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NOTÍCIAS 2003

Estas são as suas vidas

Mário Persona (*)
Colaborador

Você já ouviu falar do e-book, tão proclamado, tão discutido, tão pouco lido. Até agora as tentativas de se passar para o digital o que era impresso funcionou bem para textos de pesquisa, como enciclopédias e dicionários, coisas que não costumamos levar para ler no banheiro. Mas as tentativas não pararam aí.

Há quem tente fazer do livro um trabalho interativo, um concerto de quatro a quatrocentas mãos. Alguém começa e outros continuam, numa seqüência que raramente chega ao fim. Dos livros que encontrei na Internet, a maioria permanece em estado de hibernação. Seus leitores também.

Stephen King foi um que horrorizou o mercado com a idéia de um livro escrito em doses homeopáticas e adquirido pouco a pouco. Quando as vendas atingiam um determinado valor, ele escrevia mais um capítulo, como se estivesse contando histórias em telefone desses de fichas. Da última vez que tentei ligar para o livro só dava "tu-tu-tu-tu...".

Do lado de baixo do Equador o escritor Mário Prata também enviou suas letras para as páginas virtuais. O romance on-line intitulado Os anjos de Badaró permitiu que o público acompanhasse, durante seis meses, o trabalho de criação. Depois os anjos voaram impressos para as livrarias.

Roy Williams não escreve exatamente um livro on-line, mas crônicas de publicidade semanais enviadas em um boletim eletrônico. Depois, selecionadas, reunidas e editadas, se transformam em volumes repletos da sapiência do Mago da Publicidade, apelido quase sempre presente em seus títulos.

Eu mesmo utilizei esta fórmula em meus livros Crônicas de uma Internet de Verão, Receitas de Grandes Negócios e Gestão de Mudanças em Tempos de Oportunidades. A continuação da série que tem feito enorme sucesso aqui em casa traz o título de Marketing Tutti-Frutti.

Os livros de Luís Fernando Veríssimo, que teimam em ficar nas primeiras posições na lista dos mais vendidos, também são coletâneas de crônicas publicadas na imprensa. Quase iguais aos meus livros, a similaridade está em também serem feitos de papel. A diferença? Bem, ele é o Veríssimo, filho do Érico e tudo mais, eu não. Mas minha mãe diz gostar mais das minhas crônicas.

Será que existe alguma outra maneira de se escrever um livro usando a Internet? Sim, uma que ajuda a turbinar a inspiração. Descobri isso em um debate envolvendo algumas centenas de pessoas que, durante uma semana, me bombardearam com perguntas sobre o tema de meu livro, Gestão de Mudanças. Para responder à demanda, em cinco dias úteis gerei um volume de textos quase igual ao número de laudas do livro citado.

Este modo de escrever tem tudo a ver com o próprio cenário de mudanças no qual tentamos nos equilibrar. A velocidade do mercado exige que profissionais e empresas reajam rapidamente, movidos pelos estímulos que chegam a cada minuto principalmente via Internet. É assim para quem vende, é assim para quem fabrica, e deve ser assim para quem trabalha.

Normalmente caímos na vida profissional trazendo uma formação acadêmica baseada num mercado que era, ou que a universidade espera que seja. Acabamos nos sentindo desclassificados ao ler os classificados. Saímos de uma escola que avaliava nossa capacidade de resolver problemas segundo suas respostas de gabarito, para atuar num mercado que só nos dá os problemas e nenhum gabarito. As respostas? É para encontrá-las que somos contratados.

Para um contato maior com a realidade, nossos mestres apresentavam casos de empresas centenárias que, descobrimos depois, já não são referência na absorção de novos profissionais. Até sua identidade corporativa ficou abalada, tantas foram as fusões, alianças e terceirizações. Seus funcionários vivem trocando de empresa sem sequer saírem da mesa.

Aí descobrimos que já não basta um aspirante a profissional se formar. É preciso se transformar, continuamente, estimulado pela demanda de soluções para as questões formuladas pelo mercado. Como as que iam chegando em minha caixa postal, enquanto eu tentava responder e equilibrar, com todas as outras mãos, os pratos que giravam nas varetas das minhas diversas atividades. Que agora ganha mais uma.

A de escrever um livro com o material que pretendo gerar num grupo de estudos mais extenso, a seqüência daquele debate. Durante seis semanas estarei interagindo com dezenas de pessoas que vivem, perplexas, dentro de um videogame profissional passando constantemente de fase.

Nesse ambiente de mudanças precisam gerenciar mais de uma vida profissional, evitar ameaças e agarrar oportunidades. Ainda não pensei num título para o livro que resultar disso. Estas são as suas vidas? Talvez. Porque na carreira, como no videogame, precisamos acumular vidas extras para manter em alta nossa empregabilidade.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante, além de autor dos livros Crônicas de uma Internet de verão, Receitas de grandes negócios e Gestão de mudanças em tempos de oportunidades. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.