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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/19/00 15:38:10
O fim do livro - II 

Mário Persona (*)
Colaborador

Estive respondendo a alguns e-mails que comentavam meu último artigo (O Fim 
do Livro). Achei que minha resposta poderia acrescentar algo, por isso estou disponibilizando um complemento ao artigo. Mas o assunto está longe de ser esgotado...
A mudança de gerações é muito rápida (morrem os leitores de livros, nascem 
leitores de monitores e handhelds) e os custos de produção de livros pode aumentar (no modo tradicional) e diminuir (para produção caseira). Impressoras que encadernam podem se tornar comuns e conviver com dispositivos de leitura. Mas isto não resolve o problema, apenas permite produzir livros convencionais piratas.

A revolução deve acontecer com mais força no Hemisfério Norte. O brasileiro ainda lê muito pouco. O problema não é tanto da competição do livro eletrônico com o livro convencional. O problema maior é o do sustento dos autores, editoras e livrarias em um mundo onde fica cada vez mais fácil surrupiar a propriedade intelectual.

Na verdade ninguém sabe ainda como ficará este mercado. Mas é certo que grandes mudanças ocorrerão, pois não será possível proteger o direito autoral com a facilidade de cópia e distribuição que a Internet trouxe.

Aumento - Na ultima pesquisa da IDG sobre o consumo de CDs e o surgimento do MP3, a enquete mostrou que o consumo de CDs aumentou. Será que as pessoas não teriam deixado de comprar CDs por causa da tecnologia do MP3? Existe sempre uma inércia no mercado. O MP3 ainda é dominado por meia dúzia de usuários de micro e Internet, que sabem como buscar, salvar, converter, gravar um CD etc. O tocador de MP3 ainda não é tão popular quanto um radinho de pilha. Teremos modelos que farão a busca direto na Internet e salvarão os arquivos.

O problema que está ocorrendo com a música (gravadoras) é apenas o começo. O cinema estará ameaçado com a Internet de alta velocidade e sistemas mais eficientes de compactação de arquivos. Não é o livro, ou a música ou o filme que está em jogo. É toda a produção intelectual.

Modismos como o livro Harry Porter podem confundir um pouco quando tentamos olhar para o futuro. Trata-se de uma mania, um novo Pokemon. Crianças querem o livro porque outras crianças têm. Não acredito que isto dê início a uma era de novos leitores. Na minha idade, é a terceira onda de patinetes que vejo. Bambolê, io-iô são ondas parecidas. Amanhã alguém lança o e-book da Xuxa e as crianças correm para lá. Modismos não definem o que será o mercado. É mais sutil. Mas volto ao ponto em que o que corre perigo não é o papel ou o trabalho gráfico. É a propriedade intelectual na forma como a conhecemos.

© não basta - Colocar um "C" (de Copyright) na frente de algo não será suficiente para proteger. Estabelecer penas exemplares (como a do rapaz que pegou 100 anos de cadeia por influenciar na bolsa) também não resolve. Iríamos criar uma polícia mundial tipo "Big Brother", que não seria imune a corrupção. Endurecer a legislação tem efeitos colaterais, como um web-amigo na Austrália. Foi preso, perdeu sua carreira de professor e levou 2 anos para reverter o processo na justiça (agora tenta reaver sua licença para lecionar).

Na Austrália, onde a lei funciona como em lugar nenhum, ele foi acusado de assédio sexual ao colocar a mão no ombro de uma aluna, dentro da classe cheia, pedindo que ela parasse de fazer bagunça e sentasse. A lei dizia que contato físico não solicitado é assédio. Se isso acontece no mundo real, imagine o que pode acontecer no virtual.

Sendo eu um rato de biblioteca e com a experiência de dez anos na área editorial, gostaria que as coisas continuassem como estão. Mas não posso fechar os olhos para as tendências. Só conseguimos enxergar o futuro quando deixamos de lado nossas preferências pessoais.

Para mostrar que o problema está apenas começando, sugiro que leia o que vem por aí com o MojoNation (se o link estiver quebrado, tente entrar no www.no.com.br e no www.mojonation.com). É a institucionalização da compra e venda de propriedade intelectual alheia, com sede nas ilhas Cayman e tecnologia de ponta em criptografia e dinheiro virtual.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates Widebiz.