa era ler, jogar palito, ou fazer palavras cruzadas, passatempo que conservo até hoje. Eu sei que os médicos indicam palavras cruzadas para quem já passou dos cinquenta, mas eu faço assim mesmo.

É claro que a formação eclética que tive e as diferentes atividades que exerci foram de grande utilidade para minha carreira atual. Se na época elas não ajudaram a ganhar dinheiro, ao menos contribuíram para a coleção de histórias que conto em minhas palestras. E você disse que é exatamente este o seu sonho: ser palestrante.

A maioria dos palestrantes que você vê por aí jamais sonhou com isso, mesmo porque há alguns anos fazer palestras não era profissão. Hoje vivo praticamente de minhas palestras e treinamentos, mas nem nos meus sonhos mais pirados eu teria pensado numa profissão assim. Agora imagine as atividades que ainda poderão surgir, com as quais você nem sonhou!

É importante você ficar atenta às possibilidades e oportunidades e, a partir daí, estabelecer um foco e se apegar a ele. Nelson Mandela me disse que deve ser assim. Não que ele tenha dito isso a mim, com quem nunca falou, mas foi basicamente a idéia que o susteve ao longo dos 27 anos em que esteve preso.

Durante todo aquele tempo ele nunca perdeu seu foco, fazendo da prisão uma universidade que ele e seus amigos chamavam de "Robben Island University". Nos livros, ele escrutinava o conhecimento; no contato com os guardas brancos, o comportamento. Foi essa soma que o deixou afiado no modo de pensar do adversário, para mais tarde negociar com seus opositores.

Além disso Mandela não só mantinha o foco e seguia à risca seu propósito de transformar suas circunstâncias em tempo de aprendizagem, como também insistia com cada prisioneiro que chegava à ilha: "Um dia teremos de dirigir este país. Vamos aproveitar o tempo aqui para nos prepararmos".

O que ele não esperava era que, no intervalo entre sua saída da "universidade-prisão" em 1990, e sua eleição como presidente da África do Sul em 1994, Mandela ainda teria de fazer um curso de pós-graduação em "Decepções Domésticas". Sua esposa Winnie, antes companheira de uma mesma causa, havia perdido o foco. E foi com profunda tristeza que Mandela descobriu que o seio de sua esposa tinha sido dado a outro.

[*] Mario Persona  é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing.