A vida cotidiana, cercada pela pressa, pressão das responsabilidades e, porque não dizer, pela insegurança generalizada, raramente nos permite um caminhar sereno e com mente aberta. A cidade, a rua? Pouco importa! Em todas o conteúdo é esplêndido e os links mais interessantes ainda. A conexão, sempre aberta e rápida, depende unicamente da vontade. A experiência do navegante é fantástica e compensadora. A riqueza de informação desta rede sem fios nem interfaces é simplesmente indescritível.

Outro dia, navegando por uma rua, deparei-me com um cão vadio. Ou seria abandonado? Não sei! Sua pobre homepage não me permitia inferir qualquer informação concreta nesse sentido. Era uma manhã de sábado. Fria, nublada, ainda salpicada pelas poças d’água da chuva fina da noite anterior. Não pude e não quis me deter muito nesse link. Mas seu proprietário já havia rastreado minha conexão e não pude evitar de receber seu e-mail. 

Era uma mensagem estranha. Não se tratava de propaganda invasiva, nem tampouco de um pedido ou corrente vulgar. Era uma frase curta, banal, inclusive já consagrada no correio eletrônico. Dizia apenas: “Obrigado por sua visita”. 

Apesar desta simplicidade quase ridícula, encerrava um protesto e desafio. Algo sutil, ardilosamente programado no espaço-tempo para atingir seus objetivos. Não pretendo lançar mão de explicações ou considerações supra-naturais. Não seria correto. Cada qual que faça sua experiência e tire suas conclusões. Mas aquele pobre bicho, já disforme, sarnento, fétido, de olhar perdido, vazio de dor e de rancor, representou naquele lapso de tempo e espaço todo um Universo de contrastes. 

Não apenas o do senso comum, das mazelas humanas, que atingem até mesmo outros animais. Mas principalmente o contraste entre as forças criadoras e destruidoras de um mundo complexo. A enterna dicotomia do bem e do mal, por si só, um desafio da Criação para a criatura. Uma força que se coloca à nossa frente e nos impulsiona a tentar entendê-la e domá-la. Um Universo de futuros possíveis e passíveis de serem programados pela mente humana. 

A Internet virtual nos leva além daquela rua. Permite-nos ver outros cães e outras mensagens. Este é seu fascínio. Este é o desafio do homem, tão mais belo e poderoso quanto maior o número de links entre os dois mundos.

(*) Cesar Boschetti é tecnologista no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos/SP. O texto foi divulgado em 3/9/2000 através da lista eletrônica de debates sobre negócios Widebiz.