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NOTÍCIAS 2002

ALCA, por que não

José Pascoal Vaz (*)
Colaborador

Na Semana da Pátria, será realizado o Plebiscito Nacional da ALCA. Serão três as perguntas a serem respondidas simplesmente com sim ou não:

1) O governo brasileiro deve assinar o tratado da ALCA?

2) O governo brasileiro deve continuar participando das negociações da ALCA?

3) O governo brasileiro deve entregar parte de nosso território – a base de Alcântara – para controle militar dos EUA?

ALCA significa Área de Livre Comércio das Américas. Ou seja, implantada a ALCA, os países comercializariam seus produtos sem restrições. Não haveria barreiras entre eles. Um produtor americano venderia seus produtos diretamente no Brasil e vice-versa. Seria tudo uma questão de competitividade. Os mais aptos sobreviveriam, com o que ganhariam todos.

Esse é o discurso, já antiético em si, pois todos devem sobreviver, e bem, independentemente de seu poder de competir. Hoje já existe a ALCAN – Área de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, em inglês), reunindo Estados Unidos, Canadá e México. A idéia propagada pelos Estados Unidos é a de se caminhar para uma União Americana, a exemplo da UE - União Européia.

Se a UE vem funcionando bem, por que então ser contra a ALCA? A resposta é que a UE é o resultado de mais de cinqüenta anos de negociações. E, ainda hoje, vários países se negam a participar; a Inglaterra, por exemplo. Estes países argumentam que têm características importantes que deixariam de preservar caso aderissem à UE sob suas regras vigentes.

Mesmo entre os quinze países que atualmente compõem a UE, alguns só aderiram - caso de Portugal - depois de criado um imenso fundo de recursos dos países mais ricos a ser aplicado por vários anos nos países menos competitivos. E, ainda assim, há em Portugal quem se preocupe muito com o que vai acontecer depois que esse fundo secar. Dizem que sua agricultura, em geral menos competitiva, estaria sendo desestimulada em favor de produtores agrícolas de outros países da UE. Hoje, a comida chega mais barata em Portugal, mas e depois?

Diferenças - O ponto central da questão é a diferença de poder de competição e a diferença de objetivos. Não se trata de ser simplesmente contra negociações, mas contra negociações que não respeitam as condições e os interesses do Brasil e dos outros países da América Latina.

Nossos interesses são muito diferentes daqueles dos Estados Unidos e Canadá, pois temos uma Nação a construir, uma vergonhosa desigualdade social a combater. E nossas condições de competitividade são muito inferiores às deles. Além disso, o governo atual dos Estados Unidos tem se revelado autêntico troglodita, ao praticar e fomentar guerras e se negar a assinar acordos de interesse da Humanidade.

Boxe - O Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães costuma perguntar o que aconteceria com Popó se lutasse com Mike Tyson. Em pesquisa que fiz há tempos, encontrei que o primeiro regulamento de boxe é de 1743, portanto trinta e três anos antes da publicação do famoso livro A Riqueza das Nações, do economista Adam Smith, que começou a dar contornos mais nítidos às teorias capitalistas.

Ou seja, no esporte símbolo do capitalismo selvagem já se percebera, há duzentos e sessenta anos, que não é possível deixar indivíduos tão desiguais lutando entre si. Ao invés de propugnar por uma “ALBX – Associação de Livre Boxe”, fizeram exatamente o contrário. Criaram faixas de peso dos lutadores, número de rounds e tipos de luvas diferenciados etc., para que aquele esporte tivesse alguma graça - se engraçado é ver pessoas se esmurrando. Já então entendiam que a competição exige um mínimo de igualdade de condições entre os competidores. Hoje, quase todos os esportes são divididos em categorias.

A diferença de poder competitivo entre os Estados Unidos e os países da América Latina é maior do que entre Tyson e Popó. A base de Alcântara, que o governo FHC permitiu fosse instalada no Maranhão, é o braço militar que os Estados Unidos esperam perpetuar para garantir a anexação da América Latina, o verdadeiro objetivo da ALCA. Por tais motivos e muitos outros que não cabem neste artigo, é que minha resposta às três perguntas do plebiscito é NÃO!

(*) José Pascoal Vaz é economista e professor na UniSantos e na UniSanta.

Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão

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